Depois de António Oliveira ter anunciado a desistência da candidatura pelo PSD à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, com fortes críticas, a Concelhia do PSD/Gaia, liderada por Cancela Moura, reagiu esta segunda-feira e afirma que não se trata de uma desistência mas sim de “falta de comparência”, argumentando que o antigo selecionador nacional reuniu uma única vez com a Concelhia do PSD e que “nunca reuniu com a concelhia do CDS, nem conhece qualquer dirigente do PPM”.

Em conferência de imprensa — a “primeira e única vez” que se decidiu “quebrar o silêncio” para comentar a decisão do ex-candidato –, o PSD/Gaia não poupou nas críticas a António Oliveira e à forma como, ao longo destes três meses, agiu perante a sua candidatura. “Nunca apresentou uma única ideia, nunca partilhou uma única proposta, nunca mostrou uma visão para Gaia”, afirma Cancela Moura, que acusou ainda António Oliveira de adiar, “por três vezes” a própria apresentação pública da sua candidatura.

António Oliveira foi anunciado como candidato a 23 de março. Após muitos pedidos e insistência, o que incluiu a intervenção direta de Rui Rio, o protocandidato reuniu uma única vez com a concelhia do PSD, mês e meio depois de ter sido anunciado e, depois de mais um conjunto de diligências, com os candidatos às Juntas de Freguesia, dois meses depois do anúncio público da sua candidatura”, acrescenta o líder da Concelhia.

Relembrando as palavras que António Oliveira escreveu numa carta aberta, Cancela Moura vai mais longe e garante: “Ao contrário do que afirma o ex-candidato, quem foi vítima de pressões, intimidações e ameaças fomos nós“, sublinhando que “da única vez que [António Oliveira] reuniu com a Concelhia do PSD, perante uma plateia de gente que não conhecia, os distratou, provocou e insultou de forma gratuita” e afirmando ainda que o antigo selecionador nacional tomou decisões “à revelia dos órgãos legitimamente eleitos”.

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Segundo a concelhia do PSD, também Rui Rio, que escolheu pessoalmente o nome de António Oliveira para encabeçar a candidatura a Gaia, foi apanhado de surpresa com esta decisão. “Ainda na sexta-feira passada, de forma premeditada, ao mesmo tempo que prometia pessoalmente a Rui Rio ponderar as condições para continuar como candidato promovia, sem aviso prévio, a divulgação de uma carta aberta, à comunicação social, para dar o dito pelo não dito”, explica Cancela Moura, acrescentando que António Oliveira teve “uma absoluta falta de caráter, um lamentável ato de hipocrisia”.

Caro António Oliveira, o tempo que privamos consigo foi tão escasso que não haverá segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão”, afirmou ainda, acrescentando: “Desistir foi o melhor que poderia ter feito a Gaia. A vergonha seria maior se, depois de formalmente apresentado, desistisse à primeira contrariedade”.

Sobre o processo que se segue, Alberto Machado, presidente da distrital do PSD do Porto, explica que nas próximas semanas será pensado e discutido um novo candidato do PSD a Gaia, admitindo “perplexidade” com o que aconteceu com António Oliveira — uma candidatura que considerou ser “um erro de casting”. “Eu próprio cresci a admirá-lo, quer como jogador de futebol quer como selecionador nacional e este comportamento foi uma desilusão porque o tinha em bastante boa consideração e não esperava uma atitude destas”, afirmou, destacando que a desistência vem dar “algum alívio” para que se comece a trabalhar.

Já sobre a possibilidade de Cancela Moura poder vir a ser o candidato a Gaia (como aconteceu em 2017), o líder da estrutura local considera que “é precipitado qualquer tipo de decisão” neste momento, atribuindo essa função a Rui Rio. Mas, garante, o partido está a fazer “um grande esforço” para “manter a dignidade” em tudo o que aconteceu, apelando à “coesão interna” na Concelhia.

Há coisas que temos vergonha de divulgar publicamente. Temos tudo documentado: dias, horas, factos. Nós, por vergonha alheia, e por sermos gente íntegra e séria e sabermos do prejuízo político que algumas coisas podem causar à candidatura, não revelaremos mais do que aquilo que é digno de se revelar”, salienta Cancela Moura.

António Oliveira: as “pressões, intimidações e ameaças” que levaram à desistência

Na sexta-feira passada, António Oliveira anunciou a desistência da candidatura pelo PSD à Câmara Municipal de Gaia. O antigo selecionador da seleção nacional de futebol tinha sido uma escolha pessoal de Rui Rio, mas acabou por desistir da candidatura, em choque frontal com José Cancela Moura.

António Oliveira desiste da candidatura a Gaia: “Isto não é uma desistência. Isto é uma questão de higiene”

Numa carta aberta, António Oliveira diz que foi “sujeito a pressões, intimidações e ameaças” e que decidiu sair “para não transigir” na sua “dignidade”, alertando, no entanto, que o atual líder do PSD “não tem culpa do que se passou”. “Tentaram impor-me o pior da ‘mercearia partidária’ e tentaram envolver-me nas mais inacreditáveis negociatas de lugares”.

Questionado sobre esta afirmação e a possibilidade desta desistência estar relacionada com exigências do PSD/Gaia relativamente a lugares na lista de candidatura, Cancela Moura garantiu que “a única coisa que o PSD queria na lista de António Oliveira era um lugar em onze”. E Alberto Machado acrescentou: “Isto é uma candidatura que surge da coligação de três partidos e aquilo que o PSD estava a pedir a António Oliveira, e que estava combinado desde o início, era um lugar na lista. Gostava que me dissessem qual é o sítio onde um partido que faz parte da coligação, e que por acaso é o maior partido da coligação, não se faz representar na lista”.

No sábado, a Concelhia do PSD de Vila Nova de Gaia já tinha reagido à decisão de António Oliveira e acusou o antigo selecionador nacional de “nunca” ter apresentado “uma ideia e um projeto”. “Durante três meses, António Oliveira reuniu uma única vez com os candidatos às juntas de freguesia, nunca apresentou uma ideia, quanto mais um projeto, nunca deu a cara e adiou por três vezes a apresentação pública. Infelizmente, nada aconteceu”, referiu em comunicado o líder da Concelhia.

Até agora tinham sido oficializadas à Câmara de Vila Nova de Gaia as candidaturas do antigo selecionador nacional António Oliveira (PSD), da deputada à Assembleia da República Diana Ferreira (CDU), de Renato Soeiro (BE), e de Alcides Couto (Chega).