A imprensa brasileira não deixou cair o que se passou no almoço entre Marcelo Rebelo de Sousa e Jair Bolsonaro no Itamaraty, em Brasília, no passado dia 2 de agosto. Nas últimas horas, o encontro voltou a ganhar destaque na imprensa brasileira com um dos mais conhecidos colunistas do jornal O Globo, Lauro Jardim, a divulgar duas piadas de cariz sexual contadas pelo Presidente brasileiro que constrangeram o homólogo português. São piadas típicas de aluno do “quinto ano”, descreveu ainda o jornalista.
À mesa no dia 2 de agosto, um dos momentos que deixou a comitiva portuguesa embaraçada aconteceu quando Marcelo relatava que algumas vezes substitui o jantar por Fortimel, um suplemento alimentar, garantindo que “é bom para tudo”. O Presidente brasileiro respondeu: “Hum, é bom para tudo, é?” Após a piada, Bolsonaro não conteve o riso, enquanto a comitiva portuguesa ficou sem reação.
Noutro episódio ainda no almoço, Marcelo contava uma história sobre os examinadores de uma prova oral de uma diplomata portuguesa, tendo sido interrompido por Bolsonaro, que voltou a fazer insinuações de teor sexual. Depois desta intervenção, o Presidente brasileiro ficou a rir-se novamente sozinho, segundo o jornal, — e os representantes portugueses ficaram constrangidos.
No próprio dia, antes de serem conhecidas as piadas feitas por Bolsonaro, Marcelo foi questionado pelos jornalistas sobre a forma como o homólogo brasileiro havia recebido a comitiva portuguesa, tendo o Presidente da República recusado “formular juízos […] relativamente à postura dos anfitriões”.
Já no último mês, Lauro Jardim havia escrito que Bolsonaro fizera “o papel de tiozão do churrasco”, não se sabendo ainda qual o tipo de piadas, tendo, na altura, frisado que a comitiva portuguesa saiu “pessimamente impressionada” com o Presidente brasileiro.
Recorde-se que a Associação pela Fraternidade Portugal-Brasil foi a primeira a denunciar — cinco dias após o encontro — as “piadas de cunho sexual” contadas pelo Presidente brasileiro, destacando ainda as “referências jocosas ao povo português”. “Bolsonaro destilou com desenvoltura um repertório de asneiras e grosseiras que constrangeu o seleto grupo de autoridades internacionais”, lê-se na nota de repúdio publicada em agosto.
A associação instava “um pedido público de desculpas” a Jair Bolsonaro, num momento em que o “Brasil segue em crise sanitária, sendo o país no mundo que mais mata de Covid, cada vez mais isolado económica e diplomaticamente”.
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Em Brasília, os dois chefes de Estado estiveram juntos a 2 de agosto numa reunião de trabalho seguida de um almoço. O encontro ficou desde logo marcado pelo contraste das duas comitivas no que toca às medidas de higiene sanitária. Enquanto Marcelo Rebelo de Sousa e a comitiva portuguesa utilizaram sempre máscara, Jair Bolsonaro e quem o acompanhava não.
Na reunião entre os dois Presidentes esteve em cima da mesa a relação de cooperação entre os dois países, nomeadamente a nível económico, bem como a participação de Portugal nas comemorações dos 200 anos da independência do Brasil, que se assinalam em 2022. Foi também discutido o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, assinado em 2019, mas que ainda não entrou em vigor por países como França, Áustria ou Bélgica não o terem ratificado, justificando não ter havido um reforço das políticas ambientais, principalmente pela parte brasileira.
No Brasil, Marcelo Rebelo de Sousa reuniu-se ainda com o ex-Presidente e potencial candidato às eleições presidenciais de 2022 Lula da Silva, bem como com outros ex-Presidentes brasileiros, como Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer.