Não houve uma palavra sobre convocação de eleições, nem tão pouco sobre Luís Filipe Vieira. O primeiro discurso de Rui Costa, enquanto presidente do SL Benfica, foi carregado de simbolismo, com a família a apoiá-lo na bancada, em pleno relvado da Luz, onde, com apenas 9 anos, impressionou Eusébio pela primeira vez. Numa declaração curta, mas com sabor a discurso pós-vitória eleitoral, Rui Costa falou de unidade e apontou ao futuro, sempre com “ambição”.
“O meu lema e o meu foco é ganhar”, frisou o novo presidente do clube dos encarnados.
“Sou, a partir de hoje, presidente do Sport Lisboa e Benfica na exata medida dos estatutos do clube. Assumo esta liderança com o mesmo orgulho, a mesma paixão e compromisso com que vesti pela primeira vez a camisola do nosso clube”, começou por dizer Rui Costa, lembrando que tem a legitimidade dos estatutos, assim como o apoio da direção do clube, para passar de número 2 a número 1. Falta-lhe, agora, o resto: o apoio, em forma de voto, dos sócios.
Medidas de coação serão conhecidas no sábado após interrogatório de Luís Filipe Vieira
A localização do púlpito de onde falou foi explicada logo a seguir, recordando os momentos áureos da sua carreira, que terminou exatamente ali, na temporada de 2007–08, com uma enorme ovação do público, num jogo frente ao Vitória de Setúbal. “Decidi fazer a minha apresentação enquanto presidente no meio do relvado onde, com a minha camisola, vivi os momentos mais felizes da minha vida.”
A seguir, Rui Costa falou do futuro (e não do curto prazo), e do peso que lhe fica, a partir de agora, nos ombros. “Sei a responsabilidade que hoje assumo, sei o que os benfiquistas esperam de mim, sei o que os benfiquistas esperam de quem está nesta posição. Tudo farei, tudo darei de mim para que o clube seja cada vez maior.”
O novo presidente do clube dos encarnados não deixou de apelar à unidade. “Os tempos são desafiantes, não são tempos de divisões. São tempo de nos unirmos em prol daquilo que é mais importante, o Sport Lisboa e Benfica.”
Da agenda dos próximos tempos, deixou clara qual a prioridade: a preparação das épocas desportivas, quer do futebol, quer das modalidades, que têm de ser feitas com a maior das ambições. “Este será sempre o meu foco, será a sempre o meu lema, ganhar.”
Rui Costa deixou ainda uma “mensagem de confiança” a todos os que compõem o clube, desde os sócios aos obrigacionistas, garantindo a estes últimos que o clube da Luz continuará a honrar os seus compromissos.
“Saberei ouvir as mensagens dos benfiquistas, pondo sempre os interesses do clube à frente de qualquer coisa que apareça. Serei sempre um de vocês. Quero um Benfica forte, um Benfica unido e trabalharei diariamente para que isso aconteça.” No final da declaração de Rui Costa não houve direito a perguntas dos jornalistas.
Rui Costa estava a postos para ser empossado presidente do Benfica, deixando para trás o cargo de vice-presidente e de número 2, já que assim está previsto nos estatutos do clube.
O clube dos encarnados anunciou, ao final da tarde de sexta-feira, a decisão de colocar Rui Costa à frente do clube, através de comunicado e na sequência da detenção de Luís Filipe Vieira: “O Sport Lisboa e Benfica informa que, nos termos que se encontram estatutariamente previstos e em virtude da comunicação realizada hoje pelo presidente da direção, Luís Filipe Vieira, o vice-presidente Rui Manuel César Costa, assume, com efeitos imediatos, a presidência do Sport Lisboa e Benfica, nos termos da alínea a do número 3 do artigo 61 dos estatutos do Clube. Esta nomeação tem o apoio unânime dos membros da Direção do Sport Lisboa e Benfica”.
Ao que o Observador apurou, esta decisão de elevar Rui Costa a presidente do clube da Luz limitou-se a antecipar aquilo que poderia surgir no âmbito das medidas de coação da operação Cartão Vermelho.
Luís Filipe Vieira suspendeu o mandato de presidência do Benfica “enquanto o exercício de funções puder prejudicar o processo que está em curso”, anunciou o seu advogado, Magalhães e Silva.
“O Benfica está primeiro. Perante os eventos dos últimos dias, do âmbito da operação Cartão Vermelho, em que sou diretamente visado, e enquanto o inquérito em curso puder constituir um fator de perturbação, suspendo com efeitos imediatos o exercício das minhas funções como presidente do Sport Lisboa e Benfica, bem como todas as participadas do clube. Apelo a todos os benfiquistas para que se mantenham serenos na defesa do bom nome da grande instituição que é o Benfica”, dizia o comunicado.