O Presidente chinês fez uma rara visita ao Tibete, numa altura em que as autoridades reforçam o controlo sobre a cultura budista tradicional e impulsionam o desenvolvimento económico e modernização das infraestruturas da região dos Himalaias.

A imprensa estatal noticiou que Xi Jinping visitou locais da capital Lhasa, incluindo o Mosteiro Drepung, a Rua Barkhor e a praça pública, na base do Palácio de Potala, que abrigava os Dalai Lamas, líderes espirituais e políticos do Tibete.

A visita de Xi não foi anunciada publicamente e não é claro se o líder chinês já regressou a Pequim. Nos últimos anos, a China aumentou o controlo sobre os mosteiros budistas e expandiu a educação em língua chinesa, substituindo a língua tibetana. Críticos dessas políticas são detidos rotineiramente e podem receber longas penas de prisão, especialmente se forem condenados por associação com o Dalai Lama, que vive no exílio na Índia, desde que fugiu do Tibete, durante uma rebelião contra o domínio chinês, em 1959.

A China não reconhece o autodeclarado governo tibetano no exílio, com base na cidade indiana de Dharmsala, e acusa Dalai Lama de separatismo. O turismo doméstico expandiu maciçamente na região desde que Xi ascendeu ao poder, em 2013. Novos aeroportos, linhas ferroviárias e autoestradas foram construídas na região. A agência noticiosa oficial Xinhua informou que, durante a visita a Lhasa, Xi procurou “aprender sobre o trabalho em questões étnicas e religiosas, a conservação do património, bem como a herança e proteção da cultura tibetana”.

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No dia anterior, Xi visitou a cidade de Nyingchi, para inspecionar as obras de preservação ecológica da bacia do rio Yarlung Zangbo, curso superior do Brahmaputra, onde a China está a construir uma controversa barragem. O Presidente chinês também visitou uma ponte e inspecionou a construção de uma linha ferroviária que vai ligar a província de Sichuan, no sudoeste da China, ao Tibete.

A visita de Xi coincide com o 70º aniversário do Acordo de 17 Pontos, que reforçou o controlo chinês sobre o Tibete, região que muitos tibetanos dizem ter sido efetivamente independente durante a maior parte da sua História. Dalai Lama diz que foi forçado a assinar o documento e, desde então, o repudiou. A visita também ocorre numa altura de deterioração das relações entre a China e a Índia, que partilham uma fronteira longa, mas disputada, na região dos Himalaias.

No ano passado, confrontos na fronteira entre tropas indianas e chinesas resultaram em dezenas de mortos e alteraram dramaticamente o relacionamento já tenso entre os países vizinhos. Isto parece ter levado o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a desejar publicamente felicidades a Dalai Lama, no seu aniversário, este mês, e a falar com o líder espiritual dos tibetanos por telefone. Esta foi a primeira vez que Modi confirmou publicamente ter falado com Dalai Lama, desde que se tornou primeiro-ministro, em 2014.

Em comunicado, o grupo de defesa Campanha Internacional pelo Tibete disse que a visita de Xi é uma “indicação de quão alto o Tibete continua a figurar nas considerações da política chinesa”. A forma como a visita foi organizada e a “ausência total de qualquer cobertura imediata na imprensa estatal sobre a visita, indicam que o Tibete continua a ser uma questão delicada e que as autoridades chinesas não confiam na sua legitimidade entre o povo tibetano”, apontou o grupo radicado em Washington.