O presidente demissionário da CP – Comboios de Portugal revelou que estão a ser feitos esforços para a CP ser considerada como Administração Pública, e não empresa, para aproveitar mais verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
“Estamos a tentar trabalhar para ver se a CP pode ser considerada Administração Pública e aí teríamos menos dificuldades [no acesso ao PRR]”, disse Nuno Freitas, em audição parlamentar na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, onde foi chamado a prestar esclarecimentos sobre a situação dos salários em atraso aos trabalhadores da limpeza dos comboios.
O responsável considerou que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “poderia ser uma enorme oportunidade” para a CP “se modernizar”, mas, sem saneamento da dívida, não é possível. “O PRR poderia ser uma enorme oportunidade para a CP, para se modernizar, só que a CP tem um problema. Nós andamos a trabalhar muito perto com as entidades — Iapmei, Compete, Ministério das Finanças, da Economia, das Infraestruturas – contudo, como é público, a dívida da CP não foi saneada nestes dois anos e meio, em que fizemos todas as tentativas para que este saneamento da dívida histórica da CP [fosse feito]”, apontou.
O responsável acrescentou que, durante aquele período de tempo, “não foi possível sanear a dívida da CP e o rácio da autonomia financeira da CP, neste momento, não permite que a CP possa concorrer a ajudas desta natureza”. Apesar dos esforços, Nuno Freitas adiantou que as informações que a empresa tem recebido por parte de “algumas entidades” são no sentido de ser considerada uma empresa e, por isso, só poderá concorrer aos apoios enquanto consumidor final, ou seja, terá um acesso mais limitado.
“Ainda estamos a tentar resolver isto, porque de, alguma forma, vão-nos informando [o departamento jurídico] que a CP cai aqui numa zona cinzenta”, apontou.
Nuno Freitas anunciou na terça-feira, numa comunicação enviada aos trabalhadores, que vai abandonar o cargo no final de setembro, três meses antes do final do mandato, após ter pedido à tutela a antecipação da sua saída. Apesar da saída antecipada de Nuno Freitas, com efeitos a 01 de outubro, o Conselho de Administração “mantém-se em funções”, precisou na referida nota, sendo a liderança da empresa assegurada pelo vice-presidente, Pedro Moreira, “até nova nomeação por parte do Governo”.
O ministro das Infraestruturas e da Habitação afirmou que a CP perdeu o melhor presidente de sempre, mas disse compreender a saída de Nuno Freitas, alegadamente devido a problemas burocráticos que dificultam a gestão da empresa.
“Nós perdemos hoje o melhor presidente que a CP já teve em toda a sua história. O engenheiro Nuno Freitas estava a liderar uma revolução na CP, a fazer um trabalho extraordinário, a permitir que o Estado poupasse milhões de euros com a recuperação de material que nós estávamos a fazer. É uma grande perda para a CP, uma grande perda para mim, é uma grande perda para o Estado português”, disse o ministro Pedro Nuno Santos. “Eu conheço as razões do engenheiro Nuno Freitas há muito tempo, não são de agora. É muito difícil gerir uma empresa pública com as regras que nós temos. […] É absolutamente compreensível o desalento do presidente da CP”, acrescentou.