Na antevisão da partida contra a Alemanha, Fernando Santos tinha deixado desde logo a pista para Portugal conseguir ter sucesso: posse de bola. “O jogo da profundidade da Alemanha, mesmo em ataque organizado, surpreende os adversários com passes do Kroos, por exemplo. O jogo é repartido entre ter bola e não ter bola ou transições. Uma arma fundamental é ter bola e obrigá-los a estar longe da baliza”, disse o selecionador nacional, ainda esta sexta-feira, antes do último treino. Ora, ter bola e obrigar os alemães a estar longe da baliza de Rui Patrício foi tudo o que Portugal não conseguiu fazer.

A vida anda e adapta-se mas há coisas que não mudam. E no final, entre nós e eles, continuam a ganhar eles (a crónica do Alemanha-Portugal)

Na conferência de imprensa depois do jogo, ainda no Allianz Arena, Fernando Santos analisou a partida, assumiu a responsabilidade e garantiu que a equipa terá de “ver o jogo com atenção, perceber o que não esteve bem”. “A questão da posse de bola foi um dos aspetos, seguramente. O outro foi não conseguir recuperar, tivemos muita dificuldade em recuperar. Não conseguimos ter a bola e não parámos o adversário, claro que tivemos algumas dificuldades. Essa análise é que vamos ter de fazer. Vou ter de conversar com os jogadores e perceber o que é que temos de fazer de forma diferente”, explicou o selecionador nacional.

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“Nos primeiros 25 minutos estivemos mais ou menos, mas já aí faltava alguma coisa em relação àquilo que depois foi aumentando, que é a capacidade de lutar pela posse de bola. A equipa tentou chegar à bola, recuperou bolas, importunou o adversário… Nessa primeira fase estivemos mais ou menos. Mas depois existiu a paragem [para beber água, devido ao calor intenso] e a equipa baixou linhas, deixou o adversário circular. E, pior que isso, ficou um bocadinho a ver. O lateral esquerdo [Gosens], que era um jogador que conhecíamos bem, acabou por ter influência em três golos”, explicou Fernando Santos, que deixou desde logo uma ideia sobre o que será necessário na antecâmara da partida decisiva contra França, numa altura em que o Grupo F ainda está totalmente em aberto.

“Depois de uma derrota é preciso ter a cabeça fria, pensar, falar com os jogadores. Temos de manter a serenidade porque temos um jogo muito importante com França. E perceber que Portugal é uma excelente equipa, tem grandes jogadores, mas não se pode pensar que os outros são todos piores do que Portugal, porque isso não é verdade. Temos de baixar os pés e ser capazes de ganhar noutras coisas que não só a capacidade técnica, porque se perdermos sempre a bola nem a capacidade técnica nos vale”, atirou o selecionador, referindo principalmente que Portugal fez apenas duas faltas durante a primeira parte, algo que considera “impossível”.

“Portugal passou a ser mais respeitado. Mas não vamos do 8 ao 80, é a Alemanha na Alemanha”, lembra Fernando Santos

Mais à frente, Fernando Santos acabou por comentar a entrada positiva de Renato Sanches, que entrou ao intervalo e acabou por oferecer uma nova agressividade à equipa. “Se eu fosse fazer uma análise séria ao jogo, obviamente que depois o Renato teve essa capacidade. Uma coisa que eu disse aos meus jogadores ao intervalo é que jogar com a Alemanha e ter duas faltas é impossível no futebol. Nunca vi. Isso mostra, na minha opinião, alguma coisa. O que tentei com a entrada dos outros jogadores, o Renato, o Moutinho, foi que emprestassem ao jogo uma outra agressividade, outra capacidade de disputar os lances. Se não tivermos capacidade para ganharmos duelos individuais dificilmente podemos pensar em sonhar alto. Isso foi sempre a grande matriz desta equipa. Nunca Portugal, desde que eu sou selecionador nacional, sofreu quatro golos”, acrescentou. Em seguida, comentou então a facilidade que Gosens, que marcou um golo e fez duas assistências, teve para trabalhar nas costas de Nélson Semedo.

“Foi por isso que jogámos com uma linha de quatro, porque a equipa alemã colocava sempre os avançados muito dentro. Eles tinham muita gente dentro mas atacavam sempre por fora. À esquerda estivemos bem, à direita tivemos mais dificuldade. O movimento de aproximação não foi bem feito. Mas a responsabilidade é minha e não há nada dessas questões individuais”, explicou o selecionador, sem querer falar especificamente da exibição do lateral do Wolverhampton.