“Casinhos”, “equívocos” e uma audição “sem significado”. Foi assim que o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e o PS desvalorizaram, no Parlamento, a polémica à volta da decisão (entretanto suspensa) de colocar imigrantes irregulares num ala da prisão de Caxias, esta quarta-feira.

O ministro focou-se, desde logo, em desmentir que o plano estivesse fechado: “Era uma ideia em desenvolvimento”, garantiu Cabrita, acrescentando que a ideia “nunca seria” colocar os migrantes numa ala prisional propriamente dita (antes num centro reconvertido, dentro da prisão) mas que percebeu a importância da “dimensão simbólica” do caso.

O esclarecimento surge depois de ter sido noticiado que, embora o Governo diga que isto era apenas um plano (“não estava fechado. Esta audição deixa de ter qualquer significado”, insistiu o socialista Francisco Oliveira), na verdade já havia um protocolo assinado. Cabrita recusou “discutir notícias de jornal”, mas questionado por diversas vezes por PSD, CDS e BE garantiu que a colocação em estruturas prisionais não vai acontecer.

Depois, disparou com ironia. Por um lado, e depois de o BE ter pedido uma “solução alternativa à detenção dos migrantes”, Cabrita ofereceu-se para “clarificar”, com “todo o gosto”, a visão do Governo sobre política migratória, um elemento que “honra Portugal” e que “marcou a presidência portuguesa da União Europeia”.

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E trouxe estatísticas gerais: “Nuna houve tantos migrantes legais em Portugal como hoje”, tendo sido atingido um recorde de autorizações de residência em 2019 e 2020 e estando a ser estudados acordos para colocação de migrantes em Alcoutim, Vila Real de Santo António, Elvas e Vila Fernando (estes últimos investimentos fazem parte do Plano de Recuperação e Resiliência).

Cabrita recua e suspende reconversão da ala da prisão de Caxias em centro temporário para imigrantes

Depois, atirou contra a direita: “Achamos muito positivo depois de quatro anos em que Portugal fechou a porta a estrangeiros e expulsou nacionais, praticamente se tenha duplicado número de estrangeiros com residência legal”, ironizou Cabrita, atacando a oposição por se concentrar em “casinhos”.

Momentos antes, Telmo Correia, do CDS, tinha criticado o Governo por “expor uma contradição”, propondo a extinção do SEF para acabar com a ideia de uma polícia de migrantes mas querendo colocá-los numa ala da prisão de Caxias. Duarte Marques, do PSD, foi mais longe, dando os “parabéns” ao Governo por recuar e recusando ser “tomado por parvo” ao ouvir o ministro dizer que o plano nunca esteve fechado: “Uma tentativa de aldrabice para tentar encobrir um erro político”, sentenciou.