O presidente executivo da Galp mostrou-se “desapontado” com as conclusões do estudo conhecido na semana passada que aponta para um aumento das margens de comercialização das petrolíferas na venda de combustíveis.

Andy Brown acrescentou que o estudo promovido pela ENSE (Entidade Nacional do Setor Energético) — uma entidade tutelada pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática — tinha vários erros nos cálculos que justificam cerca de 80% do aumento de margens identificado. Estas conclusões serviram de justificação ao Governo para anunciar medidas legislativas que permitam limitar temporariamente “margens excessivas” nos preços de venda dos combustíveis.

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O CEO da Galp foi questionado sobre o tema numa sessão com analistas internacionais depois da apresentação dos resultados do primeiro semestre.

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Brown começou por dizer que este “era um momento interessante para estar em Portugal”, referindo que a Galp ainda não conhecia a legislação nem conseguia avaliar o impacto da mesma na operação da petrolífera. O gestor desvalorizou o impacto da atividade de retalho e comercialização nos resultados da Galp — representa apenas 7% da margem bruta (EBITDA). Já a atividade de distribuição corresponde a 12% do preço dos combustíveis e é responsável por milhares de postos e de empregos.

O presidente executivo destacou também que Portugal tem dos impostos sobre os combustíveis mais altos da Europa. Está no TOP cinco com a fiscalidade a pesar cerca de 60% do preço final . “Estão a ladrar à árvore errada” (barking at the wrong tree), afirmou o gestor inglês da Galp.

Andy Brown defendeu que é preciso corrigir na opinião pública a ideia errada que existe sobre os lucros das petrolíferas. “Acharem que é nas margens que ganhamos todo o dinheiro, é triste”. Garantiu que a Galp irá defender a sua posição junto do Governo. E avisou que qualquer intervenção regulatória no preço dos combustíveis — que é um mercado liberalizado — é negativa para qualquer país.

A medida legislativa aprovada já em Conselho de Ministros foi a última de uma sessão de perguntas e respostas com o CEO da Galp à qual os jornalistas puderam assistir (via online), mas não colocar questões. Um dos temas centrais levantados pelos analistas financeiros foram as recentes mudanças na comissão executiva Galp anunciadas no final da semana passada e que passaram pela saída de três administradores.

Mudanças para gestores focados em executar e tomar decisões rápidas

Andy Brown justificou as mudanças com a necessidade de ter uma equipa focada na execução operacional da nova estratégia da Galp, com capacidade para tomar “decisões rápidas” e aproveitar as oportunidades. O CEO reconheceu que a saída de três gestores antes da empresa contratar um administrador para o negócio das renováveis representa “uma grande mudança” na maneira de liderar a Galp.

Mas a empresa tem uma agenda “desafiante” e para se tornar num negócio global e sustentável tem de ter uma equipa capaz de compreender “onde estamos no negócio” e o que é preciso fazer para preencher os “gaps”. Tem de ter muito foco e ser capaz de entregar resultados.

Da comissão executiva da Galp saíram Sofia Tenreiro, que era COO Comercial, Susana Quintana-Plaza, anterior COO de Renováveis e Novos Negócios e Carlos Silva, anterior COO de refinação e distribuição. Teresa Abecasis que liderava a direção de pessoas subiu à administração e ficou com a área comercial. Mantêm-se Filipe Silva como administrador financeiro, Carlos Costa Pinto com as pastas corporativas e Thore E. Kristiansen que junta à produção os negócios de upstream e industriais. A Galp está no mercado para contratar uma administradora para a área das renováveis.

Andy Brown foi eleito presidente executivo da Galp no início deste ano depois do afastamento do cargo do anterior CEO, Carlos Gomes da Silva, pelo grupo Amorim, o maior acionista da petrolífera.