É sábado e os fatos e a formalidade ficaram no armário. Saíram os pólos mais desportivos, as camisas por fora das calças e as sapatilhas. Rui Moreira joga em casa na Foz do Porto. Segue em frente da comitiva, lado a lado com Tiago Mayan Gonçalves. É impossível passarem despercebidos, até porque o tamanho de ambos dá nas vistas. Lideram a equipa como dois centrais, Rui Moreira a capitão.
Partem mais de 50 pessoas da fonte luminosa na Avenida Montevideu mas vão-se juntando mais ao longo do percurso. Ninguém por ali é desconhecido. Quem apanha a caravana de frente cumprimenta o autarca. “Bom dia, senhor presidente” ou “olá, tio”. Os eleitores ali são família. Há muitos conhecidos. O autarca não vive muito longe dali e nesta manhã de sábado conta com a presença da mãe, a irmã e da mulher.
De camisa azul a condizer com as cores do movimento “Aqui há Porto” comanda a comitiva pelas ruas e não pára, só mesmo quando é abordado. E por aqueles lados nem há queixas. Há ainda tempo da habitual foto em frente à estátua do Homem do Leme, que já se tornou uma tradição e uma superstição. Moreira é o primeiro a posicionar-se e chama os restantes. Mas é altura de seguir caminho, até porque há um encontro de amigos prestes a acontecer.
Entra pelo Mercado da Foz e pára em duas ou três lojas. “Não tem aí nenhuns sapatos meus hoje?”, pergunta para dentro de um sapateiro, depois de ter passado no talho e antes de, na peixaria, ser apanhado de surpresa. “Senhor presidente tenho uma queixa”, diz em jeito de brincadeira, antes de Rui Moreira se virar e ver que ali estava um aliado político, o presidente da Iniciativa Liberal, um dos partidos que apoia o movimento independente.
Numa mesa para quatro, Rui Moreira, Cotrim Figueiredo, Tiago Mayan Gonçalves e Miguel Pereira Leite sentam-se a beber uma água – até porque a caminhada já vai longa para alguns – e conversar, longe dos microfones, num ambiente descontraído e entre sorrisos.
João Cotrim Figueiredo esclareceu pouco depois que não se tratou de algo político. Foi mais do que isso. É um “encontro de amigos” e o líder da IL faz questão de “respeitar o cariz apartidário da candidatura”. “Conheço o Rui há muitos anos, tenho muito respeito e amizade pessoal por ele e pelo trabalho que fez no Porto. Merece este apoio sem que seja confundível por uma coligação partidária que não é”, elogiou Cotrim Figueiredo.
Mas havia mais para deixar claro, até porque esse foi o único tema político em cima daquela mesa do mercado: a IL “não vai cavalgar o sucesso eleitoral” do movimento de Rui Moreira. Na noite eleitoral — e se o resultado for positivo — está guardado um “abraço” para os elementos da IL que estão no movimento porque “o mérito é da candidatura de Rui Moreira”.
Por outras palavras: “Uma vitória de Rui Moreira é uma vitória de Rui Moreira, os eleitos da iniciativa liberal serão os eleitos da Iniciativa Liberal.” Cotrim diz até que haverá uma “boleia recíproca” e uma “relação simbiótica” entre IL e movimento. O recandidato à autarquia argumenta que “não há boleias” com nenhumas forças políticas, mas enaltece que candidatos da IL “são excelentes” e o que se pretende “é que o movimento seja agregador”. “Ninguém anda à boleia de ninguém”, diz, sendo interrompido por Cotrim que acrescenta: “Andamos de braço dado.”
O crescimento da IL e o distanciamento do Chega
Questionado sobre a importância de ter Tiago Mayan Gonçalves como candidato a uma junta de freguesia depois do resultado conquista na candidatura para a Presidência da República, Cotrim Figueiredo considera que se trata de um “liberal com provas dadas e que vai mostrar a todos os portugueses que é possível freguesia a freguesia, concelho a concelho, tornar o país mais liberal”.
Tendo em conta que estas são as primeiras eleições autárquicas a que a Iniciativa Liberal concorre, caso Mayan Gonçalves seja eleito será um “marco importante” para a Iniciativa Liberal, assume Cotrim Figueiredo, mas todos os eleitos farão parte da “história da IL”. E Cotrim Figueiredo aproveitou o momento para se distanciar do Chega sem referir o nome do partido liderado por André Ventura: “A IL é o partido que mais cresce baseado em ideias e não baseado em populismo ou polémicas estéreis.”
Se o encontro de amigos se consagrou também é verdade que mais parecia uma visita de médico, tendo em conta a velocidade com que Cotrim apareceu e desapareceu. O líder da IL seguiu para São João da Madeira e a agenda não dá para grandes aventuras, até porque o resultado no Porto parece estar completamente garantido.