Há um ano que o rei emérito espanhol, Juan Carlos, se refugiou nos Emirados Árabes Unidos enquanto em Espanha é investigado por corrupção. Mas a vida que leva na ilha Zaya Nurai, a apenas 15 minutos de barco da capital Abu Dhabi, embora solitária e tediosa, não dispensa qualquer luxo: está numa das onze mansões de um resort de cinco estrelas — uma vivenda com 1.050 metros quadrados, rodeada por uma área circundante com 4.100 metros quadrados, com espaço para seis quartos, sete casas de banho, piscina e acesso a uma praia privada.

O opulente retiro de Juan Carlos foi descrito pelo canal espanhol Telecinco e noticiado também pelo El País. Depois da sesta, passa as tardes na companhia de altos cargos emiradenses, como o príncipe herdeiro Mohamed bin Zayeb ou o piloto Amna al Qubaisi, com quem já se deixou fotografar no alpendre da mansão; e as manhãs no ginásio e em sessões de fisioterapia. Nos intervalos, dedica tempo a ler notícias — principalmente aquelas que têm o próprio com figura central, embora saia frequentemente irritado das sessões de leitura por entender que quase todos os conteúdos são falsos.

Também recebe a família: as filhas Elena e Cristina visitam-no frequentemente, por vezes juntas, conferindo-lhe momentos de alívio na saudade que se alonga há 365 dias. A mulher, a rainha Sofia, nunca lá foi, mas diz-se que planeia uma viagem de poucas semanas até aos Emirados após o verão. Para disfarçar a saudade, quando está sozinho, Juan Carlos realiza sessões de cinema numa das salas da vivenda e telefona aos amigos mais próximos para uma conversa à distância. Quando acorda — cedo, como sempre —, liga imediatamente o telemóvel para saber quem o procurou. As mensagens e telefonemas têm sido cada vez mais escassas.

Raramente sai de casa, exceto para jantar em Abu Dhabi ou para visitar brevemente outros países árabes. Antes de dormir, faz uma ceia e bebe um digestivo. Ao almoço, prefere sempre as carnes de origem espanhola, mas terá confidenciado aos amigos que a gastronomia nacional lhe sabe diferente por estar no deserto. Quer visitar a Zarzuela, mas sabe que não o poderá fazer tão cedo após ter abandonado Espanha voluntariamente — e não enquanto as investigações ainda decorrem.

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Um amigo entrevistado pelo El Español, com quem Juan Carlos confraternizou no Clube Náutico Sanxenxo antes de fugir para o Golfo Pérsico, diz que o rei emérito está “muito triste, deprimido e aborrecido”: “Foi isso que confessou aos que lhe são mais próximos. A infanta Elena visitou-o no final do mês de junho e deu o alerta. Tem o ânimo muito em baixo”.

Juan Carlos está desde março sem receber ajudas monetárias da Casa Real e vive assim do dinheiro que amealhou “ao longo da vida”, escreve o El Mundo, citando fontes próximas do rei emérito. Nem sempre chega e já precisou de pedir ajuda a amigos para saldar algumas dívidas milionárias. Entretanto, o monarca já tem direito a ser residente fiscal dos Emirados Árabes Unidos, uma vez que passaram mais de 183 dias desde que entrou no país. Mas também pode ter arranjado um trabalho: ser diplomata, um mediador entre os vários países da região árabes, que, apesar das suas divergências, têm um fator em comum. Todos respeitam Juan Carlos.

E está de boa saúde física: mesmo sendo portador de um bypass, que lhe foi colocado há dois anos, só precisou de apoio hospitalar para realizar exames de rotina e ficar em observação após ter recebido a vacina contra a Covid-19. Evita utilizar cadeira de rodas para se deslocar porque, mesmo ciente das dificuldades que tem em andar, não pretende manchar a sua imagem. Vai-se servindo de uma bengala e, de vez em quando, dos braços dos guardas civis recrutados para lhe prestar auxílio durante o retiro.