Logo na sua intervenção inicial a presidente executiva da TAP referiu o número de 10 mil milhões de euros como o contributo que a transportadora trará para o Produto Interno Bruto (PIB) até 2030, por comparação com o cenário em que a empresa não seria apoiada pelo Estado, o que implicaria a insolvência.

Este impacto, cujo valor resulta de um estudo realizado no início do ano e do qual não foram dados mais detalhes, é “consideravelmente superior à ajuda pública esperada para a TAP”, sublinhou Christine Ourmières-Widener sem referir se o estudo avaliou a substituição da TAP por outra empresa mais pequena. Nas respostas aos deputados da comissão parlamentar de resposta à pandemia e do processo de recuperação económica e social, a gestora não indicou qual será o valor total dos apoios do Estado à empresa que se espera superem os três mil milhões de euros.

Na sua primeira intervenção pública no cargo, Christine Ourmières-Widener afirmou que a TAP “está no topo da lista das companhias mais afetadas pela pandemia”, ainda que o problema seja grave para todo o setor. A gestora agradeceu aos portugueses que, através do Estado, “são os maiores acionistas da empresa e para os quais temos uma grande responsabilidade”, referindo os 1.200 milhões de euros, mais os 462 milhões de euros, de ajudas públicas recebidas em 2020 e 2021.

Perante a pergunta sobre se seria melhor deixar cair a empresa, respondeu que como especialista “não posso apoiar” porque a TAP serve destinos críticos para o país, ilhas e diáspora, representa uma comunidade, o que não pode ser feito por outra organização. O objetivo é que a TAP se mantenha uma companhia de bandeira, mas que seja sustentável e rentável, avisando contudo que a indústria vai demorar a recuperar o nível de 2019.

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A gestora evitou ainda explicar como pediu a deputada do CDS, Cecília Meireles, se teria sido possível ou vantajoso uma solução como a usada na Alitalia. Fechar para abrir outra empresa ao lado. E contornou perguntas diretas sobre quanto poderá custar ao TAP até 2022 e remeteu todas as matérias sobre a negociação do plano de reestruturação com a Comissão Europeia e eventuais exigências para o Governo a quem compete negociar. Ainda assim, assinalou que “não estamos à espera da aprovação do plano de reestruturação, estamos a fazer muitas coisas” desde o corte de pessoal e redução de frota até à digitalização. E sublinhou que já são visíveis os sinais de retoma com a receita por passageiro a subir, apesar de ainda existirem muitos países com fronteiras fechadas.

A audição realizada por meios digitais foi marcada pela necessidade de tradução para português das respostas dadas em inglês (com sotaque francês) e da tradução para a CEO da TAP das perguntas feitas em português, o que prolongou o processo, mas também pelo formato que deu à presidente executiva apenas 12 minutos (com alguma tolerância) para responder a uma bateria de perguntas de quase todos os partidos com assento no Parlamento — faltaram apenas o Chega e o PAN e as deputadas não inscritas.

Quanto às perguntas sobre os despedimentos, feitas sobretudo pela esquerda, Christine Widener justifica o plano de redução de custos como uma questão de sobrevivência da empresa cujas receitas caíram 41% na primeira metade do ano. “A estrutura de custos não era sustentável”. A TAP tem em curso um despedimento coletivo de 78 pessoas e apesar de reconhecer eventuais picos de procura e trabalho, a gestora diz que a empresa está a dimensionar a força de trabalho à procura.

Fechar rota de Porto Santo no Inverno foi decisão económica

Já depois da audição ter sido dada como terminada, o deputado do PSD Madeira, Paulo Neves, interpela diretamente a presidente da TAP com uma pergunta em francês sobre a eventual reversão da decisão de eliminar o voo para o Porto Santo no Inverno. Christine Ourmière-Widener explica que a rota foi objeto de um avaliação económica que concluiu não ser possível realizar esse voto de forma sustentável. A decisão de encerrar a rota no Inverno foi uma decisão económica que poderá ser reanalisada se surgirem novos dados.

Ainda sobre a oferta no Porto, a presidente da TAP confirmou o que a empresa já tinha anunciado no plano de voos para o Inverno: que haverá ligações diretas de longo curso a Nova Iorque e Brasil. Outras rotas serão analisadas caso a caso, já que é necessário alimentar o hub em Lisboa.