A investigadora luso-americana Dulce Maria Scott, da Universidade de Anderson, considera que é preciso estudar a comunidade portuguesa nos Estados Unidos e alerta para o risco de esmorecimento da ligação a Portugal.

“Há o perigo de que os portugueses se tornem cada vez mais assimilados e percam a ligação à sua identidade”, disse à Lusa a académica, autora de um estudo exploratório sobre as tendências de voto dos luso-americanos para o Conselho Nacional de Liderança Luso-Americano (PALCUS). “O que sabemos da comunidade luso-americana está obsoleto”, afirmou, notando a necessidade de um estudo aprofundado com amostras representativas.

“Sabemos quais os contornos da população luso-americana em termos de variáveis sócio-económicas e demográficas, por causa dos Censos”, disse a académica, que esta segunda-feira apresentou a pesquisa “Voting trends among Portuguese Americans: An Exploratory Survey”. “O que não sabemos é como votam, qual a sua opinião sobre vários temas, o que mais valorizam, a sua relação com Portugal“, indicou.

Há poucos dados concretos sobre quantas vezes os emigrantes e lusodescendentes vão a Portugal, se leem e veem notícias de Portugal, se consomem os media portugueses. “São coisas que não conseguimos obter com os Censos“, disse. Num estudo abrangente, “podemos perguntar sobre a identidade, como se veem, para determinar o quão assimilados se tornaram”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo a responsável, muitos líderes de organizações comunitárias queixam-se de que é cada vez mais difícil passar o testemunho às próximas gerações. Não apenas a cultura, mas também o capital social, as organizações, os clubes e associações portuguesas. “A cultura em si parece continuar forte, há muitas festas e festivais”, notou a investigadora. “O que está por ver é se isso é passado à próxima geração”.

Na pesquisa exploratória sobre as tendências de voto da comunidade portuguesa, Dulce Maria Scott encontrou padrões muito próximos da população americana, o que indica um elevado fator de assimilação. “Os resultados que obtivemos nesta sondagem mostram que a forma como os inquiridos votaram é muito semelhante a como a população americana no geral vota”, sublinhou.

No entanto, não há muitos dados sobre como as gerações mais novas estão a comportar-se em relação aos pais, que emigraram de Portugal para os Estados Unidos. “Num estudo representativo, será importante ver se os filhos dos emigrantes que subiram a profissões da classe média continuam a votar da mesma forma que os pais“, indicou Dulce Maria Scott.

“Na Califórnia, no vale central, os filhos de emigrantes saíram da agricultura e foram para ocupações de classe média. Votam democrata ou republicano?”, questionou: “São coisas interessantes para explorar”. No futuro, Dulce Maria Scott gostaria de ver reunidas as condições, com o financiamento necessário, para conduzir um estudo mais abrangente e com amostras representativas.