O ministro das Infraestruturas e da Habitação afirmou que a CP perdeu o melhor presidente de sempre, mas disse compreender a saída de Nuno Freitas, alegadamente devido a problemas burocráticos que dificultam a gestão da empresa. E apontou na direção do Ministério das Finanças ao destacar a demora na aprovação de despesas e de planos de atividade e investimento da operadora ferroviária.

“Nós perdemos hoje o melhor presidente que a CP já teve em toda a sua história. O engenheiro Nuno Freitas estava a liderar uma revolução na CP, a fazer um trabalho extraordinário, a permitir que o Estado poupasse milhões de euros com a recuperação de material que nós estávamos a fazer. É uma grande perda para a CP, uma grande perda para mim, é uma grande perda para o Estado português”, disse o ministro Pedro Nuno Santos.

“Eu conheço as razões do engenheiro Nuno Freitas há muito tempo, não são de agora. É muito difícil gerir uma empresa pública com as regras que nós temos. E é muito difícil pedirmos a um grande gestor, homem sério, de grande capacidade de trabalho e de realização, que fique muito tempo numa empresa que não consegue ter um Plano de Atividades e Orçamento aprovado, que tem uma dívida histórica acumulada gigantesca e que não pode ser saneada, portanto retirando capacidade e autonomia de gestão à empresa, que demora meses para ter uma autorização para comprar umas rodas. É absolutamente compreensível o desalento do presidente da CP”, acrescentou.

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Pedro Nuno Santos falava aos jornalistas após a cerimónia de consignação das empreitadas de modernização da ligação entre Sines e a Linha do Sul, no valor de 28 milhões de euros, e da Linha da Beira Alta, no valor de 68 milhões de euros, que decorreu nas instalações da Infraestruturas de Portugal, em Almada, no distrito de Setúbal.

Se dependesse de Pedro Nuno Santos, CP não esperava meses por autorizações (dadas pelas Finanças)

Questionado sobre a origem das dificuldades na gestão da CP, Pedro Nuno Santos assegurou que se dependesse dele o problema estava resolvido, mas, pelo que disse, tudo indica que o problema maior poderá estar na demora das respostas à empresa por parte do Ministério das Finanças.

Se dependesse de mim o problema estava resolvido. Tínhamos um plano Atividades e Orçamento aprovado em tempo, a empresa não esperava meses para conseguir autorização para fazer as compras que são fundamentais para o seu funcionamento, não tínhamos uma dívida histórica, com a dimensão que ela tem, durante tanto tempo sem a resolver”, disse.

Sem nunca referir expressamente o Ministério das Finanças, as declarações de Pedro Nuno Santos têm um alvo claro. O Observador pediu um comentário ao ministério liderado por João Leão, mas não obteve até agora uma resposta.

Desde o tempo da troika que a CP passou a estar dentro do perímetro das contas públicas, devido aos prejuízos crónicos e financiamentos do Estado, contando para o défice. Neste regime, as Finanças têm o poder de controlar as decisões que geram despesa — desde a contratação de pessoal (que no caso da CP esteve anos congelada) aos concursos para novos comboios ou mesmo contratos que envolvem gastos plurianuais. Cabe também ao ministério de João Leão aprovar os planos de investimento e orçamentos da empresa ferroviária e viabilizar soluções para a tal dívida histórica da CP que exigem recursos financeiros avultados.

Ministro vai continuar a “lutar pela ferrovia”

Confrontado com as preocupações manifestadas pelos trabalhadores da CP, Pedro Nuno Santos garantiu que vai continuar a lutar pela ferrovia. “A minha luta pela ferrovia e pela CP vai continuar. Nós estamos a fazer um grande trabalho na CP e isso não é escamoteado, nem é reduzido, pela saída do presidente da CP. Nós vamos continuar a ter uma grande administração à frente da CP e vamos continuar a fazer a revolução a que todos portugueses estão a assistir. Essa revolução na CP continuará a ser liderada por mim”, disse.

“Se há coisa que os trabalhadores da CP sabem todos é que eu estou atento, e que estou ao lado deles. Nós trabalhamos todos os dias, eu trabalho todos os dias, para conseguir que a CP possa funcionar como uma empresa a sério e não um departamento da administração pública. Esse é o trabalho de todos os dias. É um trabalho duro, é um trabalho difícil, mas eu faço-o”, concluiu o ministro das Infraestruturas e da Habitação.

O presidente da CP, Nuno Freitas, vai abandonar o cargo no final de setembro, três meses antes do final do mandato, após ter pedido à tutela a antecipação da sua saída, segundo uma comunicação enviada aos trabalhadores a que a Lusa teve acesso. Apesar da saída antecipada de Nuno Freitas, com efeitos a 01 de outubro, o Conselho de Administração “mantém-se em funções”, precisa, sendo a liderança da empresa assegurada pelo vice-presidente, Pedro Moreira, “até nova nomeação por parte do Governo”.

Antes de assumir a presidência da operadora, Nuno Freitas esteve à frente da Nomad Tech, empresa de tecnologia ferroviária participada pela Alstom e pela Emef, do grupo CP, e da qual também era um pequeno acionista.