O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, recusou responder na mesma moeda aos reparos da líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, sobre a forma como o socialista criticou o presidente do grupo Ryanair, Michael O’Leary.

Na quinta-feira, no programa Circulatura do Quadrado, transmitido pela TSF e TVI, a socialista foi particularmente dura com Pedro Nuno Santos, chegando mesmo a recomendar “bom senso” e “sensatez”.

“Eu não gosto de ver ataques como os que foram feitos pela Ryanair, mas não acho que reagir de forma mais truculenta resolva problema nenhum, antes pelo contrário. E, por isso, maior recato ou sensatez, bom senso, nestas reações. [Pedro Nuno Santos] não se pode pôr no mesmo patamar porque é ministro. Tem uma responsabilidade acrescida e, sobretudo, tem que haver aqui alguma ponderação e alguma sensatez na forma como se reage”, defendeu Ana Catarina Mendes.

Ora, esta segunda-feira, confrontado com as críticas da líder parlamentar do PS, Pedro Nuno Santos cortou a eito e disse que seria “incapaz de criticar em público um camarada”.

“Não gosto de deixar ofensas ao Estado português sem resposta”

Quanto ao resto, Pedro Nuno Santos manteve o essencial das críticas que fizera ao responsável pela Ryanair.

“Eu não gosto de deixar ofensas ao Estado português e ao Governo sem resposta. Nem todos compreendem que um Estado e um Governo também têm de se dar ao respeito. Mas isso é a forma como cada um de nós encara a vida política”, afirmou Pedro Nuno Santos à margem da apresentação do novo navio da CV Interilhas “Dona Tututa”, que decorreu no Estaleiro Navaltagus, no Seixal, distrito de Setúbal.

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A 26 de maio, durante uma reunião, por videoconferência, com o ministro das Infraestruturas, o presidente do grupo Ryanair, Michael O’Leary, lamentou que o Governo português esteja a “desperdiçar” o dinheiro dos contribuintes na TAP, defendendo que deveria ser aplicado em escolas, hospitais e outras infraestruturas, como o aeroporto do Montijo, em vez de numa “companhia aérea falhada e com preços elevados”.

O ministério de Pedro Nuno Santos reagiu em comunicado, nesse mesmo dia, afirmando não aceitar “intromissões nem lições” da Ryanair. Garantindo que o investimento na TAP é “estruturante”, lamentou que a companhia irlandesa esteja a aproveitar-se de uma “situação difícil” e vincou que a “Ryanair é uma empresa privada e que não tem de interferir nas decisões soberanas tomadas pelo Governo português”.

Já esta segunda-feira, quando questionado pelos jornalistas sobre este tema, o ministro salientou que um país como Portugal “não se pode dar ao luxo de perder empresas que exportam 3.000 milhões de euros”, como é o caso da TAP.

“Nós não somos a Suíça, nem a Noruega, para podermos, sem esforço, dar-nos ao luxo de perder empresas com esta dimensão. Nós somos um país com grandes dificuldades em matéria de balança de pagamentos, não podemos perder uma empresa que exporta 3.000 milhões de euros num ano normal. E é esse esforço estamos a fazer”, sustentou.

Rejeitando que ao injetar capital na TAP o Governo esteja “a gastar dinheiro”, Pedro Nuno Santos disse tratar-se, antes, de “um investimento numa empresa que é fundamental para a economia portuguesa e que liga Portugal ao mundo”.

“A TAP é a primeira companhia aérea europeia – não é só portuguesa, europeia – a ligar a Europa ao Brasil e a mais de 10 países da África Ocidental. Este é um esforço que nós estamos a fazer conscientes de que aquilo que a TAP dá à economia nacional é muito mais do que aquilo que nós estamos a investir nela”, defendeu.

Para o ministro das Infraestruturas e da Habitação, os portugueses deviam ter “mais orgulho” no seu país: “Não podemos aceitar ligeiramente que um empresário, mesmo que grande empresário, possa dizer o que quer sobre um Governo e esperar do mesmo Governo o silêncio. Isso não é um país dar-se ao respeito. Nós seremos mais respeitados no mundo se nos dermos ao respeito”, considerou.