Chegou a ser considerado o “casamento do século”, com muitos a olharem para a cerimónia como se de um conto de fadas se tratasse. A 29 de julho de 1981, precisamente há 40 anos, milhares de pessoas saíam às ruas de Londres e várias centenas — incluindo presidentes, primeiros-ministros e celebridades — enchiam a St Paul’s Cathedral. À distância, estima-se que cerca de 75 milhões terão visto a história desenrolar-se através do pequeno ecrã, naquele que foi o primeiro casamento televisionado da monarquia. Longe das revoltas sociais dos anos 1970 e 1980, com uma Inglaterra marcada por Thatcher, o casamento de Carlos e Diana foi tido como uma distração e até uma lufada de ar fresco.
Quatro décadas depois, a cerimónia perdura na memória coletiva — até mesmo para quem não a viveu —, independentemente do desfecho entre Carlos e Diana, cujo divórcio chegaria oficialmente na década de 1990, pouco tempo antes da morte da princesa de Gales. Para a história fica também o vestido que, atualmente, está em exibição pela primeira vez em 25 anos no Palácio de Kensington — a exposição temporária “Royal Style in the Making” está patente até ao dia 2 de janeiro.
Recuando ao início da década de 1980, foi um simples telefonema que mudou a vida dos designers David e Elizabeth Emanuel, o duo entretanto divorciado que ficou responsável pela criação do icónico vestido de noiva — a escolha foi considerada patriótica, de apoio à indústria da moda do Reino Unido. Até ao dia de casamento, poucos eram os detalhes conhecidos do vestido por mais que jornalistas sedentos vasculhassem os caixotes de lixo dos designers britânicos — estava tudo selado num cofre e, de acordo com a edição brasileira da Vogue, os esboços foram destruídos depois de mostrados a Diana para que nunca caíssem nas mãos erradas, além de existir um vestido de reserva. Não é por acaso que, segundo a Tatler, a peça de roupa foi muitas vezes apelidada de o “segredo mais bem guardado na história da moda”.
Só no próprio dia o mundo conseguiu tirar as medidas ao vestido tafetá, com mangas a representar condignamente a era da década de 1980, embelezado com 10 mil lantejoulas de madrepérola e com a cauda mais longa da história dos vestidos de noiva: quase oito metros de comprimento que encheram o corredor e a escadaria da catedral, numa entrada principesca registada pelas lentes dos fotógrafos então presentes. O vestido em branco marfim — que terá custado cerca de 90 mil libras (mais de 100 mil euros) — tinha (e tem) um corpete justo e, tanto à frente como atrás, no seu centro foram adicionados painéis de renda antiga que originalmente pertenceu à rainha Mary, a bisavó de Carlos.
Como amuleto da sorte (que terá funcionado q.b), o então casal de designers adicionou um berloque de ouro de 18 quilates cravejado de diamantes brancos na etiqueta e ainda um guarda-chuva a condizer — mas, se chovesse, o material “tão leve” certamente não protegeria a noiva de uma valente molha. Já antes David Emanuel falou deste trabalho como “o maior” da sua carreira. A relação entre Diana e os designers já vinha detrás, quando a futura princesa de Gales escolheu um vestido tafetá da dupla, distanciando-se do look de educadora de infância com preferência por blusas bonitas e saias plissadas.
A acompanhar ainda o vestido de noiva, os sapatos a cargo do famoso sapateiro Clive Shilton — Diana estaria alegadamente consciente de que não queria parecer mais alta do que o futuro marido, com ambos a terem a mesma altura (1,70). Os sapatos de cetim e renda, com pouco salto, e decorados com 500 lantejoulas e 10 pérolas, foram usados por Diana no grande dia (consta que as iniciais “C” e “D” foram pintadas nas solas de camurça, com um pequeno coração no meio, embora tal não seja visível na fotografia). Na cabeça, ao contrário do que fez a sobrinha Lady Kity Spencer no casamento do passado sábado, Diana usou a famosa tiara Spencer, recusando recorrer às muitas joias da futura sogra, a rainha Isabel II, e optando por fazer uma singela homenagem à família — a tiara é pertença dos Spencer há quase um século.
Quarenta anos depois, o casamento de Carlos e Diana continua a ser lembrado e falado. Em 2021, a princesa de Gales faria 60 anos de vida, uma data já assinalada pelos filhos Harry e William, que juntos marcaram presença no evento de inauguração da estátua em homenagem à mãe e mulher que também ficou para a história como a “princesa do povo”. Já Carlos haveria de casar com Camilla em 2005, quase dez anos após o divórcio (28 de agosto de 1996).