O escândalo em torno do príncipe Carlos parece não ter fim à vista. No final de agosto era notícia um alegado esquema de corrupção que incluía pagar para conhecer e jantar com o filho mais velho de Isabel II — com os intermediários a cobrarem comissões de 25% por facilitarem doações de caridade. Dias depois surgiam relatos de que o assessor mais próximo do herdeiro ao trono teria ajudado um magnata saudita a garantir um título honorário após uma doação na ordem dos 1.75 milhões de euros destinados a instituições de caridade com o selo real. Porta-vozes do príncipe garantiram, das duas vezes, que este desconhecia as alegações.

Dado o contexto, eis que surge outra peça de um puzzle cada vez mais complexo: o The Sunday Times reporta que o príncipe de Gales se encontrou com o intermediário no centro do escândalo pelo menos nove vezes nos últimos sete anos — em Inglaterra, na Escócia e também na Arábia Saudita. O futuro soberano encontrou-se com William Bortrick repetidas vezes, o homem que, de acordo com a publicação, recebeu milhares de euros para ajudar a garantir um título honorário para o já referido milionário saudita — foi também ele quem intermediou uma carta de agradecimento pessoal do príncipe destinada a um doador russo.

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Ao longos dos anos, Bortrick — à frente da Burke’s Peerage, uma editora genealógica britânica fundada em 1826 — marcou presença em jantares para doadores com Carlos no papel de anfitrião na Dumfries House, mas também partilhou o mesmo teto com o príncipe em Londres (na Clarence House, no Palácio de St. James e ainda no Palácio de Buckingham). Bortrick e Carlos até se encontraram para um chá na embaixada britânica em Riad.

No verão de 2020, os dois homens foram vistos juntos nos jardins do Castelo de Mey, na Escócia (juntamente com um jardineiro e um curador da Prince’s Foundation). O passeio ganha relevância quando se sabe que, semanas antes, Bortrick assegurara uma doação de seis dígitos vinda de Dmitry Leus em troca de uma reunião com o príncipe, com o intermediário a reclamar para si 5 mil libras para cobrir as “despesas”. Pouco depois desse encontro, Bortrick escreveu a Leus — banqueiro russo que foi condenado em 2004 por lavagem de dinheiro embora mais tarde a decisão tenha sido revertida — a dar nota de uma “excelente visita privada” com Carlos que apreciou a “generosidade” deste. O intermediário chegou a garantir a Leus dois convites para eventos privados nas residências reais de Carlos na Escócia — ambas foram canceladas devido à pandemia e preocupações sobre o passado do banqueiro.

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Também o Mail on Sunday escreve que o príncipe se encontrou com Bruno Wang, que se apresenta como um filantropo chinês e que doou 500 mil libras à fundação do príncipe, Prince’s Foudantion. Wang, segundo a publicação, é procurado em Taiwan por suposta lavagem de dinheiro e por estar fugido à justiça — alegações que o próprio nega.

O escândalo já antes levou à demissão de Michael Fawcett, que até então assumia as responsabilidades de chefe executivo na Prince’s Foundation, criada em 2018 — foi a terceira vez que Fawcett foi forçado a renunciar, embora de todas as vezes tenha sido readmitido numa posição de influência. E ainda na semana passada, também Douglas Connell, presidente da fundação, demitiu-se citando evidências de uma possível “atividade desonesta” e “grave má conduta”.

Questionados sobre se Carlos sabia se Bortrick era renumerado por este trabalho, os representantes do príncipe recusaram comentar e remeteram para o seguinte comunicado: “O Príncipe de Gales não tem conhecimento da alegada oferta de honras ou cidadania britânica com base na doação para as suas instituições de caridade e apoia totalmente a investigação independente agora em andamento pela Prince’s Foundation”.

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Já um representante de Bortrick esclareceu que este é um “apoiante orgulhoso” da fundação e que já introduziu “um sem número de potenciais benfeitores” à mesma entidade. O porta-voz afiançou ainda que Bortrick esteve com o príncipe apenas em contexto de grupo e nunca em privado.