O EV Day da Stellantis serviu para o recém-criado grupo, que resulta da fusão da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) com a PSA, anunciar a estratégia de electrificação global e avançar quais as marcas que terão especial proeminência nesta nova fase. A Opel é uma delas e, de uma assentada, fez três importantes comunicações em relação aos tempos mais próximos.
A mais relevante é que também o construtor alemão colocou um prazo de validade aos motores de combustão que, depois de 2028, não têm lugar na oferta da Opel. A marca germânica pretende, a partir desse ano, assumir-se como puramente eléctrica, no Velho Continente. E, com esta movimentação, adianta-se a concorrentes “externos” (no sentido em que não fazem parte da Stellantis) como a Volkswagen, que atirou para 2035 o fim dos motores a gasolina ou a gasóleo. A própria Volvo, que aspira um posicionamento mais premium e um papel de lidrança nesta transição para a mobilidade 100% eléctrica, só tenciona comercializar apenas modelos a bateria dois anos depois, em 2030, no mesmo ano em que a Mini e a Ford (na Europa) anunciaram converter-se exclusivamente em fabricantes de automóveis eléctricos. Significa isto que, em matéria de planos, a Jaguar continua adiantada face à concorrência, pois marcou o fim da oferta diesel e a gasolina para 2025. Contudo, neste ponto, convirá ter presente que o portefólio da marca do felino é bem mais reduzido que o da Opel, a qual continua a implementar um programa de electrificação vasto, mas sem plataformas dedicadas – o que deverá mudar em breve, depois da Stellantis ter anunciado que vai conceber 4 plataformas específicas para modelos eléctricos, para benefício das 14 marcas do grupo. O construtor alemão assegura que vai acelerar nesta viragem do negócio e que, já este ano, o catálogo contará com nove modelos electrificados – híbridos ou híbridos plug-in (PHEV). A meta traçada para 2024 é disponibilizar versões electrificadas em todos os modelos da gama. Daí em diante, é expectável o enfoque na plena electrificação, para cumprir a promessa do CEO da Opel:
A partir de 2028, a Opel contará exclusivamente com oferta de modelos eléctricos na Europa, o nosso mercado principal”, antecipou Michael Lohscheller no Stellantis EV Day 2021.
E porque, para os lados de Rüsselsheim, poucas dúvidas há que “o futuro da indústria automóvel é eléctrico”, nas palavras de Lohscheller, e a marca que comanda quer fazer parte desse futuro, há que esperar que os próximos lançamentos sejam uma espécie de antecâmara do “renascimento” da Opel. “Estamos numa jornada de reinvenção da Opel para nos transformarmos numa marca jovem, verde e global”, declarou o CEO da marca alemã.
Para ser cool, mas também global, o fabricante germânico aponta, no imediato, dois alvos claramente identificados. Por um lado, a entrada no mercado chinês que é, tão só, o “paraíso” para a venda de veículos com total ou parcial electrificação, pois na China comercializam-se mais PHEV e BEV (eléctricos a bateria) que em qualquer outro ponto do globo. Não foram fornecidos grandes detalhes quanto a esta investida no maior mercado automóvel do mundo, excepto que a ofensiva se fará exclusivamente com veículos eléctricos. Não tendo sido avançada nenhuma data, há vários cenários possíveis. Mas como, de momento, a oferta zero emissões da Opel se esgota no Corsa-e e no Mokka-e, em termos de ligeiros de passageiros, é possível que a marca queira primeiro robustecer um pouco mais a sua gama eléctrica, para não arriscar uma incursão debilitada por território chinês.
A China é o maior mercado automóvel do mundo e estamos seguros de que ali iremos crescer de uma forma rentável. Os clientes chineses podem aguardar pelos nossos produtos e pela vertente emocional da nossa marca alemã”, prometeu Lohscheller.
Como se depreende deste discurso, a “reinvenção” da Opel estará intrinsecamente associada à ideia de “emoção”, o que contrasta claramente com a aquela imagem “fria” da engenharia alemã em que o construtor tanto se focava para se demarcar da concorrência. A inovação e a “engenharia alemã” devem continuar presentes, mas ao serviço de modelos mais emocionantes. E, aqui, está outro dos alvos da Opel: reinventar o Manta, mas eléctrico. Em linha, aliás, com aquela que parece ser a estratégia de marcas como a Renault e a Volkswagen, que nesta viragem para a mobilidade mais amiga do ambiente estão apostadas em fazer renascer, com “alma” eléctrica, alguns dos modelos mais emblemáticos do seu passado.
O Manta não deixou a esteira de um Carocha ou do Renault 4L, porque isso seria comparar o incomparável, mas é visto como uma das criações mais icónicas com o emblema do relâmpago, da década de 70. A prova que ainda preserva esse halo de entusiasmo à sua volta está na excelente aceitação que colheu o protótipo Manta GSe ElektroMOD, a ponto de a marca se decidir a avançar para a produção em série. Michael Lohscheller confirmou o regresso do Manta – “puramente eléctrico, claro” – para meados da década. Ou seja, em redor de 2025, o Manta-e vai passar a integrar a gama do construtor.
No protótipo que o antecipa, o motor de quatro cilindros do passado cedeu o lugar a uma unidade eléctrica que passa 108 kW (147 cv) de potência e 255 Nm de binário máximo às rodas de trás. O motor eléctrico é alimentado por uma bateria de iões de lítio com 31 kWh de capacidade, capaz de lhe permitir uma autonomia média de cerca de 200 km. Compatibilizando as linhas clássicas do desportivo de outros tempos com as mais recentes tecnologias da marca (iluminação LED, Pixel-Vizor e cockpit Pure Panel), o protótipo Manta GSe ElektroMOD – “MOD” para modificação e moderno – deverá evoluir para uma proposta que mantém o cariz desportivo e os traços do passado. Desejavelmente com uma autonomia mais “MOD”…