A decisão marca o fim de uma era, uma era de corpos esculturais, de desfiles espetaculares, de soutiens avaliados em milhões e, claro, de muitos pares de asas, incluindo o usado pela portuguesa Sara Sampaio durante os últimos anos. Este capítulo na história da moda americana, mas também na do entretenimento, terminou na última quarta-feira, com o anúncio de que uma renovação na comunicação e no posicionamento da Victoria’s Secret terminaria com a extinção dos famosos anjos.

Segundo o The New York Times, este grupo de manequins de topo, do qual fazem parte nomes como Behati Prinsloo, Jasmine Tookes, Lais Ribeiro, Martha Hunt, Elsa Kosk, Romee Strijd e Candice Swanepoel, deixará de representar a marca de roupa interior feminina. Serão substituídas por um novo núcleo de embaixadoras, mulheres cujas conquistas falam mais alto do que as medidas dos seus corpos.

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A futebolista Megan Rapinoe, de 35 anos é uma das novas embaixadoras da Victoria’s Secret © Getty Images

Entre elas estão Megan Rapinoe, futebolista e ativista pela igualdade de género, Eileen Gu, atleta chinesa prestes a estrear-se nas olimpíadas de Tóquio, a manequim plus size Paloma Elsesser, e ainda Priyanka Chopra, atriz e empresária na área tecnológica, num total de sete novas personalidades que constituirão um grupo chamado VS Collective.

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“Numa altura em que o mundo estava a mudar, fomos demasiado lentos a responder a isso. Tínhamos de parar de agir em função do que os homens queriam e começar a pensar no que as mulheres querem”, afirmou Martin Waters, nomeado em fevereiro como diretor executivo da marca.

A Victoria’s Secret esteve debaixo de fogo nos últimos anos, primeiro devido às críticas que apontavam falta de diversidade, mais tarde com denúncias de assédio sexual que comprometiam o ex-diretor de marketing Ed Raze,  um dos responsáveis por uma engrenagem que funcionava à base de anjos, estrelas e corpos considerados ideais de beleza e perfeição. O lugar é agora ocupado por Martha Pease, uma peça fundamental na atual mudança pela qual a marca está a passar.

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A manequim Paloma Elsesser também se junta à nova VS Collective © Getty Images for Savage X Fenty

Em novembro de 2018, altura em que foi transmitido aquele que viria a ser o último grande desfile da marca, ecoavam as primeiras notícias sobre a fragilidade do império. A quebra nas vendas traduzira-se então numa descida de 41% no preço das ações nesse mesmo ano. Consequências imediatas? O encerramento de mais de 50 lojas em 2019. A Victoria’s Secret tem, atualmente, 1.400 lojas em todo o mundo, emprega cerca de 32 mil pessoas e conta com um volume de vendas anual de cinco mil milhões de dólares, cerca de 4.130 milhões de euros.

A nova Victoria’s Secret não apresenta apenas novas caras. Além das embaixadoras, que protagonizarão campanhas, mas que também terão funções enquanto consultoras, também a direção executiva mudou. Em formação, o conselho de administração incluirá apenas um elemento masculino.

O grupo apelidado de VS Collective incluirá ainda a manequim transexual brasileira Valentina Sampaio, que já em 2019 havia sido contratada uma tentativa de melhorar a imagem da marca, a modelo sul-sudanesa Adut Akech e ainda Amanda de Cadenet, fotógrafa de 49 anos e criadora da Girlgaze, uma plataforma digital de fotografia feita apenas por mulheres.

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A manequim transexual Valentina Sampaio também reforça o novo núcleo de embaixadoras da marca © Theo Wargo/Getty Images

Quanto ao desfile, cujos contornos aparatosos e mediáticos tiveram origem em 1995 (embora a marca tenha nascido bem antes, em 1977), os novos dirigentes apontam 2022 como o ano de regresso. Para breve, está o lançamento de um podcast que dará voz a cada uma das novas embaixadoras da Victoria’s Secret.