É uma das imagens que está a marcar a chegada massiva de milhares de migrantes ao enclave espanhol de Ceuta: uma voluntária da Cruz Vermelha abraça um migrante senegalês momentos depois deste ter chegado a nado à praia do Tarajal. A fotografia rapidamente se tornou viral nas redes sociais. Mas ao mesmo tempo que suscitou comentários de apoio de utilizadores comovidos, também provocou uma onda de insultos — especialmente do partido de extrema direita espanhol Vox — que levou a jovem espanhola de 20 anos a alterar para privadas as suas contas nas redes sociais que antes estavam públicas, revelou ao canal espanhol RTVE.
Viram que o meu namorado era negro e não param de me insultar e dizer coisas horríveis e racistas de mim”, contou Luna Reyes.
A jovem mostrou até algumas das mensagens que tem estado a receber com insultos xenófobos e sexistas à RTVE. Na terça-feira, 24 horas depois de a fotografia se ter tornado viral, Luna Reyes fez um apelo nas suas redes sociais para que parassem de lhe enviar mensagens. Mas sem sucesso.
Em contrapartida, depois de Luna Reyes ter tornado privadas as suas contas, começou também a surgir uma imensidão de mensagens de apoio. O movimento tem até uma hashtag nas redes sociais: #GraciasLuna (#ObrigadaLuna, em português).
[#GraciasLuna]
Somos una organización en la que hay muchas Lunas,que ayudan a diario a personas como las que llegan a Ceuta.O a Arguineguín.O a Canarias.O que están en tu barrio
En todo el mundo,#EnTodasPartes#Humanidad #Voluntariado #Independencia #Neutralidad
????@BernatArmangue pic.twitter.com/wMOvJCVtEW— Cruz Roja Española (@CruzRojaEsp) May 19, 2021
Em entrevista à RTVE, a jovem de 20 anos desvalorizou o seu gesto: “Dar um abraço a quem pede ajuda é a coisa mais normal do mundo”. Luna Reyes revelou que o migrante estava a “chorar como uma criança, a segurar a mão de um amigo, que estava aparentemente inconsciente”.
Ele estava a chorar, estendi-lhe a mão e ele abraçou-me. Aquele abraço foi a tábua de salvação dele”, descreveu ainda.
Luna Reyes, que está a trabalhar na Cruz Vermelha desde março, contou também que o migrante falou com ela em francês e que começou a contar pelos dedos da sua mão. “Eu não percebi nada, mas estou convencida que ele estava a contar o número de amigos que perdeu no caminho“, acrescentou. A voluntária da Cruz Vermelha revelou ainda que se sente culpada por não ter conseguido evitar que o migrante senegalês fosse levado para outro lado da fronteira. Não ficou a saber o nome dele, mas apenas que veio do Senegal. “O seu olhar perdido fica gravado em mim“, disse.