“Nunca, jamais.” Assertivo, o presidente do governo de Espanha, Pedro Sánchez, apresentou-se esta quarta-feira perante o congresso espanhol para justificar os indultos aos líderes independentistas catalães e assegurou que não vai permitir a realização de um referendo na Catalunha.
“Não haverá referendo de autodeterminação, a não ser que os independentistas consigam convencer três quintos desta Câmara”, atirou Sánchez, citado pelo El País, referindo que o seu partido nunca permitirá que o congresso aprove um referendo. “O PSOE jamais o aceitará”, reiterou.
O presidente do governo de Espanha compareceu perante o congresso uma semana depois de nove líderes catalães, entre eles o antigo vice-presidente da Generalitat Oriol Junqueras, terem saído da prisão, isto depois de os indultos terem sido aprovados em Conselho de Ministros no dia anterior, 22 de junho.
Os líderes catalães cumpriam sentenças até 13 anos de prisão pelos crimes de sedição e desvio de dinheiros públicos para a realização do referendo de 2017, considerado ilegal por Madrid. Invocando a necessidade de restabelecer o espírito de “concórdia” e de apaziguar a situação política na Catalunha, Sánchez avançou com os indultos, uma medida que era rejeitada pela maioria dos espanhóis (segundo as sondagens) e que lhe valeu muitas críticas por parte da direita.
A oposição teve oportunidade de confrontar Sánchez esta quarta-feira, tendo o líder do governo espanhol repetido a mensagem de que “chegou o momento da política” e que é necessário “deixar para trás estes anos estéreis e dolorosos” e defender o “espírito de concórdia”. De seguida, Sánchez passou ao ataque, deixando recados aos independentistas — uma Catalunha separada de Espanha “não será nem próspera nem europeia”, disse, garantindo que o seu governo vai “atuar com máxima firmeza”, caso haja comportamentos semelhantes aos de 2017 — mas, sobretudo, ao líder da oposição, Pablo Casado.
“A única atitude que lhe resta é apresentar uma moção de censura”, desafiou Sánchez, dirigindo-se diretamente ao líder do Partido Popular, acusando-o de fazer uma “oposição destrutiva”.
Antes, Casado tinha anunciado que o seu partido tinha avançado com um recurso para o Supremo Tribunal, para tentar travar os indultos, que, na sua opinião, são um “atropelo” a “milhões de espanhóis indignados por uma deriva destrutiva da nação”, acusando Sánchez de sofrer de “síndrome de Estocolmo” em relação aos independentistas catalães. “Você é um espantalho dos independentistas”, atirou Casado, exigindo a demissão de Sánchez e a convocação de novas eleições legislativas.
Sobre o desafio para apresentar uma moção de censura, Pablo Casado ainda não se pronunciou, mas à direita aumentou a pressão para que o líder do PP aja. Tanto o Ciudadanos como o Vox incentivaram Casado a avançar, garantindo que o líder da oposição tem o apoio da direita na tentativa de derrubar o executivo de Pedro Sánchez.
A avançar, no entanto, a moção de censura teria o chumbo praticamente anunciado, uma vez que, para que o governo de Sánchez caísse, seriam necessários os votos dos deputados da Esquerda Republicana Catalã (ERC), que, apesar de exigir a amnistia em vez dos indultos, aproximou-se do PSOE, o que pode ser um balão de oxigénio para o executivo do PSOE e do Unidas Podemos manter-se firme.
Esse apoio, no entanto, também tem um preço, e Sánchez acabou mesmo a ser desafiado no congresso pelo deputado Gabriel Rúfian, porta-voz da ERC, que contestou as afirmações do chefe do executivo espanhol quando este garantiu que não haveria novo referendo à independência na Catalunha. “O senhor presidente disse que nunca haveria um referendo de autodeterminação. A verdade é que também disse que não haveria indultos. Dê-nos tempo”, atirou, citado pelo El Mundo.
Na terça-feira, o líder do governo catalão, Pere Aragonès (da ERC), esteve reunido na Moncloa com Pedro Sánchez e, apesar das divergências políticas profundas sobre o futuro da Catalunha, ambos concordaram em relançar a mesa de diálogo em setembro. A tensão entre Madrid e Barcelona, no entanto, deverá continuar.