Lucas Hernández é, muito possivelmente, um dos jogadores mais subvalorizados do mundo. O defesa francês mas formado no Atl. Madrid raramente integra as listas dos melhores mas a verdade é que, com apenas 25 anos, já conquistou a Bundesliga, a Taça da Alemanha, a Liga dos Campeões e o Campeonato do Mundo. Para além de tudo isso, os 80 milhões que o Bayern pagou aos colchoneros em 2019, para o encontrar, tornam-no o jogador mais caro da história da liga alemã e, por consequência, da história dos bávaros.

Ainda assim, Lucas Hernández passa muitas vezes entre os pingos da chuva. Numa equipa onde os mais mediáticos Lewandowski, Müller e Kimmich ocupam normalmente as capas dos jornais e os títulos dos artigos, o francês surge numa linha mais recuada em termos de popularidade mas igualmente crucial em termos de peso no plantel. Talvez por isso, Hernández foi o escolhido pela Bundesliga para dar uma entrevista sobre a adaptação ao novo treinador, Julian Nagelsmann, que trocou o RB Leipzig pelo Bayern para substituir o agora selecionador alemão Hansi Flick.

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“É um treinador que conhece o mundo do futebol. Ele sabe como dar-se bem com os jogadores e como gerir os jogadores. A coisa mais importante para um treinador é saber como gerir o grupo. Quando chegas a um clube como o Bayern Munique, onde todos os jogadores são importantes e onde todos já ganharam títulos, a capacidade de gerir o grupo é muito importante. Ele fez isso muito bem desde o início. E é verdade que os treinos com o Hansi Flick era diferentes, começávamos com um aquecimento clássico e depois com exercícios de passe. Agora, os exercícios são mais específicos e nenhuma semana é igual à anterior. Os exercícios que fazemos são baseados no jogo que temos nesse fim de semana e cabe-nos a nós garantir que podemos adaptar-nos aos novos exercícios para estar preparados para o jogo”, explicou o jogador francês, confirmando que o técnico tem uma predileção especial por análise com vídeo e pelas estatísticas.

Esta quarta-feira, o Bayern Munique de Nagelsmann e Hernández recebia o Dínamo Kiev na segunda jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, num jogo a contar para o Grupo E onde também está o Benfica. Na partida inaugural, os alemães derrotaram o Barcelona em Camp Nou e os ucranianos empataram em casa com os encarnados. No Allianz Arena, Gnabry, Sané e Müller apareciam no apoio a Lewandowski, com Süle a ser titular no lugar de Pavard na direita da defesa, e Lucas Hernández também começava de início no eixo defensivo. Do outro lado, o destaque ia para Shaparenko, o número 10 da equipa de Mircea Lucescu que deu muito trabalho à defesa do Benfica há duas semanas.

Contra aquilo que seria mais expectável, o Dínamo Kiev acabou por ter a primeira oportunidade da partida, com Tsygankov a rematar ao lado depois de um cruzamento de Tymchyk (9′). A jogada, feita a partir de uma transição rápida que apanhou o Bayern desposicionado, seria o modus operandi a partir do qual os ucranianos iriam sempre tentar ferir o adversário. O otimismo do Dínamo, contudo, durou pouco. Logo depois da primeira ocasião dos bávaros, com um cabeceamento de Lewandowski para uma boa intervenção de Bushchan (10′), Sydorchuk intercetou o canto consequente com a mão e cometeu grande penalidade. Na conversão, sem hesitar, Lewandowski abriu o marcador (12′).

A vencer, o Bayern foi gerindo a partida sem precisar de acelerar muito e sem permitir espaços ao Dínamo Kiev, mantendo uma pressão elevada e intensa e dominando quase por completo a posse de bola. O segundo golo apareceu de forma natural, com a equipa de Julian Nagelsmann a recuperar na zona do meio-campo, Müller a conduzir e a assistir Lewandowski, que já na grande área atirou rasteiro para bisar e para aumentar a vantagem (27′). Até ao intervalo, Sané ainda acertou no poste (35′) e Neuer teve a primeira intervenção mais atenta depois de um remate de De Pena (41′). O Bayern regressou aos balneários a ganhar de forma confortável, enquanto que o Dínamo Kiev ia realizando um jogo de sacrifício e enorme esforço, explorando sempre o contra-ataque para ainda tentar sair do Allianz Arena com algo mais.

Ao intervalo, Mircea Lucescu mexeu e trocou Shaparenko e Tymchyk por Shepelev e Kedziora. A lógica da partida, porém, pouco ou nada se alterou. Ainda que sem a mesma intensidade nem acutilância, o Bayern foi dominando todas as ocorrências e criando lances de aproximação à baliza do Dínamo Kiev sem permitir grandes aventuras ao ataque ucraniano. Logo depois de cabecear ao lado na sequência de um cruzamento de Alphonso Davies (67′), Gnabry aumentou a vantagem de forma natural: numa jogada que foi uma autêntica masterclass de contra-ataque, Sule soltou para Sané e o alemão abriu na direita em Gnabry, que colocou a sexta velocidade e só parou depois de atirar em força para bater Bushchan (68′).

Depois do terceiro golo, Julian Nagelsmann começou a refrescar e a fazer poupanças e trocou Gnabry e Davies por Musiala e Pavard. Mas Sané ficou — e ficou para fazer um golo monstruoso, num lance em que surge na esquerda e até quer cruzar mas acaba por surpreender o guarda-redes e confirmar a goleada (74′). Até ao fim, Choupo-Moting, que entretanto tinha entrado para o lugar de Lewandowski, ainda finalizou de cabeça um cruzamento de Pavard (87′).

O Bayern Munique goleou o Dínamo Kiev (5-0) e está no primeiro lugar do Grupo E com mais dois pontos do que o Benfica. Os bávaros, que na próxima jornada visitam a Luz, continuam a manter o ADN goleador e de autêntico rolo compressor — Lucas Hernández diz que as semanas são sempre diferentes com Julian Nagelsmann mas a verdade é que este Bayern, independentemente do dia, do mês e até da estação, nunca tira o pé do acelerador e raramente hesita na hora de golear.