O comité de ética de uma instituição de caridade fundada pelo príncipe de Gales está a investigar um alegado esquema que envolvia pagar para conhecer e jantar com Carlos. As alegações veiculadas pela publicação Mail on Sunday, que cita um controverso email, apontam que doadores ricos poderiam pagar 100 mil libras (quase 120 mil euros) e, assim, ter acesso a um jantar luxuoso com o herdeiro ao trono e uma estadia na Dumfries House, casa de campo do príncipe com morada fixa na Escócia. O email em causa — com um total de 14 pontos — mostra também os seguintes detalhes: Carlos cumprimentaria individualmente cada convidado com uma conversa e também uma fotografia, e os homens responsáveis por facilitar as respetivas doações receberiam, no total, comissões de 25%.
Por 100 mil libras por duas pessoas, de acordo com o email já citado, os doadores podiam fazer uma tour da Dumfries House ou dos jardins da mansão, beber um copo pelas 19h e só então conhecer Carlos. Seguir-se-ia um jantar formal e o entretenimento ficaria garantido com um recital de piano antes de os convidados se retirarem e darem a noite como terminada. No email — enviado a 15 de novembro de 2019 — é ainda detalhado que, consoante a sinergia entre os convidados e a Sua Alteza Real, e também os interesses culturais destes, os doadores seriam colocados em determinadas guest lists.
Michael Wynne-Parker, de 75 anos, remetente do polémico email, reconheceu na noite de domingo que retirava para si uma comissão de 5% das doações asseguradas por instituições de caridade do príncipe. Entretanto, um porta-voz de Carlos já veio garantir desconhecer as comissões dos intermediários e afirmar que a fundação (Prince’s Foundation) cortou relações com os dois homens em causa — Michael Wynne-Parker e William Bortrick. Mas os estragos podem já ter sido feitos, uma vez que a reputação de Carlos corre o risco de ser prejudicada por acusações de que uma associação ao filho da rainha Isabel II pode ser comprada.
Não tínhamos conhecimento de nenhum ganho financeiro procurado por estes indivíduos, a quem nunca pagámos, e encerrámos o nosso relacionamento com os mesmos e encaminhámos o assunto para o nosso comité de ética para investigação”, lê-se na resposta da Prince’s Foundation.
As doações seriam feitas através da conta da Burke’s Peerage, uma editora genealógica britânica fundada em 1826, cujo editor William Bortrick é citado no email como estando envolvido no esquema. Os outros 20% em comissões seriam para um terceiro intermediário. O porta-voz da entidade esclareceu ainda que “Michael Wynne-Parker não representa a Prince’s Foundation e o e-mail que enviou não representa a abordagem da fundação face à angariação de fundos”.
Wynne-Parker afirmou, no entanto, que as doações feitas à fundação variavam entre 100 mil e 1 milhão de libras, insistindo que é “prática normal” o facto de os intermediários receberem uma comissão por facilitarem as doações. Questionado sobre o motivo porque o dinheiro era transferido para a conta da Burke’s Peerage, limitou-se a responder que “foi informado” de que aquele era o veículo. “Acredito que isto acontece com frequência”.
Já William Bortrick negou a alegada má conduta e também qualquer acordo de negócio com Wynne-Parker. “Se o Michael quer fazer negócios, tudo bem, mas não tem nada que ver comigo”, disse, citado pelo Mail On Sunday. “Isto não é algo que alguma vez tenhamos discutimos e, se ele tivesse falado comigo sobre o que estava a enviar para as pessoas, eu teria explodido porque é completamente inapropriado.”
Agora a investigação ficará a cargo de Douglas Connell, presidente da fundação criada em 2018, e Susan Bruce, responsável pelo comité de ética da Prince’s Foundation.