“De herói do Euro a sem clube”.
Era desta forma que o jornal As recordava o herói do último Campeonato da Europa, em 2016. Hoje com 33 anos, o avançado que se encontra em final de contrato com o Lokomotiv Moscovo tem-se desdobrado em várias entrevistas, umas gravadas e outras na cidade belga de Gent onde se encontra a acompanhar agora a fase final, onde fala vezes sem conta daquele ato de fé em forma de pontapé que fez história pela Seleção. Ficou de forma eterna a gratidão, o reconhecimento e os elogios à coragem de quem arriscou ser feliz mas que não teve vida fácil em termos profissionais a partir daí, apesar de todas as manifestações nacionais de apoio que ainda recebe.
“A forma como as pessoas olham para mim, ou acabaram por olhar para mim, especialmente naquela fase, com muito carinho… Claro que, para mim, é um orgulho enorme fazer parte daquele momento, enquanto equipa, enquanto jogador da Seleção Nacional, e enquanto vencedor de um Campeonato da Europa. Mas especialmente em França, foi um bocado… As pessoas lá não receberam muito bem. Não entenderam muito bem que eu representava Portugal, o meu país, e tinha de defender a seleção. As pessoas não receberam isso muito bem e quando jogava fora insultavam-me bastante, foi um período conturbado, para esquecer”, comentou numa entrevista recente à agência Lusa onde contou o impacto direto que o golo teve na época seguinte.
A temporada seguinte até teve um Eder em posição de destaque no Lille, naquela que foi a primeira (e única, acrescente-se) época completa no conjunto francês depois de ter chegado a meio em 2015/16 emprestado pelos galeses do Swansea. Fez 31 jogos na Ligue 1 num total de 2.470 minutos, marcou seis golos, e realizou entre as taças e a qualificação para a Liga Europa 37 partidas. No entanto, esses problemas que sentia obrigaram-no a mudar de ares, com o Lille, que tinha comprado o avançado no verão de 2016 por 4,5 milhões de euros, a ceder primeiro por empréstimo e depois a título definitivo o seu passe aos russos do Lokomotiv Moscovo.
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A adaptação à Liga russa não costuma ser a mais fácil mas Eder tornou-se rapidamente opção inicial na equipa da capital, sagrando-se campeão logo em 2017/18 com o português Manuel Fernandes ao seu lado, marcando quatro golos em 18 jogos a contar para o Campeonato num total de 28 juntando também Liga Europa e Taça – e com a particularidade de ter sido o herói que decidiu o triunfo caseiro com o Zenit que carimbou a conquista do título. Nas três épocas que se seguiram, já como jogador dos moscovitas, ganhou duas Taças e uma Supertaça da Rússia, sendo que esta foi a temporada em que participou em menos encontros oficiais da equipa, sobretudo na segunda fase de 2020/21, o que diminuiu também as hipóteses de ser chamado por Fernando Santos.
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“Para mim, foi bastante importante por mostrar a vários jogadores que é possível, que não é preciso passar pelos grandes clubes para ter sucesso. Senti também, por todo o percurso, pela fase das críticas, e por ter acabado o Euro com essa consagração, mudaram algumas coisas, nomeadamente a forma como as pessoas olhavam para mim. Conseguir mostrar às pessoas que é possível continuar a acreditar e triunfar, acho que foi a minha maior conquista”, destacou nessa mesmo entrevista antes do arranque do Europeu, que confessou à TVI ser mais complicado de seguir como um adepto “porque no campo existe a concentração e o foco no jogo”.
Pouco mais de cinco anos depois daquele minuto 109 de um prolongamento que ainda hoje ocupa o imaginário dos portugueses, Eder guarda quase tudo desse dia 10 de julho, do elemento de arte digital da bota direita com que fez o remate decisivo às camisolas, passando até pela rede da baliza onde se tornou imortal no Stade de France. Só falta mesmo a bola mas, essa, basta fechar os olhos para recordar o caminho que fez até bater Lloris na baliza francesa. Esta quarta-feira, já com dois jogos na Liga das Nações pelo meio (0-0 em Paris, 1-0 para os gauleses em Lisboa), os dois conjuntos voltam a reencontrar-se – e já com a França como campeã mundial.
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Na Bélgica, de onde é natural a mulher, Eder será agora mais um adepto entre milhões que seguirão de forma atenta o jogo de Portugal. E à espera que o telefone toque para saber onde irá jogar na próxima temporada.