É costume dizer-se que num jogo como o Sporting-FC Porto o que está para trás não interessa. Nem a forma recente, nem a classificação, havendo até aquela lenda, mais ou menos urbana (e sobretudo aplicada ao grande dérbi lisboeta), de “quem está pior é que ganha”. Fora o mito, a verdade é que o jogo começa 0-0, a Primeira Liga arrancou há pouca semanas e a procissão vai no adro. Num mundo ideal para Sérgio Conceição, técnico dos dragões, e Rúben Amorim, timoneiro dos verdes e brancos, todos os jogadores estariam à disposição. Não é possível, porque há lesões e castigos, mas, mesmo assim sendo, que todos estivessem, como se diz,“fresquinhos”. O que acontece é que o primeiro clássico da temporada vem após pausa para os compromissos das seleções e ambas as equipas, pela sua qualidade, têm vários jogadores internacionais que andaram em corrida, na relva e em viagem, um pouco por todo o mundo.

Temos, portanto, além dos minutos disputados em que cada partida dos seus países, vistos com toda a atenção e “medo” por Amorim, Conceição e os demais treinadores na mesma posição, o cansaço acumulado das tais voltas ao planeta, os pulos de país em país, de continente em continente. Claro que os treinadores não esperam mais do que o máximo de cada um dos seus atletas mas, tendo em conta estes dois fatores – minutos e viagens –, quem é que pode tombar mais cedo fisicamente? Vamos às contas, mesmo que conclusões só depois do jogo de sábado ou até nos dias seguintes.

Menos quilómetros? Sim. Sorriso de Amorim? Provavelmente não

“Fui operado em 2013 e desde aí que o meu joelho não é o mesmo. Os problemas arrastavam-se há duas semanas, mas fiz força para jogar. No último jogo [Famalicão] o meu joelho inchou mais do que o habitual. O Sporting decidiu fazer-me uns testes e entrou em contacto com os médicos da seleção. Foi decidido que o melhor era eu fazer tratamento. Levei uma injeção depois do jogo e tudo. Espero voltar à equipa esta semana e tentar chegar bem ao jogo”, disse Coates numa entrevista recente a um meio uruguaio. Ora, trata-se nada mais, nada menos do que do capitão da equipa de Rúben Amorim e um dos esteios, não só da defesa, como do plantel campeão nacional.  Resumindo: foi convocado para o Uruguai e, lesionado, não foi. Apesar de já estar a fazer treino condicionado, não é motivo para o treinador dos leões sorrir.

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Também não é o facto de Gonçalo Inácio e Pedro Gonçalves, ambos convocados por Fernando Santos para a principal seleção portuguesa, não estarem bem fisicamente, o que os levou a não ir à Seleção. Mais um par de jogadores que não deu a volta à Europa, mas que não está ou não estará a 100% para o jogo deste sábado. Quem andou em viagem foi João Palhinha, que fez 75 minutos contra a Rep. Irlanda e mais 45 contra o Azerbaijão, sendo poupado frente ao Qatar. No entanto, viajou 12.700 quilómetros com os colegas da seleção que também voltaram depois a Portugal.

Tiago Tomás foi convocado por Rui Jorge para defrontar pelos Sub-21 de Portugal a Bielorrússia, na Amadora, mas acabou por não jogar e, tal como Pote e Inácio, tem feito apenas tratamento.

A finalizar as viagens no mundo do leão, destaque para Sarabia, o espanhol que fez o caminho inverso de Nuno Mendes, que foi para o PSG. Mesmo que não jogue ou não seja convocado (o que não parece provável), a verdade é que é do Sporting, jogou pela sua seleção (cerca de 60 minutos nos três encontros), tendo viajado cerca de 9.000 quilómetros. Para se chegar a Alvalade pelo mesmo sítio de onde se partiu, mais um elemento da equipa de Rúben Amorim que foi chamado à seleção do Uruguai: Ugarte. O médio, em estreia, não jogou contra Equador e Peru mas fez 20 minutos frente à Bolívia. Viajou 21.700 quilómetros.

A volta ao mundo (fora) do Dragão

A interrupção do Campeonato também não terá agradado a Sérgio Conceição (em teoria o que se pode queixar mais das seleções) que viu, inclusivamente, os colombianos Luis Díaz e Uribe jogarem ainda esta madrugada, com o extremo a fazer um golo, na vitória por 3-1 frente ao Chile. Os dois jogadores vão apresentar-se apenas em Lisboa, tal como o mexicano Tecatito Corona, que também esteve a representar o seu país.

Díaz e Uribe, entre Portugal, Colômbia, Bolívia e Paraguai viajaram cerca de 21.400 quilómetros antes da esperada entrada de início em Alvalade no próximo sábado. Além do número estrondoso de quilómetros feitos pelos jogadores dos azuis e brancos, há a somar os minutos em campo a dividir por três encontros, com Bolívia, Paraguai e Chile. Luis Díaz alinhou 58, 23 e 90 minutos, respetivamente, com Uribe a jogar mais tempo (74, 79 e 90).

Voltando a Corona, depois de não ter sido utilizado frente à Jamaica, o mexicano jogou cerca de 70 minutos contra a Costa Rica e 85′ frente ao Panamá. Assim, o extremo do FC Porto, que termina contrato no final da temporada e até nem tem sido opção de início pela escolha de Bruno Costa para o meio, Otávio na direita e o grande arranque de época de Díaz à esquerda, viajou aproximadamente 18.600 quilómetros.

Depois da viagem às Américas, a seleção nacional. Ou melhor, as seleções nacionais. Na Sub-21, que jogou na Amadora, frente a Bielorrússia, numa vitória por 1-0, a viagem não será propriamente o “pior”, mas sim os minutos que os jovens dragões acabaram por jogar sob o comando de Rui Jorge. Há que destacar João Mário, que arrancou de forma algo surpreendente como o lateral direito da equipa de Sérgio Conceição, que alinhou 90 minutos, os mesmos de Vitinha. Fábio Vieira saiu de campo por volta dos 75′ e Francisco Conceição jogou a última meia hora.

Na principal equipa de Portugal, Diogo Costa, Pepe e Otávio andaram às voltas pela Europa, mesmo que um dos encontros tenha sido contra uma equipa não do velho continente. O guarda-redes, em estreia nos convocados de Fernando Santos, não alinhou nenhum minuto, fez de qualquer forma os mesmos 12.700 quilómetros entre Portugal, Debrecen (Hungria) e Baku de Pepe e Otávio, o outro estreante. O luso-brasileiro fez 90 minutos (e um golo) na estreia frente ao Qatar, mais 12 minutos frente ao Azerbaijão. Já Pepe, alinhou todo o jogo nos encontros oficiais, contra a Rep. Irlanda e ainda com os azeris, descansando no encontro com o Qatar onde foi poupado devido a algumas queixas físicas.

O defesa Nanu, ao serviço da Guiné-Bissau, alinhou 90 minutos frente a Guiné Conacri e Sudão, tendo viajado um total de 12.900 quilómetros, mais do que andou Mbemba, que ao serviço da República Democrática do Congo e frente a Tanzânia e Benim teve de viajar 10.00 quilómetros. Pela Nigéria, Zaidu não jogou contra a Libéria e entrou para os últimos 6 minutos em Cabo Verde, com um total de deslocações de 10.000 quilómetros.

Para fechar a equipa de globetrotters do FC Porto, há que falar de Taremi, que alinhou praticamente todos os minutos frente à Síria e ao Iraque, deslocando-se cerca de 10.600 quilómetros.

Sendo claro que os jogadores do FC Porto, que eram também mais, foram os que fizeram mais quilómetros e minutos, a verdade é que a Rúben Amorim não deve agradar nada a condição de Coates, os quilómetros dentro e fora de campo feitos por Palhinha nos últimos dias ou a condição física de Pote. É costume dizer-se que num jogo como este só interessa o que está dentro de campo. É verdade, mas não se pode negar que há muito a influenciar no que aparece dentro das quatro linhas.