Associações de moradores de bairros do centro de Lisboa estão “revoltadas” com o regresso dos ajuntamentos noturnos, sobretudo de jovens, para consumo de álcool nas ruas, e temem o aumento de casos de Covid-19 nos próximos meses.

Desde que se iniciou a fase de desconfinamento em Portugal que antigos bairros lisboetas, como o Cais do Sodré e o Bairro Alto, voltaram a receber centenas de jovens e turistas nas ruas e em bares para aproveitarem as noites de convívio, de acordo com associações de moradores contactadas pela Lusa.

A partir das 16:00 já as aglomerações são muitas, os bares estão a funcionar a partir da hora do almoço, com música a debitar para a via pública”, disse Isabel Sá da Bandeira, moradora de um dos bairros e representante da Associação Aqui Mora Gente.

O sentimento de revolta dos moradores agrava-se com o fecho de ruas e cortes de acesso a outras, com o aumento das esplanadas nos passeios, com os “gritos nas ruas até às tantas da manhã” e o cheiro de urina que fica nas ruas depois das noites de festa, frisou.

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Também Luís Paisana, da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia concordou que “tem havido alguns excessos”, sobretudo no Bairro Alto e em São Pedro de Alcântara.

As pessoas estão a ir para a rua e a achar que o risco já é muito pequeno e não querem saber. Principalmente aos fins de semana e agora, com o tempo melhor, há uma tendência para voltar um bocadinho à normalidade, que era, do ponto de vista dos moradores, uma anormalidade, porque havia um excesso de pessoas, bebidas muito baratas e um comportamento às vezes agressivo e muito fora do normal”, salientou.

Luís Paisana descreveu que são sobretudo os jovens aqueles “que têm um comportamento mais extremo”, sem uso de máscara ou sem cuidados, que querem voltar a beber como bebiam antes da pandemia, o que não é compatível com um bairro residencial, nem com um comércio com um mínimo de qualidade.

Já Isabel Sá da Bandeira destacou que “os moradores estão chocados com o que se passa nas ruas”, onde se passou “de oito para 80”. Os moradores compreendem “que as pessoas estejam sequiosas de sair e socializar, mas o que se passa é verdadeiramente chocante, é como nunca tivesse existido um confinamento”, refere Isabel Sá da Bandeira, salientando que, ao ver o que se passa nestes bairros, “é impossível que não haja um aumento dos casos” de Covid-19.

Para a Associação Aqui Mora Gente, as autoridades competentes têm a obrigação de fiscalizar durante o dia, mas sobretudo à noite, os ajuntamentos que colocam em causa a saúde pública e especialmente os residentes dos bairros, o que não tem acontecido.

Por seu lado, Luís Paisana destacou que o controlo do consumo de álcool nas ruas do Bairro Alto é muito difícil.

Os próprios comerciantes tentam controlar isso, mas continua a haver mochileiros a vender garrafas noite fora. As pessoas têm sempre uma forma de continuarem a consumir álcool relativamente barato. Não é fácil”, disse.

Luís Paisana salientou ainda que os moradores têm informado a Junta de Freguesia e a Câmara de Lisboa para “ver se há alguma moderação e se se aproveita a oportunidade da pandemia para que o movimento de pessoas seja mais dentro de porta, com menos quantidade”.

“É uma oportunidade para que alguma coisa mude face ao que acontecia antigamente, o que não quer dizer que não queiramos que não haja comércio ou bares, mas com moderação, com menos concentrações, com equilíbrio. O que sempre quisemos foi o equilíbrio entre moradores, comerciantes e pessoas que vão desfrutar a noite”, reforçou.