O ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho, afirmou esta quarta-feira que não existe um calendário para a retirada de pessoas do Afeganistão, mas sim uma “urgência absoluta”, sendo que a missão dos quatro militares portugueses que rumaram a Cabul é ajudar a retirar do Afeganistão as pessoas que estão na lista prioritária de Portugal, uma missão de “risco” para a qual estão preparadas.

“É uma missão de risco, com certeza que é, porque é uma situação extremamente delicada e difícil. Mas os nossos militares estão preparados e treinados para isso, com todas as qualidades necessárias para desempenhar a sua missão”, assegurou o ministro da Defesa em entrevista à RTP, afirmando que a prioridade da lista prioritária fazem parte 20 pessoas que trabalharam com Portugal durante os 20 anos de ocupação dos Estados Unidos e dos países da NATO.

Na terça-feira, foi anunciado que quatro militares portugueses, que já tinham estado em Cabul entre janeiro e maio, integrando uma missão da NATO, rumaram até à capital afegã para garantir proteção do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, trabalhando em coordenação com militares espanhóis.

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“Estamos a tentar trazer o máximo número dessas pessoas para Portugal, e os nossos militares estão lá para facilitar o acesso dessas pessoas ao aeroporto e aos aviões”, acrescentou Gomes Cravinho, revelando que, às 20 pessoas identificadas, acrescentam mulheres e filhos, o que vai ao encontro dos critérios da NATO, que estabelecem que os Estados-membros têm a obrigação de acolher essas pessoas — os trabalhadores afegãos podem fazer-se acompanhar por uma esposa e todas as crianças menores ou até aos 21 anos.

“Os tradutores e intérpretes que trabalharam connosco têm o direito de trazer a esposa — uma, no caso de haver mais do que uma, o que acontece por vezes no Afeganistão — e todas as crianças menores ou até aos 21 anos”, explicou o ministro da Defesa.

Assim sendo, conforme revelou o ministro, há um total de 116 pessoas na lista prioritária que Portugal pretende retirar do Afeganistão. “Há uma urgência absoluta que se vai desenrolar ao longo das próximas 24 horas, aproximadamente, que é o tentar retirá-las do Afeganistão”, sublinhou Gomes Cravinho, defendendo que, só depois “vem a parte ‘fácil’”, que é integrar estas pessoas no país.

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Portugal já tinha manifestado disponibilidade para acolher 50 refugiados afegãos e o ministro da Defesa admitiu que venham a ser acolhidos mais refugiados no país, sendo que na próxima terça-feira, 31 de agosto, há uma reunião dos ministros da Administração Interna da União Europeia dedicada ao assunto.

Além das pessoas que trabalharam com Portugal, nota Gomes Cravinho, “há outras [pessoas] que trabalharam para a NATO e para a União Europeia, e haverá também uma necessidade de concertação, no plano da União Europeia, para uma vaga de refugiados que presumivelmente virá do Afeganistão”.

Portugal deve estar orgulhoso, mas, a nível internacional, é preciso “análise muito profunda sobre tudo o que correu mal” no Afeganistão

Referindo-se aos 20 anos da missão dos Estados Unidos e dos países da NATO, entre eles Portugal, no Afeganistão, o ministro da Defesa não hesitou em afirmar que os militares portugueses “fizeram um trabalho excecional e demonstram uma capacidade excecional de interlocução com a população afegã”, o que, na ótica do ministro, foi uma das marcas das forças militares portuguesas.

“Não tenho dúvidas nenhumas que as nossas forças nacionais destacadas podem estar muito orgulhosos do seu trabalho e nós também devemos estar muito orgulhosos desse trabalho”, reiterou.

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Gomes Cravinho sublinhou, no entanto, que “questão diferente é saber se a missão internacional ao longo de 20 anos no Afeganistão correspondeu às expectativas e ao esforço tremendo que foi desenvolvido”.

“Quanto a isso é evidente que temos de fazer uma análise muito profunda sobre tudo o que correu mal ao longo de 20 anos e muito em particular nos últimos meses. Mas este é um momento de trabalhar sobre o que é urgente e imediato, que é extrair o máximo número de afegãos em perigo de Cabul e trazê-los para a Europa”, rematou.

Texto atualizado às 11h30 do dia 26/08 com a citação completa do ministro João Gomes Cravinho sobre as mulheres dos afegãos que trabaharam com Portugal e que serão retirados do Afeganistão