As urnas para as eleições legislativas e locais de Marrocos já encerraram esta quarta-feira, num dia marcado por um ligeiro aumento da participação até às 12h e por denúncias de irregularidades do partido islâmico moderado Justiça e Desenvolvimento (PJD).
Na ausência de resultados preliminares das eleições, que ainda serão divulgados pelo Ministério do Interior durante a noite, a votação decorreu sem grandes incidentes, além das queixas do PJD — que pode perder hoje o poder por atritos e divisões internas — e de outro partido minoritário sobre práticas ilegais.
Numa nota, o partido islâmico, que governa o país desde 2011, denunciou a compra de votos nas imediações de algumas e escolas e a transferência de massiva de eleitores para mesa eleitorais organizadas por outros partidos.
O PJD reclamou também ataques a militantes e a algumas sedes e referiu que a votação terá sido permitida sem prova adequada de filiação, em alguns ocorreu apenas com uma fotocópia do bilhete de identidade.
Em declarações à agência de notícias EFE, a secretária-geral do Partido Socialista Unificado (PSU), Nabila Munid, denunciou também o suborno monetário a eleitores nas proximidades de estabelecimentos de ensino e até ilegalidades nos centros, onde, segundo a mesma, encontraram folhetos de propaganda eleitoral, assim como agressões a militantes.
Além das reclamações dos partidos, os números da participação dos eleitores das 12h00 até às 17h foram ligeiramente superiores às de 2016 e 2011. Até ao meio-dia, registou-se uma participação de 12%, face aos 10% assinalados há cinco anos, e às 17h a taxa subiu para 36%, mais dois pontos percentuais que em 2011.
Os analistas atribuem o aumento da participação das pessoas ao facto de hoje três eleições (legislativas, autárquicas e regionais) coincidirem e as autárquicas atraírem mais eleitores, uma vez que os candidatos estão mais próximos dos cidadãos.
De acordo com a 2M, televisão pública marroquina, a percentagem de votantes aumentou para 52% no círculo eleitoral de El Alaiún, a maior cidade do Sahara Ocidental, onde o histórico e nacionalista Partido Istiqlal (PI), com forte poder na região, mobilizou dezenas de carrinhas para levar os eleitores às urnas.
As eleições gerais foram realizadas com fortes medidas sanitárias, já que Marrocos está sob uma terceira vaga da pandemia e com toque de recolher obrigatório em todo o país, tendo restringido a campanha a eventos ‘online’ e a caravanas de carros nas ruas.
É difícil prever um vencedor, uma vez que em Marrocos estão proibidas as sondagens à boca das urnas. Além disso, em março foi aprovada uma nova lei eleitoral que muda o sistema de distribuição de lugares no parlamento, tirando peso aos partidos maiores.
Previsivelmente, os dois principais partidos (o PJD, que ganhou 125 lugares em 2016 de 395 no parlamento marroquino; e o Partido da Autenticidade e Modernidade (PAM), que ganhou 102) terão agora menos lugares, e os outros dois o PI e os liberais do RNI (National Rally of Independents) vão obter muitos mais.
Estas são as terceiras eleições desde a aprovação da nova Constituição de Marrocos, em 2011, nascida na Primavera Árabe e que deu mais poderes legislativos, numa monarquia constitucional onde o rei ainda possui um grande poder.
Nos programas eleitorais, os partidos apresentaram propostas para superar a crise económica e sanitária, mas não incluíram avanços nos direitos individuais, como a descriminalização de casos extraconjugais, homossexualidade, aborto ou quebra do jejum no Ramadão.