Afinal, confirmou-se: a mítica Bugatti que, desde que foi criada em 1909 pelo inovador Ettore Bugatti, sempre figurou como um dos construtores mais criativos e sofisticados do mundo, tanto em veículos de competição como em carros de série, deixou de pertencer ao Grupo Volkswagen. Quem passa a mandar na casa francesa é a Rimac, o construtor croata que nomeou o seu CEO para assumir o controlo.
O anúncio do “casamento” foi avançado pela Porsche, outro dos construtores do conglomerado germânico que necessita da tecnologia da Rimac, com o fabricante alemão a confirmar que a Bugatti e a Rimac vão juntar forças. E vão juntá-las porque a Bugatti necessita de conceber um hiperdesportivo eléctrico que rivalize com os melhores do mercado e não há tecnologia no grupo que o garanta num curto espaço de tempo. Já na Rimac a tecnologia abunda, como prova o facto de a marca croata, fundada por Mate Rimac em 2009, já ter produzido o Concept One, com 1305 cv, a que se seguiu agora o Nevera, com 1940 cv, capaz de ir de 0-100 km/h em 1,97 segundos, para depois atingir 412 km/h e garantir uma autonomia de 550 km em WLTP.
O acordo assinado com os croatas passa pela criação de uma joint venture Rimac-Bugatti, que deverá estar a operar no último trimestre do ano, depois de aprovada pelas autoridades antitrust em vários países. A Rimac irá deter 55% da nova parceria, com a Porsche (a quem a Volkswagen AG delegou a liderança deste processo) a ser responsável pelos restantes 45%, o que permite ao construtor croata nomear o CEO, cargo que fica confiado a Mate Rimac, ele que também é CEO da Rimac. À Porsche fica reservada uma posição menor, com o seu CEO a ser somente um dos membros da administração na nova joint venture, onde está em companhia de Lutz Meschke, o responsável pelas finanças na Porsche.
Enquanto marcas, a Rimac e a Bugatti vão continuar a existir, a primeira a continuar a ser produzida na Croácia e a segunda a manter a sua fábrica em Molsheim, em França. A Bugatti terá muito a ensinar à Rimac, no capítulo da qualidade de construção, do luxo e do requinte, mas tudo o que respeita a motores, baterias, sistema de gestão de energia, controlo electrónico dos motores eléctricos para optimizar o comportamento e até sistemas de ajuda à condução autónoma e semi-autónoma, que os croatas afirmam estar a desenvolver, será responsabilidade da Rimac.
Mate Rimac garante que a Bugatti e a Rimac são o par perfeito para o futuro que se aproxima, enquanto o CEO da Porsche, Oliver Blume, admite que “a Rimac tem uma forte experiência inovadora no campo da mobilidade eléctrica”. Só assim será possível à Bugatti, muito antes de ter que abrir mão dos seus hiperdesportivos com o impressionante motor a gasolina W16, começar a oferecer um modelo ainda mais potente, mas 100% eléctrico, porque já há muitos clientes com poder de compra sem limites que querem modelos emocionantes, mas têm preocupações ambientais.
Para que o negócio avance, sem que o CEO perca o controlo da sua empresa, a Rimac vai dividir-se em duas empresas, por um lado o Rimac Group, que detém 55% na joint venture, e a Rimac Technologies, que é detida a 100% pelo Rimac Group, mas é a ela que cabe o desenvolvimento das células das baterias e todas as outras tecnologias eléctricas. O mais curioso é o facto de o grupo Hyundai-Kia também deter uma fatia da joint venture Bugatti-Rimac. Ao serem sócios do Rimac Group, com 14% do capital, condição para ter acesso em primeira mão à tecnologia dos croatas – o mesmo motivo que levou a Porsche a adquirir 24% da empresa de Mate Rimac – os construtores sul-coreanos acabam por, também eles, terem uma palavra a dizer.