“Vai ser uma vitória fácil para o Max, vai ser um golpe duro nas contas do título para mim.”

Podia ser uma frase realista e pragmática, podia ser uma tentativa de passar a pressão ainda mais para o seu adversário mais direto, podia ser somente uma espécie de mind game à britânica como os que os treinadores às vezes ainda fazem. Uma coisa é certa: antes do arranque do Grande Prémio da Itália, estando só a cinco pontos de Max Verstappen na classificação, Lewis Hamilton traçava um cenário nada favorável antes da prova de Monza, quase deitando a toalha ao chão ainda antes de começar. Teria razões para isso?

O campeão mundial, que procura este ano o oitavo título para se isolar como o mais vencedor de sempre em quase todos os registos da Fórmula 1, liderou durante várias corridas o Mundial, aumentou esse fosso em Silverstone e na Hungria mas desceu à segunda posição depois das vitórias do neerlandês na Bélgica e nos Países Baixos. Mais do que números, a Red Bull deixou de ser a grande adversária da Mercedes para tornar-se o opositor a “abater” por todos os outros, algo que ficou bem patente em Zandvoort. No entanto, a sprint race deste sábado mostrou um filme um pouco diferente apesar de mais uma pole de Verstappen.

Valtteri Bottas, finlandês que está comprometido com a Alfa Romeo para a próxima temporada, conseguiu o primeiro lugar e conquistou mais três pontos, saindo da última linha da grelha de partida por ter trocado de motor. Assim, o neerlandês, que ficou em segundo, saltou para a frente. E ainda houve a surpresa Daniel Ricciardo, capaz de pontuar nesta novidade no calendário que lhe garantiu uma vaga na primeira linha da grelha. Hamilton, depois de um arranque em que deixou o carro “patinar”, iria sair apenas do quarto posto mas com outro obstáculo: os 18 segundos de distância para Verstappen na sprint race.

Afinal, nada acabou por contar. Verstappen não terminou a corrida e acabou o fim de semana apenas com os dois pontos de sábado, Hamilton não fez melhor e ficou também de fora e foi a McLaren que acabou a ter a corrida de sonho com um 1-2 que não acontecia desde 2010 tendo ainda Bottas a fechar o pódio, num triunfo do piloto mais cool da grelha que aproveitou da melhor forma os ânimos quentes dos líderes. O australiano, que por coincidência é o piloto que mais saltou de equipa desde que começou a série “Drive do Survive” da Netflix (onde é uma das “personagens” mais divertidas), não ganhava desde o Mónaco em 2018.

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A corrida iria depender muito de quem ficaria na frente após os quase 500 metros até à curva 1 e foi mesmo aí que as coisas começaram a mudar em relação ao que Hamilton pensava: Daniel Ricciardo teve uma saída fantástica, chegou ao primeiro lugar com relativa facilidade, o britânico passou para a frente de Lando Norris também, arriscou passar também Verstappen tendo depois alargado a trajetória e descido à quarta posição. Emoção não faltava enquanto Valtteri Bottas continuava a subir lugares a partir de 19.º (alcançou mesmo o oitavo posto antes das paragens iniciais), com o neerlandês da Red Bull a não conseguir chegar-se ao McLaren do australiano e o britânico da Mercedes só a passar Norris na altura das paragens.

A paragem de Verstappen iria em definitivo complicar a vida de Verstappen mas dentro da corrida haveria (e continuará a haver) outra corrida pela liderança do Mundial e foi isso que levou a que ficasse de fora a par de Hamilton quando o britânico saiu das boxes, entrou ligeiramente à frente, fechou a porta ao adversário e os carros acabaram por ir parar à gravilha sem volta a dar. “Isto é o que acontece quando não dão espaço…”, lamentava nas comunicações com a equipa o piloto da Red Bull, antes de sair disparado do monolugar enquanto o britânico continuava ainda a tentar tirar o carro daquela zona mas sem sucesso.

Tudo ficaria reorganizado na frente com a bandeira amarela, recomeçando a corrida com Ricciardo na frente, o Ferrari de Charles Leclerc em segundo, Lando Norris em terceiro e Bottas já num impressionante sexto lugar sabendo que, apesar de ter saído do último posto da grelha, era o mais rápido em pista. Mudou até ao final mas no mais relevante foi mais do mesmo: a McLaren conseguiu os dois primeiros lugares com Ricciardo (que fez ainda a volta mais rápida) e Norris, Bottas foi a tempo do terceiro lugar, Leclerc acabou na frente de Sergio Pérez. Uma grande corrida que dará o mote para o que resta até ao final do Mundial.