Francis Gonçalves, chef em Cardiff, perdeu no espaço de uma semana a mãe, o pai e o irmão infetados com Covid-19 ,que acabaram por não resistir ao vírus, não estando nenhuma das três vítimas vacinadas. A família de Francis residia em Portugal e diz que foi apanhada numa campanha de antivacinação, pelo que o cozinheiro quer alertar para os benefícios das vacinas e o que podem evitar.
“Eles foram apanhados numa propaganda antivacinação”, disse, citado pelo Guardian. “Procuram as pessoas que têm medo e que acabam por cair nessa armadilha. A mensagem que quero passar é: porque é que o governo quereria prejudicar alguém dando-lhe uma vacina? Qual é o propósito por trás disso? Já falei com tanta gente que está aterrorizada por causa da vacina e isso custa muitas vidas.”
O chef referiu que o seu pai Basil, de 73 anos e originalmente português, terá contraído o vírus no hospital, enquanto que a sua mãe Charmagne, 65, e o irmão Shaul, 40, terão sido infetados num jantar de família. Nenhum dos três estava vacinado, tendo recusado a oportunidade de serem inoculados quando foram chamados.
Shaul era a “pessoa mais saudável”, diz o irmão, que acredita que a vacina lhe poderia ter salvo a vida. “Quando não estava no ginásio ou a correr, fazia caminhadas. Não bebia há 15 anos e tinha uma dieta plant based” (à base de vegetais). Depois do dito jantar de família, Shaul começou a sentir “como se estivesse cheio de pesos por dentro e muito cansado”, tendo o seu estado de saúde, assim como o do pai, piorado muito rapidamente. Tão rápido que, no intervalo de tempo em que Francis Gonçalves aguardava pelos resultados dos testes à Covid-19 que o permitiriam viajar para Portugal, recebeu a informação que não queria: tanto o pai como o irmão já tinham morrido.
Quando chegou a Portugal a sua mãe — que já tinha um quadro clínico com uma doença autoimune — estava em coma induzido, também a lutar contra o vírus. “Eles permitiram que eu a fosse ver, o que já era um sinal de que as coisas não estavam bem”, confessou. Charmagne morreu dias depois.
A família foi enterrada a 1 de agosto no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, de onde não pode ser trasladada devido às circunstâncias de infeção por Covid-19. Os três mudaram-se para Portugal em 2016, um ano depois de se terem instalado em Cardiff, no País de Gales, vindos originalmente da África do Sul.
“[Eles foram enterrados] onde todos os corpos de Covid estão enterrados. Está alocado e marcado. Disseram-me que durante todo este tempo de Covid nunca tinham tido três corpos trazidos juntos da mesma família”, afirmou Francis ao jornal Wales Online. “Perguntei se seria possível a exumação dos corpos numa data posterior e a mudança para algum lugar [do cemitério] fora da zona exclusiva de Covid, já que não representava a minha família. Mas eles disseram que, infelizmente, não sabendo o suficiente sobre a Covid-19, não há intenção de movê-los nunca. Foi terrível.”