Os representantes dos reitores das universidades e presidentes dos politécnicos relataram esta terça-feira que os estudantes aderem cada vez menos aos rastreios à Covid-19, mas no secundário os alunos aceitam ser testados quando é preciso, dizem os diretores escolares.

Em abril, com a retoma das aulas presenciais, as instituições de ensino superior realizaram rastreios na comunidade académica, no âmbito do programa de testagem da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), com o objetivo de assegurar a maior segurança possível no regresso às aulas presenciais.

Depois desse primeiro rastreio, algumas universidades e politécnicos com capacidade laboratorial mantiveram a testagem regular à Covid-19, mas da parte dos estudantes parece haver alguma resistência, conforme noticiou nesta terça-feira o jornal Público.

No caso da Universidade de Lisboa (UL), por exemplo, o vice-reitor João Barreiros disse ao Público que cerca de um terço dos alunos convocados não comparece no momento da testagem, uma resistência que afirma ter vindo a ser crescente.

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Em declarações à agência Lusa, o reitor da Universidade do Porto (UP) não confirma esta tendência, mas apenas porque, da sua experiência, essa adesão nunca foi alta. “A sensação que posso transmitir é que não houve propriamente uma redução, porque nunca houve uma afluência alta“, relatou António de Sousa Pereira, que diz não ter noção daquilo que se passa a este nível nas restantes universidades.

Recordando os vários rastreios realizados naquela instituição desde o ano passado, o também presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) refere que a taxa de adesão entre a generalidade da comunidade académica foi sempre mais baixa em comparação com o esperado e desejado.

No Instituto Politécnico de Setúbal, presidido por Pedro Dominguinhos, são sobretudo os estudantes quem falha a convocatória e a tendência também tem sido o agravamento da situação. “Quando comparamos com a primeira fase, com aquela testagem massiva, houve uma redução drástica”, refere Pedro Dominguinhos, que é também o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP).

Sem conseguir confirmar se o mesmo se verifica em outros politécnicos, Pedro Dominguinhos refere que em Setúbal a adesão à testagem, que é semanal e através de uma convocatória aleatória, se situa atualmente nos 15%, muito abaixo dos números registados na retoma das aulas presenciais.

Além do ensino superior, também nas escolas básicas e secundárias a reabertura se fez acompanhar de rastreios à Covid-19, que decorreram em todas os estabelecimentos de ensino durante as primeiras semanas de atividades. Estes rastreios, que só envolveram os alunos a partir do 10.º ano, repetiram-se nos concelhos com maior incidência, mas a experiência relatada pelos diretores escolares é diferente.

“A ideia que eu tenho é que há uma boa parte dos alunos que resiste um pouquinho, mas fazem os testes quando é preciso”, disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) Manuel Pereira, explicando que essa resistência é apenas falta de vontade, sem tradução para uma recusa efetiva que, não sendo inexistente, é muito rara.

Falando em casos concretos, o presidente de outra associação representativa dos diretores escolares relata a mesma tendência. Em escolas dos concelhos de Cascais, Castelo de Paiva, Porto e Vila Nova de Gaia, que o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) auscultou nesta terça-feira, a adesão dos estudantes aos rastreios realizados foi significativa.

“Os alunos aderiram bastante à testagem, a grande maioria participou”, afirmou Filinto Lima, precisando que na generalidade daqueles estabelecimentos de ensino a adesão dos jovens rondou os 90%, ou mais em alguns casos.

No entender dos dois diretores, as famílias e as próprias escolas também têm um papel importante para este resultado, através da sensibilização dos alunos para a importância de realizarem os testes de diagnóstico. “Nós temos todos estado a trabalhar para que eles percebam que, desta vez, os seus atos podem ter influência nas próprias famílias”, sublinhou Manuel Pereira, acrescentando que os jovens “podem não gostar, mas o que está em causa é também proteção das suas famílias”.

Rui Martins, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) reconhece igualmente e importância das famílias em todo este processo, defendendo que devem chamar a atenção dos seus filhos para a necessidade de participarem no combate à pandemia, incluindo a este nível. “As famílias têm de falar de forma assertiva e construtiva, de modo a todos combatermos este vírus”, disse, referindo ainda que “ninguém gosta de fazer testes”, mas é necessário fazer ver aos jovens que esse é um mal necessário a que ninguém se deve escusar.

Do lado do ensino superior, o trabalho de sensibilização será também uma prioridade das instituições, segundo os presidentes do CRUP e do CCISP, que reforçaram o apelo à responsabilidade individual dos estudantes, dentro e fora do campus.