O poeta americano, Robert Frost, escreveu um dia um poema sobre um bosque amarelo e, a dada altura, lê-se que “Duas estradas divergiam numa floresta, e eu / Eu trilhei a menos percorrida /E isso fez toda a diferença”. O leitor perguntar-se-á o que terá o poema publicado pela primeira vez em 1915 que ver com o que escreveremos daqui para a frente: tem tudo, porque as linhas que se seguem falam sobre coordenadas geográficas que nos levam a sítios idílicos – como os poemas -, daqueles que devemos descobrir porque não são ainda muito conhecidos.

Os caminhos menos percorridos não só permitem-nos desligar da rotina que nos acompanha ao longo do ano – o piloto automático vai à vida porque a nossa atenção está focada não de onde viemos, não para onde vamos, mas sim onde estamos -, mas também despertam em nós a sensação única de viver tudo pela primeira vez. Sorte a nossa que há tanto para descobrir no Centro de Portugal: a proposta é que reserve uns dias e que se faça à estrada de carro, de auto-caravana ou de moto. O roteiro fica por nossa conta.

Em Viseu Dão Lafões, no vértice de uma pirâmide, que encontramos a Serra da Gralheira, uma montanha mágica que nos oferece não só silêncio para contemplar a natureza abundante, como aldeias perdidas no tempo, estações arqueológicas, cursos de água e alguns edifícios religiosos para visitar. Sorte a sua que é verão (no inverno as baixas temperaturas costumam dificultar qualquer tipo de passeio pedestre pela área) e, por isso, aproveite para caminhar até à “Princesa da Serra”, como é conhecida a Aldeia da Gralheira, localizada a 1100 metros de altitude. Sugerimos que ateste o seu veículo com combustível e procure o Parque Botânico Arbutus do Demo, um dos mais emblemáticos do Centro de Portugal, que, além de transmitir uma sensação de serenidade, é a casa de mais de um milhar de diferentes espécies botânicas.

Serra da Gralheira. Créditos: Turismo do Centro – Pedro Cerqueira

Continuemos a percorrer os caminhos menos conhecidos do Centro de Portugal e deixemo-nos levar pela beleza incomum de uma das zonas verdes mais vastas do país: a experiência começa antes de chegar ao destino, porque as estradas que nos levam até à Serra da Estrela são como quadros que queremos observar durante horas. Deixe a agitação da cidade para outro momento e abrace o silêncio enquanto olhar através da janela do seu carro ou autocaravana, ou até sentir a brisa no rosto através do capacete da sua moto. O GPS deverá marcar as coordenadas de Loriga, uma das terras serranas mais bonitas desta área, localizada em pleno Parque Natural da Serra da Estrela. Atente nos socalcos desta aldeia e procure as indicações da Rota da Garganta de Loriga — e, já agora, refresque-se nas águas frias da Praia Fluvial de Loriga, que tem uma beleza ímpar. Manteigas também será um caso de amor sério – esta vila portuguesa, localizada a 700 metros de altitude e próxima do Rio Zêzere, fascina-lo-á: os seus encantos não cabem em fotografias de maquinetas tecnológicas, é ir lá e tirar as suas próprias conclusões.

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Loriga. Créditos: Turismo do Centro – Pedro Cerqueira

Enquanto estiver de passeio pela região de Coimbra, desligue o alarme do telefone: já basta ter de acordar todos os dias a horas indecentes para trabalhar. Desligar da rotina tem disto: o corpo adapta-se naturalmente quando lhe proporcionamos tranquilidade e é preciso deixar que ele o faça. Esta sugestão é urbana mas vale a pena: o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, localizado no coração da cidade, é um espaço que inclui uma vasta mata muito verde e bem tratada, assim como árvores exóticas e variadíssimas plantas de todo o mundo. São 13 hectares que incluem espaços como uma Estufa Fria, uma Estufa Grande e vários monumentos que nos fazem viajar no tempo. Deixe que as rodas do seu veículo o levem em direção à Serra do Açor, a quinta serrana mais alta de Portugal continental. Visite o Pico da Cebola, o seu ponto mais alto a 1418 metros de altitude, e as Aldeias de Xisto abraçadas pela Paisagem Protegida da Serra do Açor: sugerimos Piódão, a “aldeia branca” da Benfeita, e a queda de água da Fraga da Pena.

Jardim Botânico de Coimbra. Créditos: Turismo do Centro – Pedro Cerqueira

São várias as estradas que cruzam o pinhal ao longo da costa, e que nos levam até à Figueira da Foz, um dos mais animados centros balneares do Centro do país. Dê um passeio a pé na Praia de Quiaios. Com o fabuloso pano de fundo verdejante e montanhoso da Serra da Boa Viagem, o extenso areal permite que passe um dia inesquecível à beira-mar.

E porque não experimentar o windsurf no mar calmo e vento forte da Praia de Buarcos? Aqui, onde os experientes surfistas encontram a onda direita mais longa da Europa, as condições para a prática deste desporto são simplesmente soberbas.

Créditos: Turismo do Centro

De Coimbra, até à Ria de Aveiro: a bordo do seu veículo de quatro rodas (não sugerimos que faça isto numa mota porque primeiro está a sua segurança), abra a janela e deixe a sua mão dançar com o vento. É para as Termas da Curia que seguimos agora: inseridas numa área que se estende por 14 hectares, estas estâncias termais permitem um contacto muito próximo com a natureza e com todos os benefícios associados à terapêutica termal. Regresse ao melhor que a vida lhe pode dar e reencontre o equilíbrio nas águas medicinais da Curia e nos tratamentos relaxantes que acrescentam à sua idade, vários anos de vida. A cidade das casinhas bonitas à beira rio – Ílhavo -, é também uma opção a considerar: desde desportos náuticos, à observação de aves, a museus que contam histórias sobre o passado glorioso desta terra, esta é uma paragem fundamental.

Termas da Curia. Créditos: Turismo do Centro – Pedro Cerqueira

Nem todos os poemas são feitos de palavras e na região Oeste certamente vai adorar explorar a Serra de Montejunto, o miradouro natural mais alto da Estremadura — chega aos 666 metros. Deixe-se encantar pelas paisagens de perder o fôlego neste local, guarde um dia para visitar esta serra e aproveite para fazer a rota dos moinhos, que passa por Peniche, Lourinhã, Torres Vedras e pela Serra de Montejunto. Os que resistem neste último local têm ainda a vantagem de proporcionarem paisagens únicas.

Da serra para o mar: faça-se à estrada e siga até ao arquipélago das Berlengas, a 15 quilómetros da costa oeste de Peniche. Esta reserva natural é de visita obrigatória: deixe o carro, a autocaravana ou a sua moto em terra, porque a não ser que tenha na sua posse um veículo que se transforma em barco ou que voe, como nos filmes que nos contam coisas fascinantes sobre o futuro, terá de apanhar um barco como as pessoas normais. Considerada uma área protegida desde 1465, foi declarada pela UNESCO Reserva Mundial da Biosfera. Explore e experimente todas as atividades ao seu dispor.

Berlengas. Créditos: Turismo do Centro – Pedro Cerqueira

No coração da região Médio Tejo, visite a Aldeia de Dornes, que não deixa ninguém indiferente à sua beleza paisagística e histórica. Aviso à navegação: cuidado com as curvas e contracurvas nas margens do Rio Zêzere que o levam até à península mágica, considerada uma das sete maravilhas de Portugal. Abraçada pelo segundo maior rio que nasce exclusivamente em Portugal, Dornes é uma aldeia mística que preservou, ao longo dos anos, a história, a cultura e a tradição religiosa dos nossos antepassados. É bela e ideal para visitar nos meses de maior calor (outro aviso à navegação: há praias fluviais ali perto para experimentar). É mesmo em Dornes que poderá seguir as indicações e iniciar um dos trilhos pedestres da Grande Rota do Zêzere: são 370 quilómetros de viagem que poderá explorar a pé, de bicicleta ou até de canoa. Venha daí!

Pico da Melriça. Créditos: Turismo do Centro – Pedro Cerqueira

Sabe que existe um local que assinala o centro geodésico de Portugal? Situado a poucos quilómetros de Vila de Rei, que encontramos o Pico da Melriça (e esta, sabia?). Valerá a pena visitar esse marco nacional, olhar a paisagem em todos os pontos cardeais, explorar o museu, e se tiver interesse descobrir a polémica por trás deste local que é considerado o centro de Portugal (será que é mesmo assim?).

Dornes. Créditos: Turismo do Centro – Pedro Cerqueira

E, agora, chegamos à região da Beira Baixa, e começamos logo por sugerir uma das fontes termais mais antigas de Portugal, conhecida desde que os romanos chegaram ao nosso país: dê um salto às Termas de Monfortinho e descubra, por si, os verdadeiros benefícios medicinais destas águas, reconhecidas pela sua qualidade ímpar. É um paraíso natural e se estiver a fim de uma paragem depois de tantos quilómetros percorridos, aproveite para renovar o espírito e repor os seus níveis de tranquilidade.

E se pretende momentos de maior descontração, sugerimos que passe a tarde na Piscina-praia de Castelo Branco, um verdadeiro oásis que merece ser visitado nas suas próximas férias.

Os caminhos menos conhecidos do Centro de Portugal vão levá-lo até aos sítios mais bonitos que deve conhecer este verão e por isso terminar este texto sem falar na região de Leiria seria retirar-lhe a oportunidade de conhecer os seus encantos. Só o nome já dá vontade de o visitar: falamos do icónico Farol do Penedo da Saudade, em São Pedro de Moel, uma estrutura pintada em tons de vermelho e branco, que entrou em funcionamento em 1912. E porque nem só de natureza vive o Homem, o conhecimento também é importante: o Castelo de Pombal merece a sua visita porque, neste símbolo que não podemos dissociar da história de Portugal, pode aproveitar para aprender mais sobre posições defensivas, ataques militares, soluções inovadoras de arquitetura militar e a história que une tudo isso (será quase como transportar-se para um jogo de Catan em ponto real a custo zero – a nossa imaginação continua a superar qualquer tipo de experiência de realidade virtual).

Penedo da Saudade – São Pedro de Moel. Créditos: CM Marinha Grande

Ainda na região de Leiria, certamente perceberá a beleza desta região quando desbravar os trilhos das Serras de Aire e Candeeiros. Esta jóia natural está inserida no Maciço Calcário Estremenho o que por outras palavras significa que é uma zona muito rica em formações rochosas e grutas de calcário, como as Grutas de Mira de Aire (que atingem 180 quilómetros de profundidade – avise já o seu alter ego Indiana Jones – todos nós temos uma parte dele dentro de nós -, que no máximo só poderá descer até aos 80), as Grutas de Alvados, Santo António e as Grutas da Moeda.

Robert Frost não pensou no Centro de Portugal quando se inspirou para escrever um dos poemas mais bonitos de sempre, mas há que retirar das palavras os conselhos que devemos incluir no nosso dia a dia: escolha sempre percorrer as estradas menos conhecidas e de uma forma alternativa (alguém falou em auto-caravanas? Em viagens de carro com paragens para campismo selvagem?), porque só elas nos levam até locais idílicos como os do nosso roteiro. Perdoe-nos o engano: não são sítios, são poemas.

Saiba mais sobre este projeto em 
https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/