O ministro dos Negócios Estrangeiros disse esta terça-feira, numa conferência, que gostava que a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE) fosse “lembrada como aquela que reequilibrou a relação com a Ásia”.
A presidência portuguesa “pelo menos tentou expandir a perspetiva europeia, não apenas focando nos parceiros clássicos do Atlântico, mas em zonas mais estratégicas”, vincou Augusto Santos Silva na sessão de encerramento da 5.ª Conferência “Europe as a global actor”, organizada pelo Centro de Estudos Internacionais do ISCTE e pelo Observatório de Relações Exteriores da Universidade Autónoma de Lisboa.
Assim se explica que uma das prioridades da presidência portuguesa — em curso até 30 de junho — tenha sido “redirecionar a atenção europeia para outra parte do mundo”, sublinhou o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
“Não estávamos a prestar atenção suficiente a um ator-chave, a Índia”, constatou, explicando que foi por isso que Portugal fez questão de apostar neste país do Indo-Pacífico, região que “estava muito necessitada” de relações reforçadas com a UE.
O ministro, que falava por videoconferência, apontou três objetivos deste foco no Indo-Pacífico: um, geopolítico, que pretende estabelecer um diálogo político mais regular e intenso entre as duas grandes democracias do mundo; um outro apostado numa parceria para a conectividade (mobilidade e infraestruturas e redes de transporte e comunicações); e a retoma das negociações económicas UE-Índia, suspensas desde 2013.
Além disso, sublinhou, a saída do Reino Unido da UE (Brexit) “deu nova responsabilidade a Portugal, que também tem laços históricos e contemporâneos com a Índia”.
O Brexit veio ainda alterar a relação com o Atlântico Norte, que deixou de ser bilateral (UE-Estados Unidos) para passar a ser “um triângulo”, agora também com o Reino Unido.
Realçando que “um dos principais resultados” da presidência portuguesa é a aprovação, “a tempo”, do novo acordo de comércio e cooperação com o Reino Unido, o ministro adiantou que a UE está a monitorizar o pacto e a acompanhar a situação na Irlanda do Norte.
“Precisamos de uma nova relação com o Reino Unido”, vincou Santos Silva, reconhecendo que “alguns” europeus “ainda não acreditam que o Reino Unido saiu de casa”.
Já com o Atlântico Sul, a relação da UE é “mais sólida e tradicional”, com “ênfase nas relações comerciais e de investimento” com os países da América Latina.
A presidência portuguesa, adiantou ainda o ministro, “está a preparar a próxima cimeira entre UE e União Africana”, baseando-se na evolução de uma relação assistencialista para “uma parceria real, entre duas organizações multilaterais iguais”.