As reações não param. Depois dos médicos portugueses e dos britânicos, é agora a vez dos médicos europeus se insurgirem contra declarações recentes do ministro do Ensino Superior. Durante uma entrevista ao DN, Manuel Heitor sugeriu que a formação de médicos de família no Reino Unido não tem os mesmos padrões de qualidade de outras especialidades, abriu a porta à criação de mais três universidades de medicina em Portugal, e argumentou que para formar um médico de família não é preciso o mesmo nível e duração de formação de outros médicos.

A ideia de poder baixar os padrões de formação de clínicos gerais é rejeitada pela União Europeia de Clínicos Gerais/Médicos de Família (UEMO). A associação, em comunicado, refere que apoia a necessidade de manter padrões de formação rigorosos de médicos de família em toda a Europa e “refuta quaisquer sugestões ou tentativas de reduzir esses padrões, o que colocaria em risco a qualidade dos cuidados médicos prestados aos cidadãos europeus”.

“Se for ao Reino Unido o sistema está diversificado, sobretudo aquilo que é a medicina familiar, que tem um nível de formação menos exigente do que a formação de médicos especialistas”, disse Manuel Heitor ao DN. “A questão é que para formar um médico de família experiente não é preciso, se calhar, ter o mesmo nível, a mesma duração de formação, que um especialista em oncologia ou um especialista em doenças mentais.”

Fórum Médico exige “pedido de desculpas público” ao ministro do Ensino Superior

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Para além da reação de repúdio do Fórum Médico português — que reúne Federação Nacional dos Médicos, Sindicato Independente dos Médicos, Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Federação Portuguesa das Sociedades Científicas Médicas,  Associação Portuguesa dos Médicos de Carreira Hospitalar, Associação Nacional de Estudantes de Medicina e Ordem dos Médicos — também a Associação Médica do Reino Unido (BMA) acusou o ministro de fazer afirmações “incorretas”, passando uma ideia que “prejudica gravemente” os médicos de família britânicos “altamente qualificados.

“O facto de Clínica Geral/ Medicina de Família ter programas de formação robustos e ser reconhecida como uma especialidade na maioria dos países europeus já reflete sua posição de igualdade” em comparação com outras especialidades médicas, argumenta a UEMO.

Médicos britânicos dizem que declarações de Manuel Heitor são “incorretas” e negam que formação de medicina familiar seja mais fácil

Se o Fórum Médico português exigiu ao ministro do Ensino Superior um “pedido de desculpas público”, a Associação Médica do Reino Unido optou por explicar a Manuel Heitor como funciona o sistema. “É completamente incorreto descrever a formação dos médicos de família no Reino Unido como menos exigente do que para outras especialidades médicas”, lê-se no comunicado, no qual a BMA lembra que mesmo os médicos estrangeiros que se mudam para o Reino Unido têm de garantir que satisfazem os “elevados padrões” do Reino Unido para poderem praticar medicina.

“Temos de reconhecer o campo altamente especializado da medicina familiar, e fazer recuar quaisquer sugestões de que os especialistas em medicina geral são de alguma forma menos qualificados do que os seus colegas noutros campos”, termina a nota.