Os quatro militares portugueses destacados para o aeroporto de Cabul concluíram a sua missão e chegam esta sexta-feira à noite a Portugal, tendo retirado 58 cidadãos afegãos e atingido “inteiramente” os objetivos, avançou o ministro da Defesa à Lusa.

“Já saíram de Cabul, estão a fazer o caminho de regresso a Portugal e correu tudo muito bem. As circunstâncias foram extremamente difíceis, mas os objetivos foram inteiramente atingidos”, afirmou João Gomes Cravinho em declarações à Lusa.

De acordo com um comunicado enviado ao Observador pelo Ministério da Defesa, os refugiados e os militares portugueses serão recebidos no aeroporto de Figo Maduro, às 20h25, pelo ministro João Gomes Cravinho.

Numa fase inicial, o ministro da Defesa disse que, entre afegãos que trabalharam com Portugal e familiares, estavam identificadas 116 pessoas. No entanto, em declarações esta sexta-feira à Lusa, Gomes Cravinho disse que os militares portugueses retiraram 58 cidadãos afegãos, incluindo intérpretes e tradutores, assim como os seus familiares.

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“Os 58 que vieram correspondem àqueles que contactámos e, depois, que deram seguimento à nossa manifestação de disponibilidade para os acolher. Porque os contactos iniciais que apontavam para 116, vários deles, depois — presumivelmente porque saíram de Cabul com outros — não deram mais seguimento. E, portanto, estou muito satisfeito porque a nossa força que lá esteve conseguiu recolher a totalidade daqueles que deram seguimento à nossa disponibilidade”, indicou.

Segundo o ministro da Defesa Nacional, os militares portugueses retiraram 58 cidadãos afegãos, incluindo intérpretes e tradutores, assim como os seus familiares, que colaboraram com as Forças Nacionais Destacadas (FND) portuguesas, e que deverão chegar a Portugal entre “hoje e amanhã, e eventualmente também domingo”.

“Chegam alguns ainda hoje [sexta-feira], mas ainda não posso confirmar em absoluto, tem havido uma enorme volatilidade, mudança de planos a toda a hora, e portanto, não tenho ainda certeza, mas, em princípio, ainda chegam alguns hoje”, referiu Gomes Cravinho.

Explicando a diferença entre os 116 cidadãos afegãos que constavam inicialmente na lista prioritária do Governo português e os 58 que foram efetivamente retirados, o ministro da Defesa afirmou que, tendo em conta que, “na sua grande maioria”, os interpretes e tradutores que colaboraram com as FND portuguesas também trabalharam com outras forças, o entendimento do Governo é que “muito provavelmente terão saído com outros países”.

No comunicado enviado pelo Ministério da Defesa, lê-se que esta sexta-feira  chega o “primeiro grupo de cidadãos afegãos identificados pelas autoridades portuguesas”. O Observador tentou saber quantos afegãos chegarão esta noite, mas ainda não obteve resposta.

Portugal promete receber mais refugiados afegãos

Numa fase inicial, o ministro da Defesa indicou que Portugal irá receber “bem mais” do que os 58 cidadãos afegãos retirados e do que os 50 a que o Governo já se tinha comprometido no âmbito da NATO e pela União Europeia.

“Virão também outros que Portugal se comprometeu já a trazer (…) das Nações Unidas. No total nós temos capacidade de receber 300 no imediato. Agora, este número terá de ser aumentado nas próximas semanas, não tenho dúvidas sobre isso”, avançou.

Gomes Cravinho diz que “não há calendário” para fim de operação no Afeganistão, mas sim “urgência absoluta”

Nesse âmbito, Gomes Cravinho refere que irá ser discutido “no plano europeu” como trabalhar a “vaga de afegãos que virão para a Europa”, participando Portugal “obviamente” nesse “esforço coletivo”.

“Para além disso, é evidente que a nossa disponibilidade continua para receber outros afegãos que saiam do país, que tenham a possibilidade de vir para a Europa”, afirmou.

Os quatro militares portugueses encontravam-se em Cabul desde quarta-feira de madrugada, tendo como missão apoiar a retirada de cidadãos afegãos do país.

Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e aliados na NATO, incluindo Portugal.