Foi desde a primeira hora o grande herói daquele fatídico Dinamarca-Finlândia. Quando Christian Eriksen caiu inanimado junto à linha lateral, no jogo da fase de grupos do Euro 2020, Simon Kjaer foi o único que correu em direção ao colega de equipa. Todos os outros, tal como todos nós faríamos, ficaram parados, levantaram os braços, pediram ajuda mas paralisaram, sem saber o que fazer de imediato. Kjaer, o capitão dinamarquês, atirou-se ao relvado e colocou Eriksen na posição lateral de segurança. Mas fez bem mais do que isso.
Quando a namorada de Eriksen desceu ao relvado, já ciente da gravidade do que se estava a passar, Kasper Schmeichel foi o primeiro a recebê-la mas depressa foi substituído por Kjaer, que agarrou Sabrina com os dois braços e acalmou ligeiramente o pânico de alguém que está a ver um ente querido a receber manobras de reanimação cardíaca. Mais tarde, novamente no relvado e quando os jogadores dinamarqueses formaram um cordão de segurança para proteger a imagem de Eriksen, Kjaer foi o único a ficar de frente para o companheiro, de costas para a transmissão televisiva, para ter noção de tudo o que se passava.
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Cerca de dois meses depois, o Euro 2020 já acabou, Eriksen recuperou mas ainda não se sabe se volta ou não ao futebol e a Dinamarca teve uma prestação muito positiva no Europeu, caindo apenas nas meias-finais com a Inglaterra. De volta ao AC Milan, que arranca a Serie A neste fim de semana, Simon Kjaer de uma entrevista ao Corriere della Sera e recordou os minutos de pânico depois de Eriksen colapsar, garantindo que não quer ser interpretado como herói.
“Não sou herói. Só fiz aquilo que tinha de fazer, sem pensar em mais nada. Foi o que qualquer um faria. Foi um dia histórico para o povo dinamarquês, porque era o primeiro jogo num Europeu num estádio nosso. Primeiro veio a festa, depois aconteceu aquilo e veio o silêncio. Consegui ficar lúcido, bem como os meus companheiros. Agiríamos da mesma forma se fosse um adversário a cair inanimado”, explicou o jogador de 32 anos, acrescentando que “o que importa é que o Christian está bem”. “Isso é a coisa mais importante. O que fiz foi sem refletir, por instinto, fiz o que fiz de forma automática. Foi a primeira vez que fiz aquilo e espero que seja a última”, atirou.
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O central do AC Milan defendeu ainda que todos os jogadores de futebol deveriam ter formação sobre manobras de reanimação para poderem prestar os primeiros cuidados de emergência nestas ocasiões, sem terem de esperar pelas equipas médicas. “Certamente. Espero que aquelas imagens tenham sensibilizado as pessoas para o tema. Os médicos foram muito corajosos, tiveram uma intervenção rápida. Mas saber o que fazer rapidamente é fundamental, pode salvar uma vida”, afirmou Kjaer. Por fim, o dinamarquês respondeu ainda à vaga de fundo criada pelos adeptos do AC Milan nas redes sociais, onde se pedia que fosse nomeado o novo capitão dos rossoneri depois da coragem demonstrada durante a situação com Eriksen.
“Já temos um capitão, chama-se Alessio Romagnoli. Temos uma grande sintonia. Não me interessa a braçadeira, dou sempre o máximo de qualquer forma”, terminou Kjaer, que parte para a segunda temporada completa no AC Milan e já leva uma carreira longa com passagens pelo Midtjylland, Palermo, Wolfsburgo, Roma, Lille, Fenerbahçe, Sevilha e Atalanta.