Carlos do Paulo, o novo advogado de João Rendeiro,foi porta-voz dos lesados do Banco Privado Português (BPP) há cerca de dez anos e representou o atual treinador do Benfica, Jorge Jesus, que tinha um milhão de euros aplicado naquele banco, noticia esta sexta-feira o semanário Expresso. No entanto, Carlos do Paulo nega ter sido representante dos lesados do BPP e rejeita qualquer tipo de conflito de interesses ou incompatibilidade com o facto de agora defender João Rendeiro.
O BPP foi extinto em 2010, tendo vários clientes do banco sido lesados em milhões de euros. No âmbito do caso BPP, João Rendeiro, que está em fuga da Justiça portuguesa, foi condenado em três processos, entre elas uma condenação a cinco anos de prisão de oito meses pelos crimes de falsidade informática e falsificação de documento, que já transitou em julgado.
Em maio deste ano, o ex-presidente do BPP foi condenado pelos crimes fraude fiscal qualificada, abuso de confiança e branqueamento de capitais. João Rendeiro deveria apresentar-se esta sexta-feira em tribunal, para as medidas de coação serem revistas, mas fugiu do país. Noutro processo, foi condenado a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por crimes de burla qualificada.
Depois de a advogada Joana M. Fonseca e do advogado José António Barreiros terem renunciado às suas funções após a fuga de João Rendeiro de Portugal, conforme noticiou o Observador, a defesa de João Rendeiro está, neste momento, entregue ao advogado Carlos do Paulo, que em 2009 defendia precisamente os lesados do BPP. Numa entrevista à TVI, Carlos Paulo disse que não sabe do paradeiro do seu cliente, que, na sua ótica, “saiu em liberdade do país e não cometeu um único crime”.
Conforme recorda o Expresso, em junho de 2009, Carlos do Paulo foi um dos organizadores do protesto que juntou cerca de 100 clientes do BPP à porta daquele banco em Lisboa, que viria a ser extinto no ano seguinte, com o objetivo de recuperar o dinheiro dos clientes. Na altura, em declarações à Lusa, o advogado dizia que a venda de património do BPP estava a ser feita “de forma camuflada e sub-reptícia” e chegou mesmo a criticar João Rendeiro.
Apesar de ter organizado manifestações e de ter falado em nome dos lesados do BPP, Carlos do Paulo, no entanto, garante que nunca os representou.
“Nunca fui advogado dos lesados do BPP. Fui porta-voz muitas vezes mas nunca os representei formalmente. Falei sempre como cliente do banco e como advogado mas nunca com advogado deles”, afirma Carlos do Paulo”, disse o advogado ao Expresso, garantindo que, na altura, “falava em nome próprio”.
Rendeiro está em fuga. Mas levá-lo à Justiça é mesmo uma missão impossível?
Em declarações ao mesmo semanário, o bastonário da Ordem dos Advogados (OA), Luís Meneses Leitão, disse que “qualquer questão de conflito de interesses deve ser apreciada pelos Conselhos Deontológicos”.
Notícia atualizada às 13h25 com declarações de Carlos do Paulo ao Expresso