O presidente executivo da Ryanair, Michael O’Leary, acusa a TAP de estar a “bloquear deliberadamente”, no aeroporto de Lisboa, o acesso a slots (faixas horárias que podem ser usadas pelas companhias para descolar ou aterrar nos aeroportos), que não tem intenção de usar, a companhias aéreas como a low-cost irlandesa, que pede o acesso a 200 slots.

A transportadora portuguesa não está a usar essas faixas horárias, critica a Ryanair, mas nenhuma pode ser usada pelos concorrentes. “Nós precisamos destes slots que não vão ser usados pela TAP. Precisamos que sejam libertados durante a manhã e à noite” para “termos uma verdadeira concorrência em Lisboa“, pediu, acrescentando que se isso acontecer, a low-cost vai criar “mais rotas”, empregos e ajudar a “acelerar” a recuperação do país, disse Michael O’Leary, numa conferência de imprensa em Lisboa, esta terça-feira. O’Leary apelou à entidade que coordena os slots, a NAV, mas também ao Governo e à Comissão Europeia que permita à Ryanair o acesso às faixas horárias.

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Os slots são as faixas horárias que podem ser usadas pelas companhias para descolar ou aterrar nos aeroportos. São também, por isso, limitados pelo número de pistas e são valiosos para as companhias, já que se os perderem, podem, como consequência, perder negócio. Os pedidos de slots são também necessários para que uma companhia abra novas rotas e voos. A Ryanair pede, pelo menos, 200 stlots agora, mas diz que a TAP não está a usar 300, “impedindo os concorrentes” de a eles acederem. O’Leary garante que com 200 slots, “podíamos adicionar mais quatro ou cinco aeronaves”, o que significaria mais “300, 400 empregos”.

“A TAP já reduziu a frota em 20%” e “desbloqueia faixas horárias de forma semanal”, com um pré aviso de “4/3/3 semanas” para que “nenhum outro concorrente, como a Ryanair, possa usá-los”, acusa. “Apelamos ao Governo português e à Comissão Europeia que, como parte da ajuda estatal à TAP, force a TAP a libertar os slots que não vai usar ou não consegue usar porque não tem voos”, apela. A ajuda estatal deve estar depende da libertação dos slots, voltou a defender, embora reconheça que a TAP “não está a fazer nada de ilegal”.

O’Leary considera ainda que o Governo português “não se apercebeu” do que a TAP está a fazer. A transportadora nacional “não gosta de concorrência, não gosta das tarifas baixas da Ryanair“, acusou. E voltou a apontar que, enquanto os “contribuintes” vão colocar 3 mil milhões na TAP, a Ryanair vai investir 300 milhões de euros “sem um euro de ajudas estatais“.

Num comunicado entregue aos jornalistas esta terça-feira, a Ryanair “apela ao Governo Português e ao gabinete de coordenação de slots de Lisboa para impedir a TAP de acumular faixas horárias de descolagem e aterragem [slots] que não tem capacidade para utilizar”. “A TAP não deve ser autorizada a simular que pode utilizar faixas horárias semanais durante toda a temporada, mas depois devolvê-los ao regulador de forma semanal apenas para evitar que os concorrentes as utilizem”, lê-se ainda.

Na última conferência de imprensa, a 23 de junho, as ajudas públicas à TAP motivaram trocas mútuas de acusações entre a Ryanair e o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que tutela a aviação. Na altura, Michael O’Leary já tinha deixado várias críticas, tendo mesmo colocado um “nariz de Pinóquio” numa fotografia do ministro, que acusava de “críticas falsas” contra a Ryanair. Na altura, repetiu a ideia de que dar subsídios de 3,2 mil milhões de euros à TAP é “deitar dinheiro pela sanita”, que nunca será recuperado.

O’Leary também desmentiu, na altura, os argumentos do ministro, recusando a prática de “dumping social” e de incumprimento dos contratos de trabalho em Portugal.

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26 novas rotas a partir de final de outubro

Na conferência de imprensa desta terça-feira, Michael O’Leary começou por segurar dois cartazes onde se lia “300 novos empregos” e “26 novas rotas para o inverno de 2021” (a partir de final de outubro). Essas rotas são desde Lisboa, Porto e Faro, para destinos como Bari, Agadir, Lanzarote, Malta, Palermo, entre outros, e elevam para 124 o total de destinos da low-cost desde/para Portugal.

De Lisboa, as novas rotas serão para: Agadir, Barcelona, Madrid, Alicante, Tenerife, Lanzarote, Billund, Baden, Oujda, Perpignan, Brest, Palermo, Marraqueche, Tours, Wroclaw, Alghero, Birmingham, Bournemouth, Fez, Bari, Malta e Cologne. A partir do Porto, as novas rotas serão para Fez, Bari a Agadir. E desde Faro para Baden. O objetivo é passar a transportar 11,5 milhões de passageiros em Portugal.

A Ryanair já tinha anunciado um investimento de 300 milhões de euros no aeroporto de Lisboa e voltou a fazê-lo esta terça-feira. O CEO da low-cost voltou ainda a questionar o Governo sobre a razão pela qual o aeroporto complementar do Montijo ainda não abriu, já que permitiria à Ryanair criar novas rotas e empregos.

Já questionado sobre as declarações de Pedro Nuno Santos de que “não aceita intromissões nem lições de uma companhia aérea estrangeira ”, Michael O’Leary diz que “podemos não gostar de conselhos, mas devemos pelo menos saber que eles existem“. O líder da Ryanair refere que não espera que “os políticos entendem como funcionam os bloqueios de slots nas companhias aéreas”, mas refere que está a denunciar a situação agora.  Sobre os 300 empregos que a Ryanair diz criar em Portugal, estes cargos dizem respeito a pilotos, assistentes de bordo e engenheiros. E serão “bem pagos”, garantiu.

O’Leary também sublinhou que a Ryanair recebe “zero” em subsídios estatais. “Nunca recebemos subsídios do governo português”, disse, reconhecendo que apenas recebe apoios de “entidades de turismo”. Quanto? “Muito pouco, menos de um milhão”.

Prejuízos em Portugal? “Fazemos menos lucro porque investimos muito”

Michael O’Leary foi ainda questionado sobre o porquê de a companhia aérea ter dado prejuízos, pelo menos, entre 2014 e 2019, como o Observador já escreveu. O gestor garante que a Ryanair não perdeu dinheiro em Portugal, “mas não revelamos quanto dinheiro fazemos. Fazemos menos lucro em Portugal do que noutros países porque investimos muito em Portugal“, respondeu.

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Sobre uma eventual compra da TAP pela Lufthansa, Michael O’Leary disse ter “pena” dos portugueses se isso acontecer, dado que a companhia alemã é a “mais cara da Europa”. E um negócio entre a TAP e a Ryanair? O’Leary chuta para canto: “Nem se fosse de graça”.