Apesar de muitos países europeus terem tentado atrair a Gigafactory europeia da Tesla, Portugal incluído, Elon Musk decidiu-se pela Alemanha. Não só é o maior país do Velho Continente, como possui a economia mais forte e os construtores mais poderosos, bem como os fornecedores mais respeitados. Para a decisão muito contribuíram também os apoios avançados pelo Governo germânico, que se desdobrou em garantias. Mas isso não impediu o projecto de enfrentar alguns obstáculos.

Houve ambientalistas que se opuseram à construção da fábrica num dos terrenos pré-sinalizados pelo Governo nos arredores de Berlim, por alegadamente pretenderem proteger as árvores, os lagartos e as cobras da região – dificuldades pelas quais, aparentemente, não passam os construtores locais. Resolvidos o problema dos animais, surgiram os derivados do consumo excessivo de água, numa fábrica em construção e, após uma série de outras contrariedades, a suspeição de fogo posto nos cabos eléctricos das instalações, cuja construção continua a derrapar.

“Colocar Elon Musk de joelhos”, defende jornal

A mais recente demonstração de hostilidade dos alemães, pelo menos de alguns, para com o construtor norte-americano que está a fazer a vida negra aos locais, no que respeita à aventura eléctrica, foi dada por um dos mais respeitados jornais germânicos, o Frankfurter Allgemeine. O artigo assinado pelo editor de economia Daniel Mohr deixa muito pouco à imaginação, logo no título: “How to bet against Elon Musk”.

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Incitando os leitores a apostar contra Musk ou, mais precisamente, a Tesla, Mohr ensina-lhes as várias formas de apostar contra o fabricante norte-americano, recorrendo, entre outras soluções, ao short selling. Muitos já o fizeram no passado, com bastante sucesso, mas nos últimos tempos deixou de ser uma solução lucrativa. Basta visitar o site da CNN, onde salientaram que os short sellers contra a Tesla perderam mais dinheiro em 2020 do que toda a indústria aérea norte-americana.

Se isto indicia que Mohr não é um ás a jogar na bolsa, mais estranho é um jornalista (de economia) ficar algures entre o furioso e o desesperado por, como afirma, a Tesla ser valorizada em 550 mil milhões de dólares, contra 80 mil milhões da Daimler. O jornalista declara-se espantado pela diferença de valores entre os dois construtores, face à diferença entre os lucros e veículos produzidos por ambos.

A angústia de Mohr não teria lugar, caso tivesse presente que o valor em bolsa decorre de expectativas e do que os investidores acreditam que a empresa pode vir a conseguir. Só assim se explica que a Ferrari, que transacciona pouco mais de 10 mil unidades por ano, tenha um valor em bolsa próximo de metade da Daimler, ou que a Volkswagen AG, que comercializa quase 10 milhões de veículos anualmente, mais 357% do que a Daimler, valha apenas 65% mais em bolsa.