Mais um organismo internacional de médicos critica as declarações de Manuel Heitor, ministro do Ensino Superior, sobre a qualificação de médicos de família. Desta vez é a FEMS, Federação Europeia de Médicos Assalariados, que lamenta que o ministro tenha sugerido que “a formação de médicos especializados em Medicina Geral e Familiar deve ser menos exigente do que em outras especialidades”. A federação, que representa médicos de toda a Europa, considera mesmo que as intenções do ministro, se postas em prática, comprometeriam a saúde dos doentes e a qualidade da medicina.

Durante uma entrevista ao Diário de Notícias, Manuel Heitor sugeriu que a formação de médicos de família no Reino Unido não tem os mesmos padrões de qualidade de outras especialidades, abriu a porta à criação de mais três universidades de medicina em Portugal, e argumentou que para formar um médico de família não é preciso o mesmo nível e duração de formação de outros médicos.

As reações foram imediatas. Depois dos médicos portugueses e dos britânicos, foi a União Europeia de Clínicos Gerais/Médicos de Família (UEMO) a rejeitar a ideia de se poder baixar os padrões de formação desta especialidade. A estes, acrescenta-se agora a FEMS — organismo que reúne sindicatos e ordens de médicos e que é um dos organismos do setor com mais força na Europa — que acusa o ministro de “falta de respeito” pelos profissionais de saúde.

Depois dos britânicos, associação de médicos europeus ataca Manuel Heitor

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Esta afirmação é especialmente séria num momento em que a medicina e o desenvolvimento científico evoluíram para um nível nunca antes visto, mostra falta de respeito e conhecimento do que a especialidade de Medicina de Família exige hoje e pode comprometer a segurança dos doentes e da qualidade da assistência”, lê-se no comunicado da federação a que o Observador teve acesso.

Três faculdades de Medicina em 2023? Reitores não se comprometem com ideia avançada pelo Governo

No comunicado, o organismo que é presidido pelo médico português João de Deus, “reafirma a importância da qualidade do atendimento médico e da formação em todos os países europeus”. Por outro lado, lamenta profundamente a declaração do ministro português “que, se posta em prática, representaria um grande retrocesso na qualificação dos médicos e, como consequência, na qualidade da Medicina”.

O que disse Manuel Heitor?

“Se for ao Reino Unido o sistema está diversificado, sobretudo aquilo que é a medicina familiar, que tem um nível de formação menos exigente do que a formação de médicos especialistas”, disse Manuel Heitor ao DN. “A questão é que para formar um médico de família experiente não é preciso, se calhar, ter o mesmo nível, a mesma duração de formação, que um especialista em oncologia ou um especialista em doenças mentais.”

Apesar da exigência de um pedido de desculpas público feito pelo Fórum Médico português — que reúne todas as organizações representativas da classe —, Heitor foi claro: isso está fora de questão. “Não retiro nada do que disse. É preciso formar mais e preciso valorizar todas as especialidades”, argumentou o ministro.