Aos 95 anos, tudo leva a crer que a rainha Isabel II se encontra de boa saúde e não há motivos aparentes para duvidar dessa realidade. No entanto, há muito que os planos do governo britânico para o que acontece nos dias seguintes à eventual morte da monarca estão envoltos em secretismo — até agora. O Politico obteve documentação que mostra em detalhe como decorrerá aquela que é chamada “Operação Ponte de Londres”. E estes são, assegura a publicação, os planos mais recentes elaborados pelo gabinete responsável: prova disso é que incluem detalhes sobre o contexto pandémico atual.

Os documentos obtidos revelam os muitos detalhes referentes aos 10 dias entre a morte da rainha e o seu funeral, incluindo uma grande operação de segurança de maneira a gerir multidões que se esperam ser sem precedentes — num memorando oficial lê-se que Londres poderá ficar “cheia” pela primeira vez, com receios de uma superlotação na capital —, mas também orientações para que o novo rei, o atual príncipe de Gales, faça uma excursão pelo Reino Unido nos dias que antecedem o funeral. E se internamente o dia da eventual partida da monarca ficará conhecido como “D-Day” (“Dia D”, em português), os restantes dias assumirão a forma de “D+1”, “D+2”, etc.

Segundo o Politico, várias preocupações são levantadas nos respetivos documentos, incluindo a forma como providenciar a entrada de vários turistas no país caso a rainha morra durante a pandemia, com os serviços de inteligência a estarem em alerta máximo para ameaças terroristas.

“D-Day”

Nas horas que sucedem a morte da rainha, vários telefonemas serão feitos de maneira a informar não só primeiro-ministro, como o secretário-geral do Cabinet (o mais alto funcionário público do Reino Unido, cargo atualmente desempenhado por Simon Case, responsável pelos funcionários públicos do Governo britânico) e vários dos mais altos ministros e funcionários. De acordo com estes documentos, o primeiro-ministro será informado pelo secretário privado da rainha, que também transmitirá a notícia ao Privy Council Office, que coordena o trabalho do governo em nome do monarca.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Existe até um guião a instruir como a notícia deverá ser dada aos ministros — “Acabamos de ser informados da morte de Sua Majestade, a Rainha” —, aos quais será pedida discrição. Tanto estes como altos funcionários públicos receberão ainda um email do Cabinet onde se lerá: “Caros colegas, é com tristeza que escrevo para informá-los da morte de Sua Majestade, a Rainha.” Só depois deste conteúdo, as bandeiras em Whitehall ficarão a meia haste — algo que terá de acontecer em 10 minutos, sendo que um documento de Downing Street levanta dúvidas sobre se tal é ou não exequível e receia a ira do povo em caso de incumprimento.

No “Dia D” todas as atividades parlamentares serão suspensas, incluindo aquelas da Escócia, do País de Gales e também da Irlanda do Norte — será feita sessão extraordinária no parlamento nacional. Caberá ainda à Casa Real emitir uma nota oficial para dar a notícia ao público.

Olhando agora para a presença online, a página principal do site da família real ficará negra, em sinal de luto, onde será possível ler um curto comunicado a confirmar a morte da monarca. Também a página do governo apresentará uma faixa preta na parte superior, à semelhança de todas as redes sociais departamentais do governo, cujas fotos de perfil serão alteradas. Todo o conteúdo não urgente ficará por publicar e “retweets” serão inicialmente proibidos.

O primeiro-ministro será o primeiro membro do governo a falar à nação e ao ministro da Defesa caberá a responsabilidade de organizar salvas de tiros. Um minuto de silêncio será anunciado. Ainda neste dia decorrerá um serviço de homenagem na Catedral de São Paulo com o PM e alguns ministros.

Restantes dias de luto

Logo a começar o “D-Day+1”, às 10h, o Conselho de Adesão, que engloba altas figuras do governo, encontrar-se-á no Palácio de St. James para proclamar Carlos como o novo soberano. O PM, conselheiros e outras figuras de relevo marcarão presença: o dress code inclui fatos com gravatas pretas ou escuras e exclui todo o tipo de adornos. Uma proclamação a confirmar a ascensão de Carlos será lida aí e também na Royal Exchange. Uma audiência com o novo rei está marcada para o início da tarde, 15h30, com o primeiro ministro e o Cabinet. Ainda neste dia, o seguinte à morte de Isabel II, o parlamento reunir-se-à para elaborar uma mensagem de condolência — à semelhança do que foi escrito acima, as restantes atividades parlamentares ficarão suspensas durante 10 dias.

Ao segundo dia — “D-Day+2” — o caixão da rainha regressará para o Palácio de Buckingham (há diferentes planos consoante o local onde a monarca morrer, caso seja em Sandringham, o corpo será transportado por comboio real para a estação St. Pancras em Londres; caso seja na Escócia, será ativada a Operação Unicórnio, com o corpo a ser também ele transportado de comboio; outra operação entrará em vigor caso o transporte só seja possível por avião).

Ao terceiro dia, Carlos, o novo rei, iniciará uma viagem pelo Reino Unido, começando por visitar o parlamento escocês e um serviço religioso na Catedral de Santo Egídio em Edimburgo. Ao quarto, é esperado que chegue à Irlanda do Norte. Em Londres, será feito um ensaio da Operação Leão, que diz respeito à procissão do caixão entre o Palácio de Buckingham e o Palácio de Westminster (também conhecido como Casas do Parlamento) — a procissão oficial acontece ao quinto dia e o caixão da rainha ficará durante três dias no meio do Westminster Hall, que estará aberto ao público 23 horas por dia.

Ao sexto dia há mais ensaios, desta vez focados na procissão aquando do funeral. E ao sétimo, Carlos estará a chegar ao País de Gales. O dia do funeral de estado será dia de luto nacional e será feriado (se o funeral ocorrer durante o fim de semana ou em cima de um feriado, um feriado extra não será atribuído).

O funeral — e a derradeira despedida a Isabel II — acontece ao décimo dia e vai ocupar a Abadia de Westminster. Quando os relógios marcarem as 12h, serão feitos dois minutos de silêncio em toda a nação. Serão ainda feitas procissões em Londres e em Windsor. Depois de um serviço religioso na Capela de São Jorge no Castelo de Windsor, onde também decorreu o funeral do príncipe Filipe em abril deste ano, o caixão será enterrado na Capela Memorial do Rei George VI.