A criação do Novo Banco e a sua venda em 2017 acabaram por ser uma “história de sucesso” depois da “tragédia” que foi a gestão do Banco Espírito Santo no tempo de Ricardo Salgado, defendeu o presidente não executivo do BPI, Fernando Ulrich, esta terça-feira no Parlamento.

A opinião manifestada por Ulrich não estará em grande sintonia com a da maioria dos deputados da comissão parlamentar de inquérito às perdas do Novo Banco imputadas ao Fundo de Resolução, um objeto que vai no sentido contrário do que defendeu o banqueiro. Ulrich foi chamado como perito do setor bancário por um grupo parlamentar, o PSD, e só este e o PS colocaram perguntas ao homem que foi presidente executivo do BPI até 2017 e que tem sido uma presença frequente em inquéritos parlamentares à banca.

Novo Banco. “Foi melhor ter resolvido por fases” em vez de meter mais dinheiro no início, diz Ulrich

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O essencial da sua audição foi dito logo na intervenção inicial e começou com estas contas: Até agora, o Novo Banco gastou 16,4 mil milhões de euros em capital para absorver perdas, entre os capitais próprios que existiam no BES, o empréstimo inicial de 4.900 milhões, uma injeção de 1.000 milhões da Lone Star, os 2,5 mil milhões dos credores e os mais de 3 mil milhões que o Fundo de Resolução tem vindo a injetar. No total, o banco recebeu mais de 12 mil milhões de euros desde a resolução do BES.

Ulrich colocou a questão, para depois dar ele a sua resposta. “A grande questão é: estes 16,4 mil milhões de capital gastos no Novo Banco devem-se a decisões antes ou depois da resolução?” Para o presidente do BPI, a parte mais significativa das perdas deveu-se a decisões antes da resolução, ou seja do BES, e não às decisões tomadas pelo Governo, pelos supervisores ou pela gestão do banco depois de agosto de 2014.

O banqueiro afirmou que, logo nessa altura, teve a perceção de que os 4,900 milhões de euros do capitalização inicial do Novo Banco eram insuficientes. “Infelizmente tive razão”. Mas ainda sobre a dimensão das necessidades, Fernando Ulrich nem quer pensar nas consequências de se saber na altura (em 2014) que seria preciso mais do dobro. “Ter imposto ao Fundo de Resolução meter mais dinheiro poderia provocar uma crise sistémica. Exigir mais aos credores poderia ser delicado dada a dependência de Portugal dos mercados de dívida. Impostos era muito difícil”.

Por isso, defendeu que “foi melhor o problema ter sido resolvido por fases. Se foi estratégia ou não, não é relevante”. Em jeito de conclusão antecipada dos trabalhos da comissão de inquérito, o presidente do BPI afirmou também que depois da “tragédia causada pela gestão do BES, seguiu-se uma história de sucesso”, mas com um senão. O banqueiro lamentou várias vezes que o esforço de capitalização do Novo Banco tenha sido injustamente distribuído. “Os credores do BES foram claramente beneficiados em comparação com acionistas dos outros bancos bancos e, eventualmente os contribuintes”. Admitiu, contudo, que a situação de fragilidade de Portugal em 2014 não terá permitido fazer mais. 

Fernando Ulrich escusou-se a responder a questões concretas sobre a execução do contrato de venda do Novo Banco. E até indicou que se o comprador fosse o BPI (que estudou a operação, mas nunca chegou à fase de apresentar uma proposta) teria sido mais exigente nas condições colocadas. A Lone Star exigiu uma garantia (que foi redesenhada no mecanismo de capital contingente) que cobrisse as perdas geradas pelos ativos de risco do tempo do BES que ficaram do lado do Novo Banco. “Comparando a proposta da Lone Star com a hipótese de proposta do BPI acho que foi bem vendido” nas condições em que foi, sintetizou.

Sobre se a gestão do Novo Banco tomou decisões para potenciar perdas e aumentar pedidos de capital, Fernando Ulrich desconhece. Mas alerta para a imposição que os reguladores fazem aos bancos de venda de carteiras de crédito malparado para reduzir os rácios de NPL, o que resulta na transferência de ganhos para os fundos que compram os ativos com um grande desconto. Apesar da crítica “construtiva”, o gestor defendeu a supervisão portuguesa e europeia que descreveu como “fortíssimas, competentes, independentes e muito intrusivas”.

Fernando Ulrich foi ainda questionado sobre as posições críticas que assumiu na altura face à resolução. Não se lembra de ter defendido a nacionalização (o que terá feito, segundo uma entrevista ao Jornal de Negócios, citada por Duarte Pacheco, do PSD), mas assume que apoiava a liquidação do BES. Isto porque estava a defender os interesses do BPI e esta opção pouparia o esforço financeiro do Fundo de Resolução (que é financiado pelos bancos) e permitiria ao banco ganhar clientes ao banco liquidado.

Mas a resolução e posterior venda “foi uma decisão que defendeu o interesse público e se há uma falha que lhe aponto hoje é que deveria ter havido uma contribuição maior dos credores do banco”.