O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia, entende a exigência de testes para frequentar restaurantes, mas não que seja apenas em determinados períodos e diz parecer uma medida “em contraciclo”.

Em declarações, Mexia comentou assim a medida tomada na quinta-feira pelo Governo, de combate à pandemia, de que os restaurantes de concelhos de maior risco passem a exigir certificado digital ou teste negativo, a partir das 19h00 de sexta-feira e aos fins de semana, para refeições no interior. Os testes aceites incluem os autotestes.

A medida, com a evolução que a pandemia já teve, parece estar “em contraciclo”, porque não houve antes uma preocupação de testagem. “E as pessoas não conseguem perceber, e eu também não, esta lógica de os testes serem exigidos apenas durante algum período e não noutros”, disse Ricardo Mexia, concluindo que assim é difícil que as pessoas percebam o que está em causa e porque é que é importante testar.

O presidente da ANMSP deixa outra crítica mais geral, a de que estarem agora a ser criadas novas medidas é reconhecer que o que se fez antes não foi “o adequado e suficiente”, porque o país continua com um crescimento do número de casos. A comunicação sobre a importância dos testes para controlar a pandemia não foi a adequada desde início, e quando houve a retoma, “após a situação dramática de janeiro e fevereiro”, devia ter havido logo “uma preocupação de testagem, em simultâneo com a vacinação”, defende o presidente da associação.

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Ricardo Mexia reafirmou que a testagem tem um papel importante para reduzir o potencial de transmissão e garantir algumas condições de segurança para atividades em que não se pode usar máscara, como num restaurante. E lembrou que grandes concentrações de pessoas e eventos familiares têm sido fonte de muitos casos.

“Temos de clarificar qual é a relevância dos testes, para que servem, e porque é que são importantes, particularmente em eventos que tem uma duração mais longa, com pessoas mais próximas, e porque é importante identificar potencialmente casos que possam vir a transmitir a doença”, disse Ricardo Mexia, salientando que esta clarificação já devia ter sido feita e que agora se torna um pouco “incompreensível a forma como estas medidas estão a ser adotadas”.

É que, acrescentou o médico de saúde pública e epidemiologista, quando as pessoas perceberem a vantagem de fazer o teste acabam por valorizar esse momento, até porque o teste permite identificar casos de Covid-19 que podem prejudicar um evento ou uma refeição com amigos ou familiares. “E tendencialmente, num contexto em que estou com maior proximidade das pessoas, sem máscara, é um contexto mais propício à transmissão da doença”.

“As pessoas generalizarem a realização do teste parece-me positivo, agora temos de garantir que o teste é feito em condições adequadas, seja de privacidade seja do ponto de vista técnico”, salientou, referindo que os autotestes têm a vantagem de ser mais fáceis de aplicar, mas que são menos sensíveis, e que além disso é preciso haver garantias de que são feitos de forma adequada.