A Cerâmicas Aleluia, empresa de Aveiro que o Novo Banco retomou à Prebuild de João Gama Leão, era o único ativo com algum valor que o grupo tinha. E ainda assim, “estava desnatada”, as contas estavam “empoladas” para esconder uma “gestão danosa” durante três anos, afirmou este terça-feira, o diretor do departamento de recuperação de créditos a empresas do Novo Banco.

Daniel Santos, que foi ouvido na comissão de inquérito às perdas do Novo Banco, contou uma versão muito diferente da partilhada com os deputados algumas semanas antes pelo empresário que foi alvo de uma execução pessoal por parte do banco. E explica porque é o banco não teve confiança no empresário para tentar salvar o grupo.  O responsável afirmou que quando foi feita a negociação da dívida de 300 milhões de euros as garantias dadas pela Prebuild tinham pouco valor face ao montante em causa. A Cerâmicas Aleluia era a única empresa que “se mantinha viva depois da hecatombe”.

Reconhecendo que a fábrica já tinha problemas antes de passar para a esfera da Prebuild em 2012 (segundo Gama Leão por pressão do então Grupo Espírito Santo), adianta que havia a perceção nesta fase de que este grupo tinha capacidade de exportação que poderia recolocar a empresa em melhores condições. Mas isso não se terá verificado, e quando a empresa voltou em 2014 a ser analisada pelo departamento de recuperação de créditos, a empresa estava “desnatada”.

As vendas de exportações realizadas para outras empresas do grupo não tinham sido pagas, contou à deputada do PSD, Mónica Quintela. As contas estavam “empoladas” com uma sobrefaturação de 19 milhões de euros” que teriam como objetivo esconder “uma gestão danosa” nos anos anteriores. E até os trabalhadores terão pedido ao banco para atuar de forma a garantir a continuação da empresa. O banco executou o ativo e tentou encontrar um comprador rapidamente para manter a empresa que, apesar dos problemas, tinha mercados e marcas boas.

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Daniel Santos indicou ainda que não havia mais nada para executar ao grupo Prebuild, para além do dono que foi declarado insolvente. “Fizemos pesquisa, mas não havia mais nada para ir buscar, foi dramático para o banco”.

Prática do grupo para financiar exportações para Angola “não nos merecia confiança”

O diretor do Novo Banco foi ainda confrontado pelo deputado comunista, Duarte Alves com a versão dada por Gama Leão na mesma comissão quando este acusou o banco de não querer reestruturar a dívida para salvar o grupo Prebuild, estando apenas interessado em executar as Cerâmicas Aleluia. Daniel Santos diz que a proposta de reestruturação feita pelo empresário passava por capitalizar a dívida e não pagar juros. “Era o melhor dos mundos” e até “poderia ser o melhor para a empresa”, mas não era o caso. E avançou as razões pelas quais o grupo não tinha a confiança do grupo.

Quando a Prebuild chegou ao departamento de incumprimento em 2014 — onde estava então Daniel Santos — verificou-se que a empresa usava uma figura de cartas de crédito para exportar para Angola. Compravam materiais de construção em Portugal e exportavam para as empresas do próprio grupo que tinham obras em Angola. “Até podia ser virtuoso”, mas constatou-se que não seria assim, pelo menos para o Novo Banco. A Prebuild abria cartas de crédito no BESA (banco do BES em Angola) para importar de Angola que só tinham valor se a exportações fosse feita. O BES tinha dado um pré-financiamento de 200 milhões de euros ao grupo com base nessas cartas, mas dos 200 milhões financiados só foram exportados 40 milhões de euros. Se foi mais, terá sido efetuado por outros bancos.

“Era uma prática que não nos merecia a mínima confiança. Qual era a credibilidade para reestruturar?”.