Obras de cariz urgente no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, deverão iniciar-se já este mês e a instituição vai receber vigilantes adicionais que permitam reabrir as salas atualmente encerradas, anunciou esta sexta-feira o Governo.
Em declarações à Lusa na sequência de uma “reunião muito produtiva” com o diretor-geral interino do Património Cultural, João Carlos Santos, e com o diretor do MNAA, Joaquim Caetano, a secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira, afirmou que os procedimentos necessários para o arranque das obras vão iniciar-se para que, ainda durante o mês de julho, se possam iniciar as intervenções urgentes relativas ao sistema de ar condicionado e aos problemas elétricos e das coberturas, com uma estimativa orçamental de 300 mil euros.
“Relativamente aos vigilantes, na próxima terça-feira vamos já ter vigilantes na exposição de D. Manuel e em 15 de julho estaremos em condições de abrir as salas que tínhamos encerradas”, afirmou a secretária de Estado.
Ângela Ferreira especificou que para a exposição “Vi o Reino Renovar. Arte no Tempo de D. Manuel I” serão oito os vigilantes a entrar ao serviço, enquanto o segundo processo será a contratação de um “banco de horas” para fazer face a lacunas não só no MNAA, mas noutros museus da rede nacional, como, por exemplo, o Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora.
Em ambos os casos, a entrada de novos vigilantes será feita em regime de ‘outsourcing’, havendo a expectativa, segundo a governante, de que seja possível encontrar soluções definitivas até ao final do ano para que, no próximo verão, não se esteja perante os mesmos problemas.
No final de maio, o MNAA anunciou que iria voltar a encerrar várias salas da exposição permanente por falta de vigilantes, numa situação que se poderia arrastar até setembro.
“Devido às limitações de pessoal técnico na área da vigilância informa-se que, a partir de 01 de junho, o MNAA é obrigado a proceder ao encerramento de algumas áreas da sua exposição permanente, nomeadamente as coleções de mobiliário, ourivesaria, cerâmica e artes não europeias”, revelou, na altura, o MNAA.
Quase um mês depois, o diretor do museu, Joaquim Caetano, mostrou-se preocupado com a proteção do património à guarda daquela entidade, cujos “problemas recorrentes”, de falta de vigilantes e sistemas obsoletos, criaram uma situação de “rutura”.
“Ainda [na manhã de 23 de junho], o museu abriu às 10:00 e pouco depois o quadro elétrico desligou-se, e só às 11:00, com a intervenção de um eletricista da Direção-geral do Património cultural [DGPC] se conseguiu ter luz outra vez”, revelou Caetano, então, acrescentando que o edifício “ficou às escuras” numa altura em que havia uma delegação oficial de um país estrangeiro de visita.
Dias antes, “também devido a estes problemas com o quadro elétrico, foi necessário encerrar totalmente durante a tarde”, disse o diretor sobre um problema que, por vezes, “demora horas a resolver, quando não fica resolvido só no dia seguinte”.
“Não é um problema inesperado, é recorrente, e tem-se agravado”, reiterou, admitindo que acaba por dar razão aos visitantes, que pagam o bilhete de entrada e não têm acesso a toda a coleção, pelas salas fechadas devido à falta de visitantes, e ainda lhes acontece terem de sair por uma falha elétrica.
A escassez de recursos humanos, não afeta apenas a vigilância das salas – que não se podem manter abertas sem guarda, por questões de segurança – mas também a falta de conservadores e das equipas de pessoal que faz habitualmente a manutenção do enorme edifício, onde se encontram algumas joias do património artístico português, como a Custódia de Belém, obra de ourivesaria de Gil Vicente, mandada lavrar por Manuel I e datada de 1506, e os Biombos Namban, do final do século XVI, que registam a presença dos portugueses no Japão.
“Já não temos folga nenhuma, e quando as pessoas precisam de faltar por motivos de saúde ou de férias, tudo se agrava muito”, alertou o responsável máximo por um acervo onde se encontram, nos diversos domínios, algumas obras de referência do património artístico mundial, nomeadamente, os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV, atualmente em processo de restauro.
A juntar a estes problemas, há ainda uma avaria do sistema de climatização, infiltrações no último piso do anexo e um dos elevadores — usado para o acesso de visitantes com deficiência ou limitação de locomoção — está avariado há um ano.