Era inevitável, uma questão de tempo. O Campeonato da Europa não é propriamente um terreno pródigo para se reivindicar a conquista de uma Bola de Ouro. Aconteceu seis vezes, é certo, mas em anos em que o domínio dos jogadores em causa foi demasiado evidente – e muitas vezes conjugando isso com vitórias coletivas das equipas na Taça dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões. Houve Franz Beckenbauer (1972), Rummenigge (1980), Michel Platini (1984), Marco Van Basten (1988), Ronaldo (2016) e uma única surpresa, Sammer (1996). Agora, o tema volta a estar em cima da mesa. E com um representante inglês que tem vindo a ganhar terreno.

Queriam o futebol em casa. Agora, “Que sera, sera” (a crónica do Ucrânia-Inglaterra)

As eliminações precoces de algumas das principais seleções cortaram algum terreno a nomes que estavam a ser apontados a uma primeira linha, casos de Ronaldo (Portugal), Mbappé (França), De Bruyne e Lukaku (Bélgica), Lewandowski (Polónia). E outros jogadores podem ganhar outra força, como Lionel Messi, na luta pela primeira Copa América pela Argentina. No entanto, é nos elementos que estão ainda no Europeu que se centram agora as atenções, com Harry Kane a ganhar cada vez mais espaço para chegar à frente da corrida ou pelo menos entrar pela primeira vez no pódio do galardão caso a Inglaterra consiga sagrar-se pela primeira vez campeã europeia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Apesar de ter feito mais uma temporada sem títulos pelo Tottenham (daí a vontade que já voltou a manifestar de sair para outro clube…), o avançado de 27 anos teve a segunda época com mais golos pelos londrinos mas a melhor olhando apenas para o rendimento na Premier League: foi o jogador com mais golos (23) e com mais assistências (14) na competição. Ao todo, Kane marcou 33 golos em 49 jogos oficiais, somando as participações ainda na Liga Europa, na Taça de Inglaterra e na Taça da Liga. Agora, começa a brilhar no Europeu.

Depois de não ter marcado na fase de grupos, o dianteiro fechou as contas no triunfo dos Três Leões frente à Alemanha após assistência de Grealish e conseguiu agora o seu primeiro bis numa fase final de uma grande competição, inaugurando o marcador depois de um passe fantástico de Sterling e voltando a marcar no segundo tempo após cruzamento de Luke Shaw. Com isso, conseguiu vários recordes pela seleção inglesa.

Harry Kane ultrapassou Wayne Rooney e tornou-se o segundo jogador inglês com mais golos em fases finais de Europeus e Mundiais, com os mesmos nove golos de Alan Shearer e a um de Gary Lineker. Ao mesmo tempo, o avançado tornou-se o primeiro a bisar pelos britânicos num encontro a eliminar do Europeu. Por fim, passou também a ser o primeiro a marcar em jogos consecutivos depois da fase de grupos da competição. Com tudo isso, o capitão voltou a ser apontado como uma das possibilidades à Bola de Ouro, sendo que para isso teria sempre de sagrar-se campeão europeu de seleções, algo que a Inglaterra nunca conseguiu alcançar.

“Foi uma grande exibição num grande jogo. Partíamos como favoritos, havia muita pressão e expetativa pelo nosso desempenho mas fizemos um jogo enorme. Marcámos quatro golos, voltámos a não sofrer, foi uma noite perfeita para nós. Baliza inviolável? É algo que estamos a construir, a trabalhar, com uma grande unidade como equipa do ataque à defesa. Isso é uma parte vital para quem quer ganhar jogos e competições. Temos agora uma meia-final em Wembley e estamos no bom caminho. Estamos onde queremos estar, numa visão que começou no Mundial sobre aquilo que queremos atingir. Temos mais experiência, com jogadores em grandes clubes e que lutam por títulos. O trabalho não está feito mas vamos no bom caminho”, disse Harry Kane no final do jogo.