Jogou futebol desde miúdo, enfrentou também desde novo graves lesões nos joelhos, começou a tirar um curso de Gestão e Administração, mudou-se para o estudo das Ciências do Desporto, trabalhou como mero ajudante ainda de equipas técnicas, passou a adjunto, subiu a treinador principal, bateu recordes na Bundesliga, já anda a pisar os principais palcos europeus via Champions. Aos 32 anos, Julian Nagelsmann, aquele que um dia foi apelidado de “Mini Mourinho”, já tem algumas histórias para contar. A próxima, essa, quer que seja a chegada do RB Leipzig aos oitavos da Liga dos Campeões. Mas para essa história teria antes de escrever como derrotar o Zenit.

Só existe há oito anos mas já tem outras tantas histórias de ódio: a vida (difícil) do RB Leipzig

Depois da vitória na Luz frente ao Benfica, o RB Leipzig foi surpreendido em casa pelo Lyon e perdeu o fôlego do arranque a ganhar fora que podia ter levado à liderança do grupo. Agora, na terceira jornada, recebia o líder Zenit, com uma vitória e um empate, apostado em recuperar os pontos deixados na Alemanha na ronda anterior e saltar para o primeiro posto à frente de um clube que desde que nasceu foi sempre visto com desconfiança e algum ódio à mistura e que, recentemente, surge mais vezes elogiado pelo trabalho feito na aposta de jovens talentos com uma boa margem de progressão e pelo estilo de jogo ofensivo apresentado. Dois aspetos contra? A onda de lesões no plantel (Tyler Adams, Ibrahima Konate, Patrik Schick ou Hannes Wolf) e a série de quatro jogos sem ganhar.

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Em várias entrevistas, Nagelsmann, que hoje é treinador mas que podia ter interrompido de vez a ligação ao futebol se tivesse aceitado o convite para ser vendedor de carros na BMW, foi colocando Pep Guardiola como principal referência como treinador – além de Thomas Tuchel, com quem trabalhou no Augsburgo. “O do Barcelona”, explicou. “Sempre olhei para o trabalho dele e em particular a forma como a equipa se consegue projetar para a frente numa fração de segundo depois de recuperar a bola”, detalhou, sublinhando também a influência das ideias de Johan Cruyff nesse modelo. E foi isso que o RB Leizpig tentou fazer desde início contra o Zenit, mesmo com dificuldades para travar as transições ofensivas e as subidas pelas laterais dos russos – já depois de ter ficado perto de inaugurar o marcador no primeiro minuto, com Laimer a acertar na trave ainda com Kerzhakov a tocar.

Sabitzer, num lance bem trabalhado com variação de corredores até ao remate na direita, deixou mais uma ameaça à baliza dos visitantes (14′) mas a eficácia acabou por fazer a diferença: na primeira tentativa enquadrada com a baliza, Rakits’kyy aproveitou uma segunda bola no corredor central para arriscar o remate e inaugurar mesmo o marcador para festa dos muitos adeptos russos presentes em Leipzig (25′). Os germânicos continuavam a ter mais posse, maior domínio territorial e a iniciativa de jogo mas havia sempre algo que escapava para chegar ao empate, apesar das tentativas de Klostermann e Timo Werner (em duas ocasiões).

O Zenit vencia pela margem mínima ao intervalo, o RB Leipzig estava obrigado a fazer algo para mudar a tendência do jogo – pelo menos aquilo que se passava no último terço ofensivo. E Nagelsmann mudou naquele que ninguém poderia pensar que ia ser mudado, Timo Werner: o técnico abdicou da principal referência ofensiva e lançou o jovem brasileiro Matheus Cunha. A opção levantava dúvidas. Pensava-se (se calhar com razão) que seria por um problema físico. A verdade é que apenas 15 minutos bastaram para dar razão prática a essa mexida.

Já depois de uma primeira ameaça do brasileiro, com um pontapé de bicicleta que passou perto do poste (48′), Laimer surgiu sozinho na área descaído no lado direito após mais uma grande jogada coletiva (aqui em velocidade, o que nem sempre acontecera antes) e rematou cruzado para o empate (49′). Dez minutos depois, após um centro da esquerda longo ao segundo poste, Sabitzer controlou a bola com o peito e apontou o melhor golo da jornada, com um remate com a parte externa do pé em jeito ao ângulo da baliza de Kerzhakov. Tudo sem que os russos conseguissem sequer uma única incursão com o mínimo de perigo na área dos germânicos.

Osorio, antigo central do FC Porto vendido este defeso ao Zenit, ainda foi lá à frente tentar um remate que saiu por cima da trave de Gulácsi mas nunca o conjunto de São Petersburgo conseguiu ter a reação que permitisse inverter o rumo dos acontecimentos, confirmando-se no final o 2-1 que permitiu a Nagelsmann (que foi fundamental para virar a partida ao intervalo) festejar a primeira vitória de sempre em casa na Liga dos Campeões (no ano passado, pelo também estreante Hoffenheim, teve um empate e duas derrotas na Alemanha na Champions), outro registo histórico em termos de precocidade que só não teve outra expressão porque Matheus Cunha, isolado na cara de Kerzhakov, quis tanto desviar a bola do guarda-redes que acabou por atirar um pouco ao lado (84′).

Com este resultado, e ainda antes do Benfica-Lyon, o RB Leipzig subiu assim à liderança do grupo com seis pontos, mais dois do que o Zenit. O Lyon, com três pontos, pode igualar os germânicos em caso de triunfo na Luz, ao passo que os encarnados, vencendo, entram na luta não só pelo apuramento mas também pelo topo do grupo.