As empresas portuguesas não anteveem mudanças nas relações comerciais entre a Alemanha e Portugal, apesar da incerteza em torno da sucessão da “grande” e “carismática líder” Ângela Merkel, e realçam a relevância “de manter o importante relacionamento económico bilateral”.
“Não antevejo qualquer alteração no ambiente de negócios com Portugal”, disse à agência Lusa o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), enquanto o líder da Associação Empresarial de Portugal (AEP) sublinhou “a importância de, independentemente dos resultados eleitorais, se manter o importante relacionamento económico bilateral, quer em termos comerciais, quer de investimento”.
“Não podemos esquecer que a Alemanha é uma das maiores economias e um dos principais exportadores e importadores mundiais, pelo que o seu âmbito de intervenção tem um impacto também global”, sustentou o presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro.
Salientando que a Alemanha se destaca como “o maior mercado e é também um dos principais parceiros de Portugal” na União Europeia — é o terceiro cliente nas exportações portuguesas de bens, com uma quota em torno de 12%, e o segundo principal fornecedor, com um peso de cerca de 13% – o dirigente associativo notou que, “em ambos os fluxos, há uma elevada concentração em bens industriais, nomeadamente máquinas e equipamento e material de transporte, ou seja, produtos com elevado grau tecnológico e valor acrescentado”.
Adicionalmente, sustenta, “a Alemanha é também um importante país de origem do investimento direto estrangeiro em Portugal”.
“Tudo isto significa que é um mercado que potencia uma estratégia de reindustrialização que a AEP defende para Portugal e que poderá contribuir para a redução do nosso défice crónico estrutural da balança comercial”, considera Luís Miguel Ribeiro, acrescentando: “É este o foco que devemos continuar a ter no período pós-eleitoral”.
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Já o presidente da CIP, António Saraiva, reconhece que “a incerteza sobre os resultados das eleições de 26 de setembro e a solução governativa que se seguirá torna difícil especular sobre qual será a posição da Alemanha sobre importantes desenvolvimentos que marcarão o futuro próximo da União Europeia”.
Como exemplos, aponta a reforma da governação económica, a política industrial e de concorrência, a implementação do Pacto Ecológico Europeu e a estratégia comercial face aos novos equilíbrios geoeconómicos mundiais.
“Em particular, pergunto-me se a Alemanha dará novos passos na flexibilização dos seus tradicionais princípios de ortodoxia económica, tanto na sua política interna como nas posições que defende na ordem europeia”, questiona.
Para a CIP, “todos estes desenvolvimentos serão decisivos para o futuro das empresas europeias, para a coesão e dinamismo do mercado único, para o posicionamento da economia europeia na economia global”.
À Lusa, António Saraiva descreve a chanceler alemã como uma pessoa “firme nos seus princípios e convicções, capaz de tomar decisões difíceis e impopulares”, mas que “revelou igualmente grande capacidade de fazer pontes e estabelecer consensos com grande pragmatismo”.
“A chanceler Angela Merkel marcou profundamente o destino da Alemanha e da Europa nos últimos 16 anos”, considera o líder da CIP, para quem “as características da líder carismática da maior potência europeia foram fundamentais para manter a unidade da Europa ao longo de um período marcado por diversas crises”, desde a gestão da crise das dívidas soberanas, à crise migratória e à resposta europeia à pandemia e ao seu impacto económico.
O presidente da AEP destaca também a “enorme capacidade de liderança” de Angela Merkel, “reconhecida a nível europeu e mundial”, entendendo que “demonstrou ser uma grande líder europeia e vai, certamente, ser uma referência na história económica contemporânea”.
“A saída de uma figura política com este perfil não será seguramente indiferente. De qualquer modo, a Alemanha será sempre uma grande potência e uma grande locomotiva a nível mundial, europeu e nacional, como tem demonstrado ser até aqui”, considera.
Para António Saraiva, a “principal questão” que se coloca com a saída de Angela Merkel da cena política é mesmo “se a futura liderança da Alemanha terá a mesma visão que expressou, quando apresentou, com o Presidente francês, o plano de recuperação para a Europa: ‘A resposta é que a Europa precisa agir junta. O Estado nação por si só não tem futuro […]. A Alemanha só ficará bem se a Europa ficar bem'”.
As eleições de 26 de setembro próximo porão fim à chamada “era Merkel”, após 16 anos de liderança conservadora da CDU de Ângela Merkel.
Além das eleições que decidem o novo chefe de Governo alemão, estão também marcadas votações regionais para os Estados de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental e Berlim.