Depois de petições públicas, ordens de despejo e proposta de indemnizações, a livraria Poetria, única especializada em poesia e teatro do país, encontrou uma nova morada na baixa do Porto, deixando assim as míticas Galerias Lumière. “Felizmente a autarquia percebeu que a Poetria é mais do que um empresa, é um ativo cultural da cidade, sendo também uma editora que dá voz a tantos talentos do Porto. Foram dois anos de luta, mas valeram a pena“, afirma Nuno Pereira, um dos responsáveis, ao Observador.
Inauguradas nos anos 80, as Lumière funcionaram como sala de cinema e até como discoteca, mas em 2014, o edifício de dois andares que liga a Rua das Oliveiras e a Rua de José Falcão reabriu ao público como uma galeria comercial, albergando vários projetos da cidade, entre lojas, restaurantes e escritórios.
Em 2019, os lojistas começaram a ser contactados pela administração, a empresa Imocpcis – Empreendimentos Imobiliários S.A, para abandonarem o espaço uma vez que este iria ser vendido ao IDS Grupo para ser um hotel. O anúncio mereceu uma petição pública e várias mobilizações cívicas contra este desfecho.
O fim das Galerias Lumière: uns lutam com advogados, outros rendem-se e fecham a porta
Muitos acordaram indemnizações e saíram, mas Francisco Reis e Nuno Pereira, responsáveis pela livraria Poetria, ali instalada há 18 anos em apenas quatro metros quadrados, resistiram a todas as ordens de despejo e rejeitaram qualquer indemnização por parte da empresa imobiliária proprietária por considerarem que o contrato de aluguer seria válido até 2025.
Em novembro de 2019, os donos da Poetria contactaram a autarquia na tentativa de encontrar um novo espaço para a livraria, sendo que permanecer na baixa do Porto e com uma montra virada para a rua seriam requisitos importantes. Após vários meses encerrados devido à pandemia e sem capital para abrir numa outra morada, Francisco e Nuno defenderam que a livraria deveria permanecer onde nasceu.
A Poetria era atualmente um dos três negócios a funcionar nas galerias, mas esta segunda-feira a câmara aprovou por unanimidade a decisão de ceder um espaço no número 115 da Rua de Sá Noronha, precisamente a 100 metros da antiga morada. O contrato tem a duração de dois anos, é renovável, e implica o pagamento de uma renda mensal de 50€.
“É uma loja francamente maior, com dois andares, onde podemos fazer organizar eventos como apresentações de livros ou debates. Nunca foi utilizada antes, por isso serão necessárias algumas obras no chão que está em bruto e na parte de eletricidade, mas a partir de outubro já poderemos ocupar o espaço“, adianta Nuno Pereira ao Observador.