O Banco de Portugal reviu em forte alta, nesta quarta-feira, as projeções de crescimento económico para este ano e para os próximos. Se em março se antevia um crescimento de 3,9% em 2021, agora prevê-se um aumento de 4,8%. Também os próximos anos serão de crescimento rápido, de acordo com o regulador: 5,6% em 2022 e 2,4% em 2023 – “a economia recupera o nível de 2019 na primeira metade de 2022“, antecipa o organismo liderado por Mário Centeno.

Em comunicado de imprensa, difundido à hora em que Mário Centeno chamou os jornalistas para uma conferência, o Banco de Portugal diz que “o perfil do crescimento económico reflete uma reação mais rápida do que esperado ao levantamento das restrições a partir de março”. “Esta melhoria é extensível à procura externa e ao investimento”, acrescenta o Banco de Portugal, notando que a “recuperação tem subjacente o controlo da pandemia, incluindo avanços na vacinação, e a manutenção dos apoios das políticas económicas, que mitigam os efeitos permanentes da crise na capacidade produtiva”.

O crescimento do PIB em 2021-23 será superior ao da área do euro. No final do horizonte de projeção, o crescimento acumulado da atividade face a 2019 será semelhante em Portugal e na área do euro. O ritmo de recuperação será diferenciado entre países, condicionado pela evolução da pandemia, pela estrutura produtiva e pela escala e eficácia das medidas de apoio, com destaque para o impacto do Next Generation EU”, indica o supervisor.

Qual era a anterior previsão do Banco de Portugal?

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A 26 de março, quando o Banco de Portugal divulgou o último boletim económico trimestral, foi reiterada a projeção anterior de um crescimento de 3,9% para a economia portuguesa em 2021. Por outro lado, apontava-se para uma subida do PIB de 5,2% em 2022 (face aos 4,5% que tinham sido previstos em dezembro do ano passado). Para 2023, tal como agora, previa-se um crescimento de 2,4%.

A expectativa do Banco de Portugal é que o consumo privado irá crescer 3,3% em 2021 e em 2022 o aumento será ainda mais veloz: 4,9%, “ano em que retoma os níveis pré-pandémicos”, antecipa o regulador.

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Quando ao investimento, outro indicador crucial para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), este deverá ter um crescimento médio anual de 7% neste período de projeções do Banco de Portugal.

A componente empresarial deverá crescer 6,4% em média anual, suportada pelas condições financeiras favoráveis, pelos fundos europeus, pela recuperação da procura e pela gradual redução da incerteza. O investimento público apresenta um crescimento mais elevado, cerca de 20% em média, refletindo a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência, que representa cerca de 30% do investimento público previsto em 2022-23″, afiança o Banco de Portugal.

No que diz respeito às exportações, a nova projeção do Banco de Portugal aponta para um “crescimento de cerca de 14% em 2021-22” embora “com diferenças marcadas entre bens e serviços”. Se, por um lado, “as exportações de bens recuperam os níveis pré-crise logo na segunda metade do ano de 2020″, por outro “a recuperação das  exportações de serviços será mais lenta [turismo, essencialmente], ficando mesmo abaixo do nível de 2019 no final do horizonte de projeção”, isto é, não recupera antes de 2023.

No mercado de trabalho, projeta-se um aumento do emprego de 1% em termos médios anuais em 2021-23. A taxa de desemprego aumenta ligeiramente em 2021, para 7,2%, e decresce nos anos seguintes, atingindo 6,8% em 2023″, diz o Banco de Portugal.

E há maior risco de todas estas projeções ficarem abaixo do que agora é previsto ou acima? O Banco de Portugal acredita que maior probabilidade tem um crescimento ainda mais rápido do que o antecipado. “O balanço dos riscos em torno das projeções para a atividade é enviesado em alta em 2021-23, com destaque para o risco ascendente decorrente da utilização das poupanças das famílias acumuladas durante o período da crise”, diz o Banco de Portugal, contabilizando em 17,5 mil milhões de euros essa poupança que não estava prevista em 2019.

Porém, “a atividade no médio prazo deverá registar uma perda, ainda que contida, face ao projetado antes da crise em resultado dos efeitos mais duradouros em alguns segmentos da economia. A recuperação da economia no horizonte de previsão assume a não retirada abrupta das políticas orçamental e monetária, devendo os apoios ser adaptados à evolução da crise”, conclui o regulador liderado por Mário Centeno.